Setor avícola cobra ações do Governo Federal sobre os insumos da ração
Com o mercado dos grãos em alta e a exportação a todo vapor, produtores avícolas já sentem o peso na conta da produção; receio é de que faltem milho e soja na entressafra.
Milho: preços em alta |
O descompasso entre a oferta de insumos, seus preços e política e a produção avícola não é nenhuma novidade para o setor. Aliás, não é novidade que a política agrícola brasileira sempre andou na corda bamba, jamais seguindo critérios pré-estabelecidos de um mercado que pensa primeiro no consumo interno para depois exportar, atendendo aos anseios do mercado mundial. No Brasil, o mercado externo sobrepuja o mercado interno desde que o Brasil existe. Nada mudou muito
A diferença da crise atual entre insumos e produtores avícolas torna-se especial quando se tem, de um lado, uma cadeia que produz alimentos – e o faz com competência – e, de outro, uma das maiores safras de grãos da história do Brasil. Fala-se, inclusive, na exportação de milho para o maior produtor desse cereal no mundo, os Estados Unidos, tradicionalmente preocupado apenas em cuidar de seu mercado interno. Por aqui, os produtores de ovos, de frangos e de suínos estão mais do que preocupados com duas das principais matérias-primas de suas “fábricas”: o milho e a soja.
Os altos custos desses dois importantes insumos mais a logística para fazê-los chegar ao produtor avícola levaram representantes do setor a se reunir com as autoridades do Ministério da Agricultura nesta semana. Primeiro foram os avicultores do Sul, representados pela Asgav – a Associação Gaúcha de Avicultura, e pela Associação Catarinense de Avicultura (Acav) e o Sindicato das Indústrias da Carne e Derivados de Santa Catarina (Sindicarne). Eles reivindicaram mudanças urgentes junto ao Ministro da Agricultura e Abastecimento, Mendes Ribeiro Filho, e ao Secretário de Política Agrícola do MAPA, Caio Tibério da Rocha.
Os representantes dos avicultores – fazendo coro aos suinocultores que também vivem o mesmo dilema - queriam um comprometimento do governo de que haveria medidas para amenizar o alto custo do milho e do farelo de soja. As medidas deveriam ser urgentes e efetivas, reivindicaram os produtores de proteína animal. "Ou acontece alguma ação efetiva ou teremos sérios problemas de desemprego e férias coletivas", comentou à imprensa o Diretor Executivo da Asgav/Sipargs, Eduardo Santos.
Soja: reajuste de 25% em junho |
A crise se agrava se forem levadas em conta outros fatores fundamentais na soma da produção, um buraco que não deixa a conta fechar. Enquanto o preço pago pelo ovo ou pela carne recua ou se mantém estável, o valor do milho subiu 35%. O milho representa quase 80% da composição da ração. Para piorar, a soja - outro ingrediente que compõe a ração das aves - também teve seu preço reajustado em cerca de 25% somente em junho, representando o dobro do preço que era praticado em janeiro deste ano. Resultado: a ração custa hoje 43% a mais do que em dezembro do ano passado.
Após a reunião com os representantes da cadeia produtiva , no dia 23, o governo garantiu que comprará milho para abastecer o mercado. A quantidade e a forma de aquisição do produto seria definida após avaliação conjunta do Mapa com a Conab e o Ministério da Fazenda. “Com essa medida atenderemos à demanda emergencial do mercado. É importante o país saber que não faltará milho”, disse o secretário de Política Agrícola do ministério, Caio Rocha. De acordo com Rocha, o principal objetivo é estabelecer um cronograma de atividades para que o produtor possa realizar o plantio de forma eficiente e segura e depois comercializá-lo, com custos competitivos.
Ubabef reivindica soluções junto ao MAPA
Na terça-feira, dia 24, foi a vez União Brasileira de Avicultura, a Ubabef, representando os avicultores do Brasil, apresentar sua pauta de reivindicação ao Ministério da Agricultura. Reunidos em São Paulo, na sede da Ubabef, os diretores Ricardo Santin, Ariel Mendes e José Perboyre, junto com os presidentes das agroindústrias produtoras e exportadoras associadas reuniram-se com o secretário Caio Rocha, de Política Agrícola do Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento, e com o coordenador de Cereais e Culturas Anuais do ministério, Silvio Farnese.
Os diretores da Ubabef – a exemplo dos colegas do Sul - fizeram um pedido formal de intervenção do Governo Federal na política que interfere nos custos de produção. Eles demonstraram as falhas no sistema do agronegócio avícola cuja conta não fecha, enfatizando os impactos da alta de preços dos insumos na produção. Munidos de um estudo feito por encomenda da Ubabef ao Instituto de Estudos do Comércio e Negociações Internacionais (Icone), os diretores da entidade demonstraram as altas da soja e do milho entre janeiro e julho deste ano e como isso influenciou no aumento dos preços da produção avícola. Segundo o estudo, a soja acumulou alta em reais em torno de 74% nas cotações do grão, e o milho, registra aumento de 37%.
Um dos fatores que elevaram o preço da soja e do milho no mercado interno – além da seca no Rio Grande do Sul - foi a estiagem nos Estados Unidos, tida como a pior seca em 56 anos no centro do país. “O mercado brasileiro de grãos está atrelado à Bolsa de Chicago. Neste contexto, os preços têm subido desde o início do ano, com o mercado doméstico respondendo na mesma direção. Além disso, os dados acenam que as exportações de grãos deste mês serão muito maiores que o mesmo período do ano passado”, explicou o diretor de Mercados da Ubabef, Ricardo Santin. Uma notícia veiculada no mesmo dia em que os diretores da Ubabef se reuniam com o secretário de Política Agrícola do Brasil confirmava essa “previsão”. Os veículos do agronegócio noticiavam que a “maior produtora mundial de carne suína - a norte-americana Smithfield Foods - vai importar milho do Brasil.”
A preocupação dos representantes da cadeia avícola aumenta na mesma proporção em que se elevam os volumes de soja e milho exportados pelos portos brasileiros. Pensando nessa lógica, os produtores de ovos e de carne suína e frango estão preocupados com a escassez de insumