Avicultura de Bastos, desde 1937 transformando o ovo em sucesso
Maior produtor de ovos do Estado de São Paulo, Bastos tem pioneirismo e história na atividade que se destaca no país, com inovações, tradição e muito trabalho.
Bastos voltou a realizar a sua Festa do Ovo no mês de julho de 2022, podendo, com dois anos de atraso involuntário – e inédito na sua história – completar a 61ª edição do evento que é o mais tradicional da avicultura de postura brasileira.
Na cidade, o mês de julho voltou a ter a luz e o nervosismo inerentes à preparação de vários eventos simultâneos que compõem o que se convencionou chamar de Festa do Ovo, mas que vai além dos festejos dos avicultores, na feira avícola, nas palestras da Jornada Técnica, este ano renovada por novas propostas. É uma agenda enorme de eventos paralelos de entidades se organizando para atividades diversas, como a montagem de restaurantes com comidas típicas – como a concorrida barraca da Omelete -, apresentações culturais da comunidade de descendência japonesa – um traço de sua fundação há 94 anos; a prefeitura envolvida na recepção de autoridades políticas e nos shows populares.
Todo esse frenesi que o visitante da Festa do Ovo vê é o pulsar mais forte dessa terra que nos anos 1930, depois de muito pelejar com a agricultura, começou a descobrir sua real vocação: a produção de ovos.
Conta a história que, em meados dos anos 1930, uma primeira família comprou um lote de 200 aves já pensando em experimentar a atividade. Era a família do japonês Kisuke Watanabe – que dá nome ao Recinto de Exposição da Festa do Ovo. Não demorou muito para que Kisuke e sua esposa Kiwa Watanabe entendessem que a produção de ovos era boa para as finanças. Em 1937, a colonizadora Bratak decidiu levar a experiência adiante, montando uma granja experimental para preparar matrizes e distribuir aos colonos.
Nascia ali uma história profícua que deu a Bastos o título de Capital do Ovo por décadas (e oficialmente pelo Governo do Estado de São Paulo) devido a números impressionantes não só de produção de ovos, como de geração de emprego, arrecadação de impostos, oportunidades de novos negócios paralelos para apoiar a avicultura.
Trata-se de um negócio que já há muito não se restringe à estreita faixa territorial do município. Com pouca terra local disponível, ao longo dos anos a avicultura bastense foi se expandindo para cidades vizinhas, como Rancharia, Tupã, Iacri, Rinópolis e Pompéia. E o natural desenvolvimento da atividade – que foi se sofisticando – estimulou a instalação de empresas, serviços e tecnologias diversas para atender às granjas de postura.
Das primeiras empresas de gaiolas em madeira nos anos 1950 – que permitiu confinar as galinhas, melhorando aspectos sanitários e facilitando a coleta de ovos – até as fábricas de aviários sofisticadíssimos e climatizados dos dias atuais, muita água do Rio do Peixe passou pela ponte que separa Bastos de Rancharia.
E é em Rancharia, por exemplo, há 43 quilômetros de Bastos, que está instalada hoje a mais nova unidade de produção da família do avicultor Lauro Morishita, com um projeto moderno, um equipamento Moba para classificação de ovos e aviários totalmente automatizados e climatizados produzidos pela Artabas.
“BASTOS TEM HISTÓRIA PARA CONTAR NA AVICULTURA DE POSTURA"
A modernidade sempre esteve na trajetória da Granja Morishita. O fundador Yoshiharu soube dar os passos certos ao longo de seus 60 anos de atuação na avicultura de Bastos. E a marca de seu legado é justamente a capacidade de investir certo na hora certa, com traços de modernidade.
Seu filho Lauro Morishita segue a mesma cartilha, o que significa estar atento ao mercado e investir buscando sempre tecnologias adequadas para o momento. E, como o pai, Lauro planeja e executa sem exageros, na medida certa.
As granjas da família, hoje, são um retrato desse cenário. São três unidades, duas no vizinho município de Tupã e uma unidade em Rancharia. Em Bastos, município onde os Morishita fizeram sua história, está o escritório da empresa e os aviários de cria e recria.
