Efeitos da Bronquite Infecciosa sobre o trato reprodutivo, produção e qualidade de ovos

Efeitos da Bronquite Infecciosa sobre o trato reprodutivo, produção e qualidade de ovos

Controlar a Bronquite Infecciosa exige medidas de biosseguridade e protocolos vacinais estratégicos como ferramentas eficazes para prevenção e controle da doença.

Com a palavra

abril 02, 2023

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O ovo é considerado um alimento completo e de qualidade, sendo fonte de proteínas, vitaminas, minerais, carotenoides e colina. Além disso, possui substâncias promotoras de saúde e preventivas de doenças. Apesar de diversas vantagens, para o consumidor final isso vai além, o aspecto e a forma da casca, cor da gema e aspecto da clara, são importantes características para o ovo ser considerado um alimento de qualidade.

A produção de um ovo de qualidade é dependente de uma ave plenamente desenvolvida, e isso implica desde as fases de cria, recria e produção. Entretanto, cabe destacar que há diversos fatores que podem prejudicar a relação qualidade ave x ovo, que variam desde fatores nutricionais, fisiológicos, de manejo, bem-estar e sanitários.

Sanitariamente, infecções causadas por bactérias, vírus, protozoário, fungos e suas micotoxinas podem impactar diretamente na relação qualidade- ave-ovo. O vírus da Bronquite Infecciosa (VBI) é um coronavírus causador da Bronquite Infecciosa aviária (BI), uma doença respiratória, que dependendo da cepa, pode causar impactos diretos na produção e qualidade do ovo. A doença é potencial ameaça à indústria de ovos, já que problemas com qualidade dos ovos custam milhões de dólares a cada ano.

O VBI é um Gammacoronavirus pertencente à família Coronaviridae e a ordem Nidovirales. É um vírus de RNA de fita simples, envelopado e de 120 nanômetros, no qual seu genoma de 27.6 kb codifica quatro proteínas estruturais: S – proteína de espicula; N – proteína do nucleocapsídeo, M – glicoproteína integral da membrana; E – proteína do envelope.   A proteína S é subdivida em duas porções:  S1 e S2, sendo a S1 responsável pela ligação as células do hospedeiro e indução de anticorpos neutralizantes. Além disso, essa porção é a principal responsável pela variabilidade viral, resultando em diferentes genótipos e/ou sorotipos do vírus.

O VBI está distribuído no mundo todo e é uma das principais causas de infecções virais que provoca doença clínica e queda de desempenho em todos os tipos de cadeia de produção. No Brasil, o vírus foi isolado pela primeira vez em aves comerciais em 1957, no qual foi caracterizado como sorotipo Massachussets (Mass), genótipo GI-1. Por volta de 2000, surtos da doença com sorotipos Não-Mass estava ocorrendo, e mais tardar (2007), com o uso de técnicas moleculares mais sofisticadas, caracterizaram-se as estirpes como variantes brasileiras BRI e BRII, genótipo GI-11. Recentemente, em meados de 2021, uma nova variante do vírus foi detectada em surtos que estavam ocorrendo em planteis de frango de corte, na qual foi caracterizada como variante 2 (VAR2), genótipo GI-23. Dessa forma, até o momento, três genótipos principais circulam na avicultura brasileira, cada qual causando doenças respiratórias, e dependo da estirpe, doenças renais, reprodutoras e/ou entéricas.

O VBI tem alta morbidade e a principal forma de transmissão é por via horizontal, através de contato direto entre as aves, e indireto, através do contato dos animais com aerossóis (espirros), materiais orgânicos e equipamentos contaminados. Pessoas e veículos também podem servir de fontes de transmissão do vírus.

Em aves de postura, a BI pode acometer de diferentes formas dependendo da idade da infecção (Figura 1), o patotipo viral envolvido e o status imunitário do plantel. Aves jovens afetadas pela doença podem apresentar sinais respiratórios como espirros, secreção nasal, estertores traqueais, edema de face, e ainda pode ser observado redução no consumo de água e ração, e aumento da mortalidade. Além disso, aves infectadas nas duas primeiras semanas de vida podem ter lesões irreversíveis em oviduto, ocasionadas por atrofia permanente ou oviduto cístico (Figura 2), sendo consideradas “falsas poedeiras”, por não serem capazes de produzir ovos.

