Bastos põe em prática programa próprio de prevenção à influenza aviária

Bastos põe em prática programa próprio de prevenção à influenza aviária

Maior produtor de ovos do Brasil, o município paulista se organizou em torno da prevenção, com assessoria dos especialistas Masaio Mizuno e José Roberto Bottura

POLOS DO OVO

fevereiro 08, 2016

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Avicultores em reunião com os consultores Masaio Mizuno e José Roberto Bottura: estratégias

 

Um dos mais tradicionais núcleos de produção de ovos do Brasil, a região de Bastos, no Oeste Paulista, vem dando exemplos positivos e muito práticos de como enfrentar a ameaça da influenza aviária. O Sindicato Rural de Bastos, entidade representativa dos avicultores da região, vem liderando uma força-tarefa que começou em maio de 2015, tão logo o governo do Estado de São Paulo lançou seu programa de prevenção à doença. Eram os primeiros passos para evitar a influenza aviária, doença que se alastrou nos Estados Unidos entre 2014 e 2015, dizimando mais de 40 milhões de aves em 22 estados norte-americanos.

A Capital do Ovo foi a primeira a aderir ao programa do governo paulista e, desde então, vem dando mostras de que é líder não somente na alta produção de ovos mas também na condução de uma política eficaz de prevenção. Para isso, criou uma estratégia de biosseguridade para blindar o plantel regional, hoje em torno de 25 milhões de poedeiras.

Os avicultores de Bastos estão contando, nessa empreitada, com a assessoria do médico veterinário José Roberto Bottura, diretor técnico da Associação Paulista de Avicultura, a APA, e a consultoria científica da Prof. Dra. Masaio Mizuno Ishizuka. Grande autoridade em vigilância ambiental, Masaio é professora titular de epidemiologia das doenças infecciosas da Faculdade de Medicina Veterinária da USP e presidente do Comitê Estadual de Sanidade Avícola de São Paulo.

Em setembro, uma importante reunião realizada em Bastos com esses especialistas deu corpo e estrutura para o trabalho de prevenção regional, com metas bastante claras e discutidas com os avicultores. Estiveram presentes representantes das seções rurais de cada região em que estão instaladas as granjas produtoras. Para cada uma das seções foram indicados avicultores responsáveis por serem os interlocutores com os demais proprietários daquela zona rural. Assim, foram criadas cerca de 15 zonas de trabalho, cada uma com um subcomitê para atuar na disseminação das informações e discussões sobre como implantar as medidas de proteção sanitária, sempre de acordo com as possibilidades e necessidades específicas de cada área ou de cada propriedade.

O objetivo do programa de Bastos é que o sistema de biosseguridade seja implantado gradativamente em todas as granjas, sempre dentro do conceito de prevenção permanente. E não somente como prevenção à influenza aviária mas, também, para prevenir ou reduzir a ação de outras importantes enfermidades, como micoplasmose, salmoneloses e doenças respiratórias em geral.

Para acompanhar os resultados desses trabalhos, serão feitas, periodicamente, análises por kit de PCR para monitoria do programa através de exames de Mycoplasma gallisepticum em amostras de aves de todas as granjas envolvidas no programa. Escolheu-se o Mycoplasma gallisepticum como enfermidade a ser monitorada porque é esperado que se encontre algum nível de anticorpos maternais nessas aves contra a doença. Com todas as medidas de biosseguridade que as granjas irão gradativamente implementando na região, espera-se que as doenças respiratórias – como o micoplasma - tenham um decréscimo. E os testes PCR para Mycoplasma gallisepticum serão um indicador, um termômetro do sucesso do programa. O que é esperado é que o nível de anticorpos das aves baixe conforme o programa avance, demonstrando sua eficiência ou possíveis falhas.

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Masaio: regras à risca

Os kits PCR para monitoria estão sendo doados pelas empresas de saúde animal Biovet, Biocamp, Ceva, Merial, MSD e Zoetis, numa importante colaboração. José Roberto Bottura explica que os testes sorológicos para Mycoplasma gallisepticum serão feitos a cada três meses, visando balizar o trabalho desenvolvido em Bastos. “O resultado pode nos dizer se continua o desafio de uma doença respiratória, se ainda é preciso melhorar o sistema de desinfecção do ar ou reduzir a aglomeração nas gaiolas, por exemplo”, explica a professora Masaio, que elogiou o empenho dos avicultores para que o programa bastense de biosseguridade fosse implantado com sucesso. “Os senhores Carlos Ikeda e James Nakanishi têm feito um excelente trabalho como colaboradores e coordenando os trabalhos dos subcomitês. Todos os envolvidos no processo estão colaborando muito”, elogia Masaio, entusiasmada com o desafio na Capital do Ovo.

