Incubatórios do Grupo EW iniciaram ajustes de produção já em 2020

Incubatórios do Grupo EW iniciaram ajustes de produção já em 2020

Com alta dos grãos e a crise da pandemia, Hy-Line do Brasil, Planalto Postura, H&N e Lohmann do Brasil já vêm ajustando a produção de pintainhas desde outubro.

Ovonews

maio 11, 2021

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As empresas Hy-Line do Brasil, Planalto Postura, H&N Avicultura e Lohmann do Brasil anunciaram em primeira mão a A Hora do Ovo que desde outubro e novembro de 2020 já haviam iniciado a redução de seus planteis de matrizes de poedeiras. Obviamente não porque não estivessem motivados a vender pintainhas. A ideia sempre foi evitar o que já anteviam como uma crise no mercado da postura comercial: granjas com alta produção, mas operando no prejuízo devido às altas constantes dos insumos, especialmente milho e farelo de soja. É esse, infelizmente, o cenário atual.

A informação da redução da produção da oferta das linhagens do grupo EW foi dada a A Hora do Ovo em entrevistas individuais e a pedido da jornalista Elenita Monteiro, editora fundadora da revista. Ela procurou os executivos de cada empresa do Grupo EW depois da matéria que este site trouxe em 14 de abril com o anúncio de que as empresas Hisex, Dekalb e Mercoaves – ligadas ao grupo Hendrix Genetics – decidiram reduzir seu plantel de matrizes a partir de maio (veja matéria publicada com exclusividade: Incubatórios de linhagens Hendrix vão reduzir plantel de matrizes ).

Ao aprofundar-se no assunto, a jornalista ouviu que os efeitos negativos que a pandemia pelo novo coronavírus provocou no agronegócio brasileiro e no mundo estão calcados principalmente na expressiva alta dos preços do mix de produtos que compõem a ração das aves. Que, sim, estão cada vez mais altos, principalmente pela disparada no preço do milho e farelo de soja. Ainda que a demanda por ovos se mantenha – já que o consumidor se acostumou a consumir mais ovos – não há como repassar todos os custos ao comprador final tendo em vista a crise financeira estabelecida com a pandemia.

Assim, há pelo menos um ano o produtor tem amargado prejuízos por caixa de ovos que oscilam, mas nunca empatam. Ou seja, pode aumentar ou diminuir a margem de prejuízo por caixa de ovos de 30 dúzias vendidos no atacado, mas não há notícia de que tenha equilíbrio de preços. Pior, não há notícia de lucro real por caixa de ovos vendido nesse tempo todo. Dessa forma, estabeleceu-se uma crise crônica no segmento, na qual o grande produtor se equilibra - pois tem estoques de grãos ou consegue fazer compras com algumas vantagens -, o médio e o pequeno produtor sofrem imensamente. Tanto que alguns têm optado por desativar parcialmente os galpões. E já há relatos de granjas fechadas por impossibilidade de manutenção do negócio.

NA HY-LINE DO BRASIL

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Júlio: conversa com clientes


A primeira empresa do Grupo EW a dar o sinal vermelho no Brasil e a recuar nos planos de ampliar o plantel em 2021 foi a Hy-Line do Brasil. Júlio Archangelo, diretor comercial, disse a A Hora do Ovo que as constantes reuniões virtuais com colegas da Hy-Line Internacional da América Latina e da Europa levaram a muita troca de informação durante a pandemia, desde seu início. E foi ficando claro que uma crise se avolumava no mercado em nível mundial devido à disseminação da Covid-19, com diversos contornos comerciais de acordo com o país. Na América do Sul, logo ficou clara a questão do custo de produção na avicultura, e no Brasil essa realidade foi ficando cada vez mais grave.

“Durante alguns meses do segundo semestre de 2020 ainda acreditamos que tudo poderia se equacionar com a alta dos insumos, como aconteceu em outros anos de crise, mas conforme a pandemia foi ficando fora de controle logo entendemos que dessa vez não seria assim. E fomos entendendo que eram necessários ajustes nos alojamentos já a partir de outubro de 2020, em função da necessidade de equilíbrio de custos internos de produção e otimização das operações. E mesmo correndo risco de não poder atender a todos os clientes, o que chegou mesmo a acontecer”, conta o diretor comercial da Hy-Line do Brasil.