O sistema de produção das granjas Morishita conta com uma parte ainda convencional, mas a grande maioria do plantel já está alojada e produzindo em aviários automatizados. Mesmo os sistemas convencionais já contam com automatização na distribuição da ração, mantendo apenas parte da coleta de ovos em sistema manual. “Mas a nossa intenção é contar com tudo automatizado”, diz Lauro Morishita, que, assim como a maioria dos avicultores bastenses de sua geração, estudou fora e voltou para assumir os negócios da família na década de 1990.
Com uma administração bem gerida, e já com o apoio do filho mais velho Felipe, de 26 anos, Lauro tem também a colaboração da esposa Tiyoko na direção financeira. Ele conta que atualmente, devido à crise gerada com a pandemia de Covid-19, as propriedades não estão produzindo em toda a sua capacidade. “Estamos com aviários vazios ainda, devido à redução de alojamentos para atender à crise que se instalou nesses dois anos. O mercado não estava bom, viemos descartando aves, por isso a capacidade de produção ainda está controlada para baixo”, explica Lauro.
Ele conta que, desde que assumiu a granja da família, tem um sonho de automatizar tudo. Em 1999, já, Lauro começou a regar seu sonho e deu início à montagem dos aviários automatizados, o que levou alguns anos para ser implantado totalmente, sempre baseado na prudência. “Fui fazendo por etapas, ampliando os aviários e, ao mesmo tempo, aumentando os depósitos de ovos para atender a essa demanda.”
Era o projeto de sua vida. Hoje, são 19 aviários automatizados, com 50.000 aves cada. A granja de Rancharia é a mais nova e, portanto, a mais moderna também. A sala de ovos, tinindo de nova, conta com um equipamento Moba, que está operando há seis meses. Para essa unidade, Lauro conta que está projetada a construção de 16 aviários, sendo 12 já prontos para 2023, segundo o planejamento. Nove aviários já estão prontos e três estão em construção.
São aviários verticais e totalmente climatizados, a maioria deles com o selo da Artabas, a empresa bastense que fabrica equipamentos para a avicultura há mais de 50 anos e que hoje é associada à italiana Facco. “Bastos tem tradição, tem história para contar na avicultura de postura e isso muito orgulha a todos nós, avicultores, industriais e comunidade”, diz o avicultor.
Como o pai, Lauro gosta de olhar para o mercado atual e vislumbrar mudanças para o futuro. As mudanças que vêm desenhando um novo cenário para a postura brasileira, segundo ele, têm sido fundamentais para que os negócios da família sigam em frente, seja corrigindo rotas ou reestruturando ideias, sempre evoluindo, como deve ser a trajetória dos que se dedicam a um negócio tão desafiante como a avicultura de postura.
E disso, os bastenses entendem bem.
"NÓS CAMINHAMOS CONFORME A NECESSIDADE DO MERCADO"
Na família de Paulo Ueyama não é diferente. Foi graças a muita seriedade nos estudos em agronomia e um bom tanto de sacrifício atuando como dekassegui no Japão, na década de 1990, que o jovem Paulo, obstinado, conseguiu colocar em prática seu plano: transformar a granja da família em um negócio de sucesso, mais moderno e com futuro pela frente.
Filho de Kishiro e Fumiko Ueyama, tão logo pôde voltar a Bastos, Paulo passou a trabalhar com o pai na pequena granja da família. Eram os anos 1990, período em que um grupo de jovens da segunda e terceira geração de avicultores buscava implementar algumas mudanças no segmento em Bastos, dando os primeiros passos do que hoje se conhece como a moderna avicultura de postura.
“Meu pai tinha granja pequena, algo em torno de 15 mil galinhas”, relembra Paulo, que voltou do Japão onde passou oito meses trabalhando como dekassegui, trabalho com o qual economizou dinheiro para comprar uma pequena área de terra ao lado da propriedade da família. Assim, ele uniu o pioneirismo do avô Akihiro Ueyama à experiência do pai e iniciou um novo tempo na Granja Ueyama. “Eu pensava que era preciso crescer. E construir um rancho convencional nessa época era uma grande vitória”.