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Na fase de recria, as aves podem apresentar sinais menos severos, porém a doença pode prejudicar a uniformidade do lote e consequentemente atrasar o pico de produção de ovos, e impactar nos índices produtivos.

Na fase de produção, podem ser observados sinais respiratórios leves ou até mesmo imperceptíveis. Entretanto, nessa fase o impacto da doença está relacionado a produção e qualidade interna e externa do ovo (Figura 3), na qual podem ser observados ovos deformados, despigmentados, com casa fina, áspera ou até mesmo ausente, e albumina aquosa, podendo haver manchas de sangue. Além disso, pode haver queda entre 35 e 90% da produção. Embora as aves se recuperem e a produção volte à normalidade após algumas semanas, ainda pode haver um declínio de 6 a 12% em relação à produção normal. As alterações macroscópicas (Figura 2) que podem ser encontradas no trato reprodutor são de ovidutos atrofiados, císticos e hipoglandulares, além de regressão dos ovários e atresia folicular.

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O controle da BI é através de medidas de biosseguridade que incluem lavagem e desinfecção entre lotes, vazio sanitário mínimo adequado, restrição e controle de veículos e pessoas, uso de calçados e equipamentos exclusivos em cada galpão, pedilúvios nas entradas dos galpões, arcos de desinfecção para veículos, entre outras. Além dessas medidas, o uso de protocolos vacinais estratégicos e de amplo espectro de proteção é uma das ferramentas mais eficazes na prevenção e controle da doença.

Os programas vacinais baseiam-se no uso de vacinas vivas atenuadas e inativadas. Vacinas vivas atenuadas são usadas, geralmente, na primeira semana de vida da ave, como primo-vacinação, e como reforços, com o intuito induzir principalmente proteção humoral e celular de mucosa, que é a principal via de invasão do patógeno. Já as vacinas inativadas são usadas em aves de vida longa como reforço vacinal para induzir proteção humoral sistêmica e garantir imunidade de longa duração. Tanto a resposta imune humoral de mucosa e sistêmica, quanto a celular, desempenham importantes papeis no controle do vírus, reduzindo a replicação viral, a excreção do vírus desafio no ambiente e os problemas de produção e qualidade do ovo, impedindo sua disseminação para órgãos susceptíveis, e minimizando os sinais clínicos e as alterações macro/ microscópicas.

A estratégia do programa vacinal irá depender dos níveis de infecção na região/ granja. De forma geral, utiliza-se de 2 a 3 reforços com vacinas vivas atenuadas, seguidas ou intercaladas de 1 ou 2 doses de vacinas inativadas. Durante a produção, reforços com o uso de vacinas vivas atenuadas podem ser necessários.

Com o número crescente de variantes emergentes do VBI em todo o mundo, diversos estudos têm demonstrado que o uso associado de mais de um sorotipo de vacina pode induzir proteção cruzada contra desafios com sorotipos heterólogos e homólogos do VBI. Nesse caso, o Brasil possui vacinas comerciais das cepas Mass e BR, que quando associadas, garantem amplo espectro de proteção contra os sorotipos existentes no país.

Uma vacinação efetiva contra o VBI reduz significativamente a replicação viral e evita sua transmissão. Para isso, é importante sempre verificar todos os pontos, desde a chegada da vacina, armazenamento, preparo da solução vacinal e a administração (Figura 4).

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VAXXINOVA
www.vaxxinova.com.br
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PRISCILA DINIZ LOPES Autor

Médica veterinária e assessora técnica Vaxxinova.

tag: Vaxxinova , bronquite infecciosa , Priscila Diniz Lopes , qualidade do ovo , biosseguridade , trato reprodutivo ,

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