De acordo com ele, a empresa já vinha procurando dar a mensagem aos clientes de que os insumos estavam ficando muito altos, que a cadeia não estava dando conta e que seria necessária uma redução no plantel. “Houve muitas conversas com clientes, muitos nos ligavam pedindo informações de mercados e nunca omitimos a realidade. Temos que ter responsabilidade com o cliente, principalmente quando ele nos pede opinião sobre investimento em seus novos projetos. Precisamos indicar que esse não é o melhor momento para ele ampliar”, aponta, com o pragmatismo que caracteriza a Hy-Line do Brasil. Ele tem uma certeza: “O mercado só vai melhorar depois de passada a pandemia.” 

A cautela é o mote para a Hy-Line do Brasil, e tão logo o quadro de instabilidade econômica e altos custos de produção das matrizes se mostraram sólidos, a decisão de corte foi tomada: redução de 15 a 18% no plantel de matrizes a alojar. “Nós reduzimos, outros concorrentes não reduziram e assim ficou um gap aberto; mas agora vemos que todos tomaram a mesma decisão, o que é bom, pois o quadro ficou mais claro para o produtor de ovos, que assim, vê um quadro mais claro da situação da postura nacional”.

Questionado pela A Hora do Ovo sobre até quando vai perdurar o alojamento menor das aves da Hy-Line no país, Júlio Archangelo garante que assim será até o mercado mudar: “Eu prefiro ser cauteloso.  Não adianta confiar em crenças como ‘a carne está cara, o ovo vai bombar....’. É preciso primeiro entender se o mercado brasileiro já está maduro para manter os atuais 265 ovos per capita mesmo na pandemia. Não vamos nos guiar por sinalizações levianas. Só vamos fazer mudanças nessa estratégia mediante análises sérias, enxergando mudança real do cenário econômico brasileiro e a realidade de pandemia. Se não enxergamos que o mercado está respondendo, a gente vai mantendo as reduções.”

NA PLANALTO POSTURA

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Marco: decisão adequada


Marco Antonio Soares, gerente geral da Planalto Postura, não acredita em retomada rápida do mercado de postura: “O mercado deve se manter desacelerado no segundo semestre deste ano e talvez retome em 2022, mas é preciso aguardar. Sabemos que os produtores de maior porte vão conseguindo se adaptar a esses novos tempos, mas os pequenos e médios terão muitas dificuldades em competir neste mercado retraído.”

Mais recente empresa do Brasil a estar agregada ao Grupo EW, a Planalto Postura reduziu os alojamentos de matrizes desde novembro de 2020 quando os custos de produção do plantel passaram a ser impeditivos. “Se para nós os insumos estavam altos, consequentemente para nosso cliente também.  Ele estava enfrentando a mesma dificuldade para tocar suas operações e era clara a sinalização do mercado de necessidade de redução das operações. Assim como nosso cliente, estávamos na margem do prejuízo, mas como nosso ciclo também é mais longo, nossa decisão tem que ser mais rápida e fizemos a redução do plantel entendendo que o próprio mercado iria se autorregular diante do cenário desfavorável para todos, inclusive para outros segmentos da produção animal. Entendemos que essa medida que tomamos é uma decisão comercial adequada diante do prejuízo nos custos de produção, como também uma forma de contribuir com o mercado da postura como um todo”, considerou o gerente geral da Planalto Postura. 

Marco Soares contou a A Hora do Ovo que de novembro para cá a redução da capacidade de alojamento do matrizeiro foi na ordem de 15 a 20%. E acrescentou: “E o desenho para esse ano e para 2022 é manter assim ou reduzir mais, pois os próximos meses não apontam um cenário de mudança. Acredito que o próprio cliente vai diminuir seu alojamento, pois na ponta final da venda do ovo ele já começa a ter dificuldade e essa tendência de crise deve aumentar se a pandemia da Covid-19 não for controlada. Por isso falo que o mercado se autorregula. E se mantivermos a oferta à revelia da crise só aumentamos o prejuízo, o que vale tanto para nós quanto para nosso cliente.”

Experiente no mercado da postura comercial, Marco Soares observa que há muitos produtores usando a estratégia de estender a idade média das aves acima de 100 semanas, além de seu ciclo produtivo normal. Mas alerta: “Isso não compensa, não é produtivo, é mais vantajoso ir reduzindo naturalmente o plantel.”

NA H&N AVICULTURA

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Cacio: redução a partir de outubro



“A gente precisa saber o quanto vai vender para se adequar! No total, os incubatórios brasileiros teriam capacidade de produzir até mais que os 124,5 milhões de aves que colocamos no mercado antes da pandemia, mas para quê produzir isso se esse número não é realista com a necessidade atual?”

O questionamento foi feito à jornalista Elenita Monteiro, da A Hora do Ovo, pelo gerente comercial da H&N Avicultura, Cacio Fracaro, também do Grupo EW. Ele afirma que a empresa também se adequou tão logo pôde ver à realidade atual do mercado de postura: “A partir de outubro, gradualmente fomos reduzindo o alojamento de matrizes H&N e hoje estamos com nossa capacidade de produção 18% abaixo de nosso poder de alojamento”. E justifica a decisão: “Com as escolas fechadas, vacinação contra a Covid-19 atrasada, pandemia ainda sem solução, outros segmentos comerciais sofrendo, nós tínhamos que tomar uma decisão.”

Questionado sobre como vê este momento particular da postura comercial brasileira, Cacio vai objetivamente no ponto, como é do seu perfil: “Sabemos bem que o produtor não iria conseguir nas condições econômicas atuais ter rentabilidade com o volume de poedeiras que há atualmente no mercado e se continuássemos a estimular com o mesmo número que alojamos em 2020 – cerca de 124,5 –, não seria viável para o mercado e nem para o produtor, que não conseguiria ter rentabilidade com esse volume de aves, pois não conseguiria repassar esses custos para o consumidor final.”

E aí Cacio Fracaro é claro: essa redução no volume das matrizes trata-se de uma sinalização do mercado para a necessidade de sobrevivência da atividade: “Qualquer empresa que trabalha com orçamento prévio sabe que com o atual preço dos grãos tudo ficou defasado no planejamento das empresas que dependem do milho e soja como insumos. Na H&N fizemos, há um ano, um orçamento para uma ração inicial (um mix de milho, farelo de soja, fosfato) que ficou cotada a R$1.200,00 a tonelada; hoje, esse mesmo mix foi cotado entre R$2.000,00 e R$2.100,00 a tonelada, ou seja, quase dobrou do valor. E o ovo? Ele continua no mesmo valor do ano passado. Não há como sustentar a atividade dessa maneira se não fizermos mudanças”, defende.

Cacio Fracaro lembra que nos anos de 2004 e 2005 o segmento enfrentou uma crise tão difícil como a atual. “Lá também foi matéria prima que subiu muito e o preço do ovo não acompanhou. E teve produtor que teve que parar de produzir. Acreditamos que agora, se não houver uma união de todos para redução de alojamento, também haverá produtores parando com a atividade. E para evitar que se chegue ao ponto de paralisação de granjas, todos nós temos que nos unir e fazer o dever de casa, cada um a seu modo”, conclama.   

A exemplo de Marco Soares, da Planalto Postura, nesse ponto o gerente da H&N aponta uma questão que acredita que dependa exclusivamente do bom senso do avicultor para ajudar a atividade a sair da crise atual: evitar alongar a idade média da ave e, principalmente, a muda forçada. Ao lançar mão dessas práticas para aproveitar ao máximo a ave que tem alojada, o avicultor acaba por anular o trabalho do incubatório que fez seu dever de casa e reduziu o plantel disponível e, assim, contribuiu para reduzir prejuízos na atividade”, explica Cacio Fracaro. Sem contar que não é produtivo colocar ovos de galinha por muda forçada, que já são ovos de menor qualidade.

O diretor da H&N faz um apelo: “O momento é de unir forças e cada parte envolvida dar um passo: os produtores de pintainhas vendem um pouquinho menos e, por outro lado, do grande ao pequeno avicultor de postura comercial, cada um reduz um pouco a idade média das poedeiras. Com isso todos ganharão; a sobrevivência da avicultura se dará de maneira muito mais rápida. Dará pelo menos para pagarmos as contas e sair da fase mais aguda dessa crise. Agora, sem a ajuda do produtor, se ele ficar esperando só que a redução de pintainha do incubatório vá resolver a questão, a recuperação será muito lenta”, avisa.

NA LOHMANN DO BRASIL

LEOMAR
Leomar: reduzindo prejuízos



Em sua entrevista a A Hora do Ovo, Leomar Klassmann, gerente geral da Lohmann do Brasil, admite: “Sabíamos que esse alojamento dos últimos anos uma hora poderia impactar um pouco o Brasil, mas como o consumo de ovos no país ia muito bem, nossa economia também no geral, não havia maiores preocupações no segmento. É que ninguém esperava essa crise mundial levada pela Covid-19, que acabou se alastrando e mergulhou o mundo nessa crise. Somada a isso, temos a questão dos grãos que a China passou a demandar a mais, o que tem nos afetado muito, tanto o produtor de ovos quanto nós, produtores de matrizes e pintainhas.”

