Ovos Santa Maria, a tradição que brilha na serra capixaba
A Ovos Santa Maria é a segunda granja de postura a nascer na região de Santa Maria de Jetibá (ES). Com mais de 2 milhões de aves e três modernas estruturas, é exemplo de sucesso na postura comercial brasileira.
Waldemiro Berger e seus filhos são inventivos, laboriosos e incansáveis. É com essa certeza que a A Hora do Ovo encerrou sua reportagem na Ovos Santa Maria, em Santa Maria de Jetibá (ES), município que é hoje o maior produtor de ovos do Brasil. Ao terminar a intensa jornada com muita informação, entrevistas e fotos, eis que ainda descubro uma das boas ideias do pioneiro Waldemiro. No caminho entre uma unidade e outra da granja, Florencio Berger, um dos filhos do fundador da empresa, apontou-me ao longe uma terceira unidade com equipamentos Zucami, que não visitei. Mas vi, maravilhada, a enorme esteira coberta que passa sob a estrada em que estávamos. “Como assim?”, quis saber do filho de Waldemiro. Florencio sorriu e me explicou que essa foi mais uma das muitas ideias do pai que deram muito certo na empresa.
Com as devidas autorizações governamentais, a família pode construir um túnel sob a estrada para que os ovos dos aviários daquela unidade mais antiga pudessem ser transportados em segurança até a outra propriedade próxima da granja, onde está um dos equipamentos Moba que classificam, diariamente, os ovos do plantel de 1 milhão e cem mil aves brancas W-36, da Hy-Line do Brasil.
Claro que fotografei a proeza, ainda do carro. Vejo muito na avicultura brasileira, mas sempre há muito a ver! E nesta reportagem viajei bastante para ver pela primeira vez um aviário cem por cento climatizado e com um sistema totalmente automatizado. É no moderno modelo Plasson, em que praticamente tudo – exceto a entrada e retirada de aves - é feito de forma automática.
Circulei por parte da impressionante estrutura para conhecer como funciona e pude notar que as aves W-36 estavam bem mais calmas do que estariam num galpão normal. Florencio me garantiu que isso acontece devido à iluminação dimerizada, ou seja, com uma intensidade mais baixa, e que é controlada eletronicamente de acordo com padrões e horários pré-estabelecidos, simulando o nascer e o pôr do sol, de maneira a antecipar a produção de ovos já às 6 horas da manhã, otimizando o uso da classificadora de ovos da unidade: “Não adianta ter uma máquina grande se você não tem volume para alimentá-la”, diz.
Assim como a luz, também ali funcionam automaticamente toda a alimentação das aves, o arraçoamento da ração, a temperatura, a coleta dos ovos e do esterco, a concentração de CO2, as cortinas, o movimento do túnel in door (painéis modulares para controle de temperatura e saída de gases gerados pela amônia presente nas fezes das aves) e os inlets laterais, que permitem a entrada de ar em momentos estratégicos para renovar a qualidade do ar ambiente e equilibrar o uso dos exaustores, economizando energia.
No galpão climatizado modelo Plasson há no total 200 mil aves instaladas em dois pisos, em cinco baterias com 10 andares. Dessa forma, a empresa otimizou o terreno, um aprendizado que os irmãos Berger trouxeram das muitas viagens internacionais que fizeram ao longo dos anos conhecendo granjas pelo mundo. Especialmente na Europa, onde as licenças ambientais são rigorosas para a abertura de novas granjas. E otimizar os espaços é sempre uma necessidade na sinuosa Serra Capixaba, onde está Santa Maria de Jetibá.
Apesar do galpão impressionar por sua estrutura e tamanho, apenas duas funcionárias fazem o trabalho diário, sem a necessidade de estar ali o tempo todo. Isso porque todo o controle é feito automaticamente por um painel localizado numa sala exclusiva para o equipamento e mantida fechada. Há todo um suporte de geradores para garantir que o sistema nunca pare e mantenha funcionando todo o sistema de discadores e alarmes que acionam mais de uma pessoa por celular, havendo sempre alguém da própria família de plantão para atender a qualquer emergência.