E foi o que o jovem avicultor fez, investindo na montagem de aviários californianos, modelo que se mantinha em todas as granjas do município e que, ainda hoje é possível ver em diversas propriedades de Bastos.
Em 2011, o cenário começou a mudar e a granja iniciada pelo avô lá atrás e assumida pelo pai em 1965, começou a ser redesenhada. Foi nesse ano que a Granja Ueyama inaugurou seus primeiros aviários piramidais, os primeiros automatizados. “Tínhamos a ideia de aumentar a produção e, nesse sentido, era preciso investir em tecnologias mais avançadas da época. Já não dava mais para crescer sem a automatização”, conta o avicultor, que hoje ainda utiliza aviários convencionais na granja. Os primeiros californianos ele mantém sem uso, como uma memória afetiva de um tempo em que tudo era mais difícil, tanto em recursos quanto em manejo e tecnologias.
Hoje, os números de produção demonstram como o tempo passou e o cenário avícola de postura mudou completamente. Dos primeiros galpões piramidais, cada um com 50 mil aves alojadas, hoje é possível contabilizar o tamanho da evolução. A capacidade dos galpões automatizados, apontam para 1.2 milhão de aves, embora nem todo esse número esteja alojado hoje, devido à crise que a avicultura atravessa.
Na mudança dos tempos, a nova geração chegou para assumir e dar os primeiros passos numa avicultura que está totalmente mudada, mas que, em Bastos, significa passar o bastão para os filhos. O avicultor hoje já conta com a presença do filho Akio, de 26 anos, que também fez agronomia e há três anos está atuando nas granjas da família. O filho Rafael logo estará formado e poderá assumir sua parte nessa história que não para de ser contada.
Paulo continua acreditando no poder dos negócios feitos em família. Sempre teve ao lado a esposa Alice, que é responsável pelo setor financeiro da granja. Ele vê o mercado como um balizador das necessidades que o avicultor vai suprindo, conforme evolui. “Nós caminhamos de acordo com as necessidades do mercado”. Para ele, estar sintonizado com o que vai pelo mundo da avicultura é ficar atento aos bons fornecedores de matéria prima para a produção de ovos, seja de empresas de nutrição, de vacinas ou de tecnologias para equipamentos.
Ele segue em frente, evoluindo com o segmento, mas não esquece de quanto foi desafiador ser avicultor lá atrás.
AVICULTORES BASTENSES PRODUZEM 11,5% DA PRODUÇÃO NACIONAL
São cases como esses, dos Morishita e dos Ueyama, que tornaram possível números e resultados positivos para as granjas de Bastos. As granjas do perímetro do município são responsáveis hoje por 6,1% de toda a produção brasileira de ovos. E se forem somadas à produção das filiais de avicultores de Bastos, localizadas em outras regiões e municípios paulistas, os índices quase dobram, chegando a 11,5% de toda a produção nacional.
Os dados são do Instituto de Economia Agrícola do Estado de São Paulo, de acordo com informações que constam no site do Sindicato Rural de Bastos, entidade fundamental para a organização institucional e política do segmento, que tem na presidência Katsuhide Maki, um avicultor bastense dos mais tradicionais.
Desde 2021, Maki conta com o apoio, na direção executiva, da jovem avicultora Cristina Nagano Yabuta, que tem uma história diferenciada na avicultura local. De uma família de empresários do ramo de comércio por atacado no Pará, Cristina foi destacada para assumir a direção da granja que sua família arrendou da Família Mizumoto, em Bastos. A intenção era produzir os ovos especificamente para enviar ao Pará. Ela gostou do desafio e acabou comprando sua própria granja.
Hoje, Cristina já é da terra, casou-se e formou família com o também avicultor Fábio Hideki Yabuta. Ele é da terceira geração da granja da Família Yabuta e junto com irmão, tios e primos, apoia o patriarca Osamu Yabuta, reconhecido em todo o Brasil por sua capacidade gerencial. Atualmente, além da granja pioneira em Bastos – fundada em 1947 -, a Família Yabuta tem unidades na região e em três outros estados brasileiros, e é considerado um dos maiores produtores de ovos do Brasil.
