Ubabef pede intervenção governamental por retorno do acesso ao crédito

Ubabef pede intervenção governamental por retorno do acesso ao crédito

Encarecimento dos insumos e escassez de crédito provocam crise no setor; há exemplo de avicultores que já descartaram pintos e ovos, no Sul do país.

Ovonews

agosto 20, 2012

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A notícia do descarte de pintinhos e ovos na região metropolitana de Florianópolis (SC) chamou a atenção, na última sexta-feira, dia 17, para a grave crise que vive a avicultura brasileira, já chamada pelo presidente da Ubabef, a União Brasileira de Avicultura, Francisco Turra, de “uma das piores crises da história”. Em entrevista à imprensa, na mesma sexta-feira, Turra solicitou a imediata intervenção do Governo Federal junto às instituições financeiras, devolvendo à agroindústria e aos produtores o acesso a crédito em bancos oficiais e privados. “Esse é o momento mais grave de nossa história”, advertiu a entidade, em nota oficial. “Sem o apoio governamental, todos perderão, desde produtores, trabalhadores das linhas de produção e empresários até o consumidor, com a inflação dos alimentos”.

Até então, a Ubabef vinha gestionando junto aos órgãos governamentais da agropecuária, no sentido de se resolver a questão dos insumos, principalmente o milho e a soja, cujos preços tornaram-se estratosféricos para os produtores. A promessa do Mapa, unindo-se à Conab, era “distribuir” o milho para os estados produtores de carne e ovos, numa logística que permitisse a compra pelo avicultor de forma mais acessível. Nos últimos seis meses foram registrados aumentos de 80% nos preços da soja e de 40% nos custos do milho. Juntos, os dois insumos representam mais de 60% do custo total de produção.

Dados divulgados pela Ubabef em seu informe oficial demonstram que, “no caso do milho, a severa estiagem que atinge os Estados Unidos provocou uma redução de 98,8 milhões de toneladas na última previsão para a safra 2012/1013 feita pelo United States Department of Agriculture (USDA). A consequência tem sido a disparada dos preços do milho no mercado internacional e também no Brasil, com reflexos graves sobre os custos de produtores avícolas e agroindústrias. No caso da soja, a estiagem nos EUA está provocando, segundo a última previsão da USDA, uma quebra de 11 milhões de toneladas na safra 2012/2013, volume menor que o do milho, mas também referente a uma produção mundial menor. De qualquer forma, também essa queda de safra da soja norte-americana resultou em disparada dos preços da soja e do farelo de soja no mercado internacional e no Brasil.”

“O impacto nesses custos já resultam na paralisação da produção em áreas dos principais polos agrícolas, a única saída para os produtores avícolas, que não dispõem de capital de giro”, informa a Ubabef. Junte-se a isso, a escassez de crédito: “Se antes os produtores avícolas tinham até 40 dias de prazo para pagar as aquisições de grãos para a ração destinada às aves, hoje eles precisam pagar à vista ou até mesmo antecipadamente. De forma geral, as instituições financeiras, mesmos as de administração pública, estão retendo crédito e criando barreiras às agroindústrias a fim de obterem recursos para compra de insumos.”

A atitude radical de jogar animais vivos na vala não se justifica, entretanto, expõe uma situação crítica e que se agrava em várias regiões do interior catarinense: a falta de ração para alimentar as aves. Sem ter como alimentar os animais, alguns criadores preferem interromper a produção a deixá-los morrer de fome ou, como no caso mostrado pelas imagens, abater as aves antes do tempo. De acordo com Marcos Antônio Zordan, presidente da Organização das Cooperativas do Estado de Santa Catarina (OCESC), o preço do milho e do farelo de soja usados na ração, dispararam desde o início do ano. A saca do milho passou de R$ 23 para até R$ 36, e a tonelada do farelo saltou de R$ 550 para R$ 1.500. "Com esse aumento, as margens diminuíram e muitas empresas estão com dificuldade em distribuir a ração", disse. Segundo Zordan, apesar das dificuldades, os avicultores resistem em trocar de cultura, pois investiram alto na construção de aviários, que chegam a custar R$ 300 mil. "Não conhecemos outros casos como o do granjeiro que descartou os ovos e pintinhos. Foi uma atitude isolada", disse.

Na fatídica sexta-feira, dia 17, outra entidade representativa dos avicultores, a Asgav, do Rio Grande do Sul, teve uma reunião na CONAB/RS – o órgão responsável pela regulação e abastecimento de milho e soja, segundo os estoques governamentais. Na ocasião, junto ao Secretário de Política Agrícola, Caio Rocha, do MAPA-DF, Superintendência da CONAB RS e CONAB-DF, os avicultores gaúchos ouviram que as dificuldades em levar o milho para o Rio Grande do Sul, conforme havia sido prometido pelo Ministério da Agricultura, como forma de sanar em parte o problema de desabastecimento, estava esbarrando em problemas de logística e, inclusive, na nova legislação dos caminhoneiros, que estabelece pausas de 30 minutos a cada quatro horas percorridas. “O secretário disse que milho existe, e os estoques devem estar na casa de seis milhões de toneladas, sendo que 1 milhão de toneladas o Governo tem em Mato Grosso e deverá iniciar remoção para o Rio Grande do Sul ao programa balcão”, informou a Asgav.  

Conforme anunciado na imprensa no sábado (18), já nesta semana serão removidas 200 mil toneladas para o Rio Grande do Sul e Santa Catarina. Após, existem mais 600 toneladas e 900 toneladas para atender milho balcão. Ainda é uma quantidade ínfima, mas já é uma sinalização de remoção que deverá surtir efeito no mercado. "Ainda temos muito para trabalhar e pleitear, e o futuro em relação ao abastecimento de milho continua preocupante", afirmou o Diretor Executivo da Asgav/SIPARGS, José Eduardo Santos.

Para fora da granja o reflexo da crise também está chegando, pois os preços ao consumidor já estão sendo reajustados. Sem falar no desemprego, que pode surgir dessa crise. Estão em jogo, segundo Francisco Turra, da Ubabef, mais de 3,5 milhões de empregos diretos e indiretos, além de 160 mil famílias de produtores. “Sem o apoio governamental, todos perderão, desde produtores, trabalhadores das linhas de produção e empresários até o consumidor, com a inflação dos alimentos”, alertou Turra. 

(Com informações da Ubabef, Estado de S. Paulo, Agência Brasil, Reuters e Asgav)

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