Florencio Berger conta que ter aviário climatizado – especialmente o pinteiro – era um dos projetos especiais do pai, e que vê-lo realizado foi importante para a empresa: “Estamos bastante satisfeitos. A climatização é uma das ferramentas que dá um pouco mais de tranquilidade para nós. Nosso galpão é um dos primeiros da América Latina, com 200 mil aves, cem por cento climatizado”. Responsável pelo acompanhamento da estrutura dos aviários, Florencio diz que o diferencial da climatização é a “constância do consumo da ração – média de consumo de 97 gramas por galinha no aviário climatizado. Além disso, há baixíssima mortalidade – num galpão com 200 mil galinhas tem ocorrência de retirada de 15 a 16 galinhas por dia; além, claro, da qualidade do ovo. "Começamos com esse galpão em dezembro de 2020 e entendemos que ele é uma evolução em termos de equipamento”, aponta Florencio Berger.
A marca Santa Maria também está presente no mercado com codornas, com um plantel de 500 mil aves em produção, alojadas em três galpões, com aviários automatizados importados da Espanha, sendo que a recria tem 100 mil codorninhas em equipamentos Kilbra - ambas unidades automatizadas. Os ovos são embalados em três equipamentos Yamasa, numa sala de ovos própria. Essa estrutura A Hora do Ovo não chegou a conhecer, mas tendo em vista tudo o que se vê de cuidado com a empresa, pode-se imaginar que a coturnicultura tem pela família de Waldemiro Berger o mesmo carinho como tudo o mais da estrutura que visitamos.
A HISTÓRIA E A EVOLUÇÃO
Os 56 anos da Ovos Santa Maria, completados este ano, mostram uma história de evolução contínua, num trabalho incessante desde a primeira leva de aves que o pioneiro Waldemiro iniciou quatro anos depois que começou a primeira granja em Santa Maria de Jetibá, iniciada por seu irmão Erasmo.
Reza a história que Erasmo – hoje dono da também respeitada empresa Ovos Pommer – conheceu a avicultura de postura durante curso técnico em Agropecuária que fez em Seropédica, no Rio de Janeiro. Comprou as primeiras 500 galinhas das milhões que hoje povoam a região serrana do Espírito Santo.
Sentindo potencial no negócio avícola, não só pelos ovos, mas pelo esterco que as galinhas produziam e que podia ser utilizado na agricultura local, Waldemiro seguiu o irmão na atividade. E tomou gosto, como se vê. Ao mesmo tempo, ele também foi um próspero empresário do ramo de vendas de rações da famosa marca Purina, tendo sido premiado pela empresa em 1986 como o maior vendedor da marca em toda a América Latina.
De origem pomerana (região histórica e geográfica situada no norte da Polônia e da Alemanha, na costa sul do mar Báltico), como a maioria dos moradores mais antigos da região de Santa Maria de Jetibá, Waldemiro Berger tem a têmpera dos fortes. Ainda hoje circula diariamente pelas unidades das granjas e sua passagem nas salas de ovos da empresa é sagrada. É como se fosse um ritual para se certificar de que tudo está em seu lugar. E sempre está, pois quem sai aos seus não degenera, como diz o famoso ditado popular.
Seus filhos, por ordem de idade - Volkmar (médico veterinário), Alessandra (contadora), Florencio (engenheiro agrônomo) e Karina (médica com doutorado em Endocrinologia, que voltou de São Paulos para assumir um posto na empresa da família após alguns anos) - estão sempre cuidando para que tudo aconteça como precisa e o patrimônio da família se solidifique cada vez mais. E em tempos de crise, como este agora, essa união familiar é mais presente do que nunca.
Em sua entrevista à A Hora do Ovo, Waldemiro não escondeu sua preocupação com os preços altos dos insumos e o momento inusitado em que a pandemia de covid-19 se soma à insegurança com a guerra provocada pela Rússia contra a Ucrânia, gerando consequências mundiais. Mas o que incomoda o empresário mesmo é o preço baixo do ovo diante dos custos altos de produção, uma situação que tem levado vários avicultores de pequeno porte a desistirem da atividade.