Formado em engenharia agronômica na ESALQ de Piracicaba (SP), Fábio Hideki Yabuta herdou do pai a seriedade e comprometimento com o negócio da avicultura. E isso está expresso no material de divulgação da respeitada marca Yabuta: “Com essas unidades conseguimos atender nossos clientes com produtos de qualidade em todas as regiões do território nacional onde criamos uma completa linha de produtos para atender aos mais exigentes mercados, desde ovos de galinha a granel e embalados, ovos especiais com alto teor de ômega 3 e vitamina E, ovos de galinha caipira e até ovos de codorna. Todos esses produtos são produzidos atendendo às mais rigorosas normas de inspeção sanitária e são auditados frequentemente pelo Serviço de Inspeção Federal.”
A primeira propriedade do grupo foi fundada em 1947 por Rokunosuke e Fusai Yabuta, avós de Fábio, com 300 aves alojadas em um barracão com cobertura de sapé, “numa história marcada por uma trajetória de pioneirismo e muito trabalho”, conforme destaca o folder da empresa. Hoje, a empresa tem, somando todas suas unidades, 10 milhões de aves, de acordo com dados do World's Top 25 Egg Producers (do Poultry Trends).
"EU TIRO O CHAPÉU PARA OS AVICULTORES DE BASTOS"
Ser avicultora em tempo integral, casar-se com um bastense e formar uma família na região Oeste do Estado de São Paulo não estava nos planos da jovem paraense quando chegou a Bastos em 2004. A ideia era administrar a granja que a família havia arrendado no interior de São Paulo, e ponto final. Dezoito anos depois, Cristina Nagano Yabuta não só vestiu a camisa da avicultura bastense, como se tornou uma moradora de Bastos com família constituída, muitos desafios à frente de uma granja própria e a função de diretora executiva do Sindicato Rural de Bastos.
Liderando a organização de uma nova e redesenhada Jornada Técnica, dentro da programação tradicional da Festa do Ovo (SP), Cristina confirma que “abraçar a avicultura de Bastos” se tornou um importante desafio para a sua vida. “Definitivamente, tudo isso não estava no meu script”, brinca a avicultora, desde 2008 residindo definitivamente no município que hoje tem a maior produção de ovos do Estado de São Paulo e é o segundo maior produtor de ovos do Brasil.
A avicultora conta que sempre brinca com a ideia de ter sido “fisgada” pela avicultura bastense com uma certa dose de “ingenuidade”. “Esse traço, acredito, fez com que eu achasse que dava conta do desafio. De fato, eu dei conta. Mas não foi fácil. Foi tão difícil como me alertaram que iria ser". Cristina se refere aos muitos alertas e conselhos dados à época por avicultores experientes quando chegou do Pará. Disseram que seria difícil, que a atividade exigia muito e nem sempre dava o retorno esperado. Os alertas, que a jovem tomava como se fossem desestímulos para que deixasse a atividade, hoje são considerados pela experiente empresária como conselhos de quem já vivia as dificuldades do segmento há, pelo menos, três gerações na avicultura de postura.
“Hoje eu entendo o que os avicultores experientes queriam me dizer na ocasião. Era um grande desafio de fato. A avicultura de postura é isso mesmo, um desafio. Aliás, produzir no Brasil é um grande desafio sempre”, considera Cristina.
Essa experiência pode ter sido importante para que a avicultora assumisse a posição estratégica no Sindicato Rural de Bastos, entidade na qual hoje ocupa o cargo de diretora executiva desde 2021. “Esse trabalho faz a diferença para o avicultor, que vê você ali na luta, brigando pelo segmento, e isso promove a união e a busca por soluções". Compondo a equipe da gestão eleita para dirigir a entidade até 2023, a avicultora colaborou para elaborar uma nova ideia para a tradicional Jornada Técnica promovida pela entidade há 43 anos. O evento, que acontece dentro da programação da Festa do Ovo de Bastos, ganhou, assim, novo formato, nova sede para receber ainda mais avicultores e uma programação com conteúdo mais abrangente para o segmento.