Ele lamenta o sobressalto, pois acredita que, não fosse esses fatores, o setor de ovos estava vivendo um dos melhores momentos da sua história. “Nesses últimos anos foi possível melhorar as margens da atividade, aprimorar as estruturas do segmento, partir para novos investimentos e tecnologias. Com isso, a postura comercial ganhou um salto em sua eficiência produtiva, obteve uma evolução que fez o consumo per capita de ovos nos país crescer como nunca visto antes, chegando a 265 ovos já em 2021.  Mas diante dos altos desafios sanitários e econômicos impostos pela pandemia, é fundamental que se faça um ajuste na demanda de produção de ovos para garantir a saúde do negócio avícola”, defende Leomar.

Ele informou a A Hora do Ovo que, ainda em novembro, iniciou um ajuste em seu número de matrizes alojadas para adequar-se à nova demanda de mercado: “A Lohmann do Brasil, diferente de outros grupos genéticos, tomou a atitude de reduzir seus planteis de matrizes a partir do último trimestre de 2020, pois o mercado já estava sinalizando que teríamos um grande desafio em 2021”. De acordo com ele, o ajuste está na faixa de 15% do plantel de matrizes, podendo chegar a 20%, dependendo dos rumos do mercado.

E Leomar faz um exercício “na ponta do lápis” para explicar a situação atual do mercado de pintainhas alojadas: “Se analisarmos os últimos cinco meses de alojamento de pintainhas de 1 dia no Brasil veremos que tivemos 45,2 milhões de pintainhas alojadas entre novembro de 2020 e março de 2021, enquanto no ano anterior foram alojadas 52 ,3 milhões de pintainhas de novembro de 2019 a março de 2020. Portanto, evidencia-se uma redução até agora de 13,6% em relação ao período anterior. Vemos que, de alguma forma, o mercado já está se ajustando à nova realidade, mas será necessário continuar com essa consciência de ajustes nos alojamentos em toda cadeia produtiva para que possamos juntos reduzir esse impacto ao mercado nos próximos meses. Somente assim nossos produtores de ovos poderão minimizar os prejuízos até que o mercado se autorregule e volte a se equilibrar novamente. Nosso compromisso na Lohmann do Brasil é claro: continuar com ajustes em nossos planteis de matrizes para atender com equilíbrio o mercado brasileiro.”

Além de concordar veementemente com seus colegas do Grupo EW quanto à importância de os avicultores de postura também cumprirem “seu dever de casa” e abandonarem práticas antigas, como a muda forçada para “esticar” artificialmente o ciclo produtivo da ave, Leomar aconselha seus clientes que este é também o momento de olhar para suas empresas com olhar mais crítico e sanar ineficiências. “Sabemos que muitos de nossos clientes cresceram. Nos últimos anos tivemos um crescimento tecnológico muito grande e muitas granjas investiram em pinteiros, novas fábricas de ração, e ainda mantêm estruturas antigas e baixa eficiência, mas como tudo estava indo bem, os produtores mantinham paralelamente à estrutura mais moderna a estrutura antiga e ineficiente. Esse momento de crise é uma oportunidade para liberar o que não serve mais e é inadequado”, aconselha.

Falando da própria estrutura da empresa que dirige, a Lohmann do Brasil, Leomar Klasmann deixa um recado entusiasmado: “Nós mesmos vamos aproveitar esse momento para trabalhar dentro de casa, melhorar nossa estrutura com reformas internas para estarmos ainda melhor- estruturados para quando tudo voltar ao normal e a economia pujante novamente. Não podemos deixar o motor apagar. Vamos deixar tudo ligado e, quando o sinal abrir, poder sair em disparada, porque sabemos que tudo vai voltar ao normal. O ovo está no melhor momento de sua história no Brasil. Agora podemos estar perdendo em volume de produção, em preço do produto, mas esse alto conceito conquistado e o hábito adquirido do brasileiro consumir mais ovos, isso não vamos perder!”

(Texto: Elenita Monteiro – A HORA DO OVO – fotos A Hora do Ovo e divulgação das empresas)

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