No entanto, como bons empresários e até para colaborarem com a atividade, o filho Florencio admite a estratégia de terem aproveitado o momento para, paulatinamente, fazer vazios sanitários periódicos na parte mais antiga da Santa Maria: os doze aviários Zucami, os primeiros automatizados da empresa. “Optamos por reformá-los aos poucos. Assim, estamos fazendo um rodizío de vazio em alguns galpões para manutenções necessárias e bastante importantes”, diz Florencio, deixando claro que isso não levou ninguém ao desemprego. Como a empresa funciona de maneira eficiente e enxuta, os funcionários que atuavam na unidade Zucami foram deslocados para outras atividades. Assim que a postura comercial recuperar sua potência – ela sempre retoma! – os aviários Zucami voltam a rodar em sua capacidade total e a Ovos Santa Maria estará novamente com sua capacidade total: 2,2 milhões de poedeiras em plena postura.
É questão de tempo, ainda que o veterano Waldemiro se angustie, os filhos estão firmes no comando, observando de perto os rumos da atividade. Volkmar, o filho mais experiente na atuação política da atividade, é destacado para estar sempre colaborando nas reuniões de entidades do setor em nível estadual e nacional, circulando nos principais eventos avícolas e reuniões de produtores realizados pela ABPA, a Associação Brasileira de Proteína Animal.
Recentemente, ele participou de uma reunião frente a frente com ninguém menos que o ministro da Economia, Paulo Guedes, sendo, junto com outros líderes, o porta voz de um segmento que clama por ações rápidas na avicultura de postura. Num discurso direto, fez-se ouvir e, se o grupo que representava não ouviu uma resposta à altura do que precisava naquele momento, ao menos saíram da reunião com a certeza de que dessa vez – pela primeira vez – fizeram sua voz chegar direto a uma instância maior e mais próxima do coração do Executivo Nacional. E ouviu, em palavras simples – como é do hábito de Guedes quando fala em português reto - depois de o ministro ler o breve documento que o grupo lhe entregou com reivindicações: “Vou ajudar vocês! Porque, pelo que li aqui, vocês estão em apuros!”.
Todos aguardamos!
EM 2014, A CHEGADA DA MARCA HELLLMANN
Depois dos aviários Zucami, em 2014 chegou a vez do sonhado equipamento Hellmann ser instalado na Santa Maria. Por ser uma marca alemã, reconhecidamente forte, engenhosa e rústica, esse era mais um sonho do patriarca pomerano Waldemiro, posto em prática com realismo, seriedade e aprimoramento.
Foi o que aconteceu, como conta o filho Florencio, para quem a compra se mostou acertada, pois o equipamento é muito resistente, com baixa manutenção, com baixo índice de quebra de ovos nas esteiras. “O ovo é muito bem tratado pelo equipamento”, garante Florencio, explicando como é diferenciada a forma como o ovo é conduzido pelo elevador até a esteira coletora, de maneira muito segura e diferenciada, em que nenhum ovo encosta no outro. Outra tecnologia importante é que a esteira coletora fica fixa – ou seja, não abaixa ou sobe, de acordo com o piso do galpão.
A estrutura Hellmann montada na Santa Maria é composta por sete galpões, cada um com seis pisos, que abrigam um total de 1 milhão e cem mil aves. E um detalhe relevante: tudo é 100% telado, aliás, como nos galpões Zucami. “Logo que surgiu no Brasil a exigência do telamento para termos o registro da granja, já providenciamos, primeiramente nas recrias, depois nos aviários mais novos e até nos mais antigos”, conta, acrescentando: “Tivemos um custo adicional, naturalmente, não foi barato, e as telas exigem uma manutenção e limpeza diárias, mas tem claras vantagens e o impacto sanitário foi bastante positivo. Nosso investimento na telagem coincidiu com uma época de ocorrência de salmonelas e hoje estamos com tudo controlado”, garante.
A granja treinou e mantém funcionários para a limpeza dos aviários e tudo parece muito bem. “Não tivemos mais ocorrência de entrada de animais, como cachorros ou aves maiores, como gaviões e pombas. E até mesmo a restrição de entrada de pessoas alheias ao trabalho, o que foi importante.”