Segundo Cristina, a ideia principal foi unir de forma mais efetiva o avicultor à cadeia avícola de postura, levando-o a participar dos eventos e da própria agenda técnico-científica e política de forma a compartilhar com os demais elos da cadeia produtiva o conhecimento e se atualizando nos negócios, ficando, assim, ainda mais próximo de seus fornecedores.
A nova Jornada Técnica de Bastos reflete muito da nova política de atendimento, entendimento e união do avicultor por parte do Sindicato Rural de Bastos, entidade oficial dos avicultores da região de Bastos e realizadora da jornada há 43 anos. “É essa aproximação, tanto dos produtores, como dos fornecedores, nossos patrocinadores, que buscamos espelhar em nossa nova jornada". Unir o avicultor e trabalhar para que o segmento cresça, se fortaleça e siga evoluindo são desafios grandiosos para as próximas décadas em Bastos (SP).
Com uma granja de 250 mil aves em produção atualmente – com capacidade para alojar até 300 mil aves -, a avicultora diz que a postura é diferente das demais cadeias de produção de proteína animal no Brasil. “É uma cadeia complexa e completa. O avicultor de postura acompanha todos os processos, ele cuida da cadeia toda de produção de ovos, da compra do pintinho ao processamento dos ovos, da fabricação da ração à comercialização do produto final. Os outros empresários de produção animal não têm a cadeia toda para administrar, como nós, da postura.”
E conclui: “Eu digo sempre que, quanto mais eu conheço a atividade, mais eu tiro o chapéu para os granjeiros de Bastos, de raiz mesmo, que já vêm de gerações tocando isso. Outra dificuldade: você suceder isso. Com toda a dificuldade, treinar essa geração para suceder não é fácil”, reconhece a avicultora, que se casou com um avicultor bastense em 2011, mas ambos mantêm seus negócios administrados de maneira distinta. “Cada um com sua granja”, diz ela.
“A AVICULTURA DE BASTOS É PIONEIRISMO, TRADIÇÃO E FAMÍLIA
Pioneirismo e muito trabalho também marcam a história da Granja Shida, que hoje é um exemplo de empresa moderna e que, com muito trabalho e dedicação, se tornou uma das conceituadas empresas da região.
“A avicultura de Bastos é pioneirismo, tradição, é familiar. É a economia da cidade”, declara o avicultor Inácio Shida, cheio de orgulho por pertencer a essa “família” da avicultura bastense. Como seus colegas de profissão, Shida carrega consigo a missão dos bastenses que construíram essa atividade há, pelo menos, oito décadas.
Membro da terceira geração de avicultores da família, Inácio Shida praticamente desenhou para si uma história de dedicação à postura. Em contato com o segmento, desde criança desenhava aviários no papel, já sonhando em fazer parte desse cenário de produção de ovos. E do desenho se fez a realidade. Hoje, Inácio administra uma verdadeira indústria de ovos, investindo fortemente na produção com qualidade e foco no produto. “Minha família já veio do setor avícola. Meu avô, meu pai, e eu, desde cedo, comecei a ajudá-los. Gostava da atividade”, conta Inácio.
O avô, Hyoji Shida, começou uma granja na década de 1960. O pai, Ei Shida, hoje aos 92 anos, passou a dirigir seu próprio negócio, montou uma granja e pôde contar com a ajuda do filho na década de 1990.
O jovem Inácio, então formado em agronomia, voltou a Bastos e se engajou no trabalho da granja da família. Ele estava com 21 anos. Foi quando começou a pôr em prática seu sonho de infância, assumindo definitivamente a granja. "Sempre tive interesse pela avicultura, desde criança”, reafirma o avicultor, que hoje conta com três unidades produtoras em Bastos.