Em entrevista à A Hora do Ovo, logo após a reunião em setembro que definiu o zoneamento das granjas e as primeiras ações práticas do programa de prevenção à influenza aviária, a professora Masaio voltou a elogiar Bastos e conclamou todos os envolvidos na cadeia do ovo local a colaborar para manter a região livre de influenza e protegida do desastre econômico e social que a entrada do vírus representaria para a comunidade bastense inteira, não apenas para os proprietários de granjas.

Pedido aos terceirizados

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Palestra reuniu terceirizados em Bastos: alerta sobre a influenza

Uma nova reunião do grupo foi convocada em 21 de outubro com profissionais autônomos terceirizados que atendem à efervescente atividade avícola regional. A reunião foi convocada pelo Sindicato Rural de Bastos e contou com um bom e atento público de terceirizados que, com suas equipes, entram nas granjas para realizar o trabalho de vacinação, debicagem, descarte de aves, recolhimento de estercos, assistência técnica, elétrica, mecânica, de equipamentos, controle de pragas, montagem de gaiolas e segurança de trabalho.

Foi em tom de alerta e convite à participação que o avicultor Carlos Ikeda recebeu os terceirizados da região de Bastos, explicando-lhes a importância de manter em sintonia fina a biosseguridade nas granjas que eles atendem. 

A professora Masaio também falou aos técnicos terceirizados presentes e explicou, de forma bastante didática, como é possível prevenir a entrada do vírus da influenza – e outros – seguindo regras muito básicas de biossegurança. Disse que há várias maneiras de gerenciar a biosseguridade, dependendo do tipo de organização das granjas. Bastos, segundo ela, se encaixa no conceito de Regionalização, instituído pela OIE, a Organização Mundial de Saúde Animal.

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Ikeda: convite aos terceirizados

A Regionalização se refere a um conjunto de granjas de diferentes proprietários em um único setor da indústria produtiva. “Para esse caso, a articulação do trabalho preventivo que se refere a diferentes proprietários exige o manejo adequado não apenas da parte interna da granja mas, também, das áreas entre as granjas”, explicou Masaio. “Esse sistema estava meio dormente nos escritos da OIE e, de repente, com a reedição do Plano Estadual de Prevenção da Influenza Aviária proposto pelo governo paulista, as lideranças de Bastos perceberam, rapidamente, que existia essa possibilidade, uma nova forma de gerenciamento da saúde das aves.”

Masaio destacou que, ao implantar um plano de prevenção próprio no caso da influenza, Bastos se tornou novamente pioneiro, agora não mais combatendo uma doença - como aconteceu em 2002 com a laringotraqueíte -, mas introduzindo medidas sérias de prevenção.

Como o vírus pode chegar

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Bottura: êxito na união

Embora o vírus da influenza possa chegar ao Brasil “a bordo” de aves migratórias - o que está sendo monitorado pelos órgãos oficiais -, foi para o ser humano que a professora Masaio chamou a atenção em sua palestra aos terceirizados. Afinal, o vírus pode “viajar” de um país para outro “na carona” de sapatos, barras das calças e, eventualmente, nas narinas humanas (especialmente de profissionais que estiveram em granjas com aves afetadas, espirrando e eliminando secreção).

Outros meios de transporte para o vírus pode ser as carrocerias dos caminhões, os equipamentos de trabalho e os automóveis, tudo que chega de fora e entra na granja. E nesse rol estão os equipamentos dos profissionais terceirizados, como o debicador, a seringa de injeção, as pás, as raspadeiras, as vassouras... “Tudo pode carrear o vírus. Temos que partir desse princípio”, reforçou Masaio. Por isso, destacou, é preciso seguir à risca o programa de biosseguridade, com destaque para a higiene pessoal de cada profissional que entra na granja, bem como os cuidados essenciais com a limpeza e higienização dos equipamentos e dos veículos de transporte, sejam eles automóveis ou caminhões.

Assessorando o Sindicato Rural de Bastos, José Roberto Bottura, da APA, lembrou que, embora o programa de prevenção ressalte a influenza, ele também diz respeito a outras enfermidades, como New Castle, salmonelas e micoplasmas, “porque são problemas que afetam a ave, fazendo ela perder produtividade e provocando prejuízos às propriedades”, ressaltou Bottura.

A maior preocupação, disse ele , é com o perfil da influenza, doença para a qual a única saída, em caso de um surto, é a erradicação dos planteis. “Por isso é tão importante a prevenção e o engajamento de todos”, indicou o diretor da APA. E alertou: “Esse programa só terá pleno êxito se todos se engajarem. A equipe que não tomar os cuidados preconizados de prevenção porá em risco todo o conjunto e o objetivo final do programa, que é manter a saúde do plantel avícola de Bastos. Tudo que fazemos em termos de seguridade animal tem valor, tem preço e tem consequências”, concluiu Bottura. 

(A Hora do Ovo. Fotos: Elenita Monteiro e Teresa Godoy)

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