A MSD É A PARCEIRA PARA A SANIDADE
O avicultor e médico veterinário Volkmar Berger explica porque hoje a Ovos Santa Maria utiliza praticamente 80% do portfólio de vacinas aviárias da MSD Saúde Animal: “Hoje, com o programa MSD pudemos otimizar melhor nosso calendário vacinal, tornando-o mais simples, mais enxuto, sem perder em segurança sanitária. Algo que a marca nos oferece em vantagem, pois nos dá segurança vacinal, sem maiores custos. Isso é muito importante: com o programa vacinal da MSD tivemos mais eficiência, com mais economia e menos mão de obra”, explica Volkmar.
Visivelmente satisfeito com a assistência técnica da MSD, Volkmar elogia o suporte que a granja recebe da empresa no dia a dia, sempre que necessário. E outra evidente satisfação é com a garantia de vacinação das pintainhas direto do incubatório com a vacina recombinante, contra as doenças de Marek, Newcastle e Laringotraqueíte. É a INNOVAX® ND-ILT da MSD. “Não precisamos mais nos preocupar com as vacinas vivas, o que é muito importante para nós”, diz Volkmar.
Presente à entrevista feita pela jornalista Elenita Monteiro, da A Hora do Ovo, o médico veterinário Luiz Felipe Moura de Sousa, da equipe comercial da MSD Saúde Animal, explicou que a INNOVAX® ND-ILT é um case de sucesso em granjas de muitos aviários: “É uma vacina recombinante contra as doenças de Marek, Newcastle e Laringotraqueíte que, aplicada direto no incubatório, promove um controle maior dessas doenças, permite flexibilizar programas vacinais, diminuindo aplicações que podem comprometer a produtividade; além disso, traz flexibilidade durante a fase de recria das aves. É uma solução que permite programas de vacinação mais customizados e efetivos ao produtor”, explicou.
MUITOS NEGÓCIOS, O MESMO COMPROMISSO: QUALIDADE
A inteligência de aproveitar oportunidades e crescer faz parte do DNA da família da Ovos Santa Maria. Além do negócio principal, que é a produção e venda de ovos, prosperam também a fábrica de ração animal – com destaque hoje para ração pet -, fertilizantes naturais e a criação de gado de leite e processamento do leite em laticínio, atividade que tem atraído a geração mais nova da família, os netos do fundador Waldemiro.
Entre todos esses negócios, certamente a Nutrivita, a fábrica de rações comerciais conduzida pelo filho Volkmar, desde 1995, é a segunda jóia da coroa do grupo. Tradicional na produção de ração para pequenos e grandes animais, já faz ao menos 10 anos que a Nutrivita é um grande negócio do grupo.
Fundada pelo patriarca em 1976, a empresa conta hoje com equipamento especiais para a fabricação dos diversos tipos de ração – para aves, suínos e pets. A fábrica é automatizada e atende à demanda do Espírito Santo, do Norte do Rio de Janeiro, do Sul da Bahia, chegando até a capital Salvador.
A NutriTerra é a marca de compostagem do grupo. Ela movimenta cerca de 4,5 mil toneladas de esterco por mês, aproveitando o esterco gerado pelas milhões de aves das propriedades. Há muitos anos a Santa Maria aderiu ao conceito de sustentabilidade e passou a processar os dejetos das aves a partir de modernos maquinários. A princípio, importou equipamentos Koshin, depois investiu em equipamentos nacionais adaptando-os às suas necessidades. Como não só a região Centro Serrana capixaba mas todo o Espírito Santo tem grande demada por adubos orgânicos, este tem sido outro bom negócio dos Berger, que é gerenciado por Eliza Berger, esposa de Florencio.
Impressiona também a transportadora para uso próprio que foi montada pelos Berger, com posto de combustível e veículos de diversos tipos para atender a todas as unidades, além de fazer o transporte de ovos diariamente, já que é norma na empresa não estocar ovos na granja. Lá, todos os dias, os ovos seguem frescos para o mercado, seja ele qual for. E, sim, nós pudemos testemunhar que esse compromisso é cumprido. Qualidade é isso.
A MSD Saúde Animal foi a empresa apoiadora da A Hora do Ovo para a reportagem em Santa Maria de Jetibá, na granja Ovos Santa Maria.
(Reportagem e fotos de Elenita Monteiro, publicada originalmente na revista A Hora do Ovo Edição 108 - impressa. Confira a edição, também, neste site: www.ahoradoovo.com.br/revistas)
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