“Em 2001, construímos uma nova fábrica de ração, que foi determinante para nossa ampliação e crescimento. Em 2007 começamos a investir na automação, com sistemas verticais e climatizados.”
Totalmente envolvido com a avicultura e compondo o time de avicultores da nova geração bastense, Inácio já entendia, então, a importância da avicultura para Bastos. “A avicultura de Bastos é uma herança de gerações, um legado que faz forte a economia do município e da região”, salienta o avicultor, lembrando que essa economia faz girar indústrias de ovos, de gaiolas, mecânica de veículos, caminhões, mecânica avícola, comércio hidráulico e de construção, entre muitos outros negócios no município. É o motor da vida bastense.
“A avicultura de Bastos é inovação; tudo que é lançado é testado antes aqui”, destaca Inácio, lembrando ainda a importância que o segmento tem para toda a comunidade, gerando empregos, mão de obra especializada e divisas para o município. E tão importante quanto tudo isso, salienta o avicultor, é a origem da atividade, sempre ligada à família, à sequência dos trabalhos de pais para filhos. “A atividade vem de gerações, tem história, tradição e continuidade, e nós, avicultores, temos essa responsabilidade de prosseguir, honrando a memória e o legado de nossos avós, pais e antepassados”, conclui.
“ESSE É O NOSSO NEGÓCIO. COM DESAFIOS, SEGUIMOS NA AVICULTURA"
Nelson Higashi e seus irmãos Keiji e Marco Dan, da Granja Higashi, jamais se esquecerão do último Concurso de Qualidade de Ovos de Bastos realizado em 2019, antes da pandemia de covid-19. E não tem por que esquecer, já que a granja da família faturou, nessa edição, os dois títulos do concurso, levando para a casa o campeonato em ovos brancos e o campeonato em ovos vermelhos.
O fato, inédito na fase moderna do evento, foi comemorado com grande alegria pela família, que também se dedica à produção de codornas e já conquistou, também, títulos nessa categoria no concurso de Bastos. Essas conquistas se somam aos resultados obtidos pela Granja Higashi em seus 57 anos de dedicação à avicultura de postura em Bastos. A granja, hoje conduzida pelos irmãos Nelson, Keiji e Dan, começou pelas mãos do pai, Macoto Higashi, que começou como a maioria dos avicultores de Bastos, com poucas aves, de olho no esterco para a lavoura e tendo a família como suporte para a condução dos negócios.
Em 1982, Nelson assumiu a propriedade e, de lá para cá, conforme evoluiu a avicultura de postura no país, a Granja Higashi seguiu seu curso, mantendo sempre o fio da meada da tradição do município: caminhar de acordo com o mercado, mas ter os pés no chão, pois se tem algo de que os avicultores bastenses entendem – além de produzir ovos -, é enfrentar os desafios e crises por que sempre passa o segmento de postura.
Embora os avicultores bastenses sigam pela cartilha da história e da tradição familiar, cada núcleo investe de forma diferente e busca um caminho particular para investir e seguir evoluindo no segmento. Na Granja Higashi, explica Nelson, a ideia é não automatizar os aviários, mantendo a produção totalmente inserida no convencional.
Hoje, a Granja Higashi tem um plantel total de 240 mil aves, entre recria e postura. São 200 mil aves em produção, sempre de olho na sanidade, no bem-estar animal e na qualidade do ovo, produto do qual tanto a família se orgulha quanto o município se empenha em manter como divisa.
Outra característica de Bastos -, a comercialização de ovos por atacado - se mantém também na preferência da Granja Higashi. Os ovos com a marca da granja abastecem São Paulo, capital e interior, parte da região Nordeste nos municípios de Juazeiro e Petrolina, em Pernambuco; e Minas Gerais.
Nelson conta que produz ovos brancos - 75% da produção da granja - e ovos vermelhos, estes, representando 25%. “Vamos aumentando a produção conforme a necessidade do mercado”, explica Nelson, demonstrando mais uma característica do avicultor bastense: o comedimento e o passo do tamanho das pernas dado conforme exige a prudência da cultura japonesa, forte na região.
Espaço para crescer não falta na propriedade, e isso está nos planos dos Higashi. No entanto, a ideia é se manter nos aviários californianos, que ele e os irmãos julgam mais simples para o manejo e com menor custo.
Nascido e criado no segmento de postura, Nelson confirma que é preciso muita dedicação para se alcançar resultados na postura comercial, um segmento que para ele está afeito a frequentes “tempos ruins”. As crises estão sempre à espreita, o setor é difícil, diz, mas os irmãos Higashi não pensam em se dedicar a outra atividade. “Esse é o nosso negócio, gostamos dele e, apesar de difícil, seguimos”, indica Nelson. E depois, conclui o avicultor, Bastos tem know-how de crises. Não foi uma nem duas vezes que a avicultura bastense passou por crises que foram respondidas com a resiliência, a persistência e a dedicação dos produtores.
TRANSFORMANDO OVO EM SUCESSO
Esses seis perfis de produtores que A Hora do Ovo traz registram uma pouco de como o município - que é o mais tradicional produtor de ovos do Brasil - conseguiu atravessar tantas crises na atividade: foi com muita seriedade, estudo e persistência, características que permanecem e são transmitidas às novas gerações, porque isso está fixado nas mentes e almas desses descendentes de japoneses que souberam fazer do fracasso inicial do sonho de produzir café nas terras inférteis que encontraram, um sucesso que há décadas não para de crescer: a avicultura bastense.
E ela cresce além das próprias fronteiras geográficas. Tem sido assim desde sempre. Hoje, não só pela dificuldade de encontrar terras dentro do pequeno município: é também por motivos logísticos – ficar mais próximo da produção do milho; razões sanitárias - evitar maior intensidade populacional de aves numa só região; e estratégias comerciais – estar em regiões geográficas importantes para entregar ovos em vários pontos de venda de forma mais rápida, com custos menores e podendo acompanhar melhor a rede de distribuição dos produtos.
Com isso, a expertise da produção de Bastos se propaga, gera empregos e impostos em mais localidades do país e amplia o mercado para a imensa cadeia de produção que existe para dar suporte à postura comercial.
EXPORTANDO PROSPERIDADE
Quanto, então, está sendo produzido de ovos por avicultores de Bastos fora de Bastos? Essa é uma pergunta que não se responde ainda, mas para cada microrregião que tem a sorte de ter um investimento de um empresário avícola bastense, a resposta é que Bastos está produzindo prosperidade para inúmeras famílias, com empregos, conhecimento, oportunidades de novos negócios paralelos para atender às granjas. Mais que ovos, cada granja dessas leva desenvolvimento às comunidades onde se instala, um bem incalculável.
Para exemplificar o impacto econômico da postura comercial, voltemos aos dados fornecidos pelo Sindicato Rural de Bastos em seu site: “Em todo o Brasil, no ano de 2019, o setor produtivo de ovos empregou de forma direta 59.889 pessoas. Em Bastos, cidade que possui 20.953 habitantes, são gerados de forma direta 2.582 empregos. Conforme o último levantamento do IBGE, o número de pessoas ocupadas no município de Bastos, em 2019, era de 5.213, ou seja, 49,5% dos empregos disponíveis no município vêm da avicultura de postura, sem contar com os empregos indiretos que movimentam a economia local.”
Esses dados do IBGE mostram, por si, o imenso impacto da avicultura de postura no potencial de empregabilidade numa comunidade. Benditos para sempre os pioneiros que tiveram a coragem de apostar, nos anos 1930, numa atividade que poucos valorizavam à época: a criação de galinhas poedeiras.
Sem saber, estavam ali desenhando o futuro de gerações à frente. Não só as gerações de Bastos como de tantas outras famílias paulistas, goianas, matogrossenses, sul-mato-grossenses e tocantinenses que passaram a estar envolvidas com a expertise do avicultor bastense em transformar ovo em sucesso.
(A HORA DO OVO. Texto: Elenita Monteiro e Teresa Godoy, publicado originalmente na revista A Hora do Ovo Edição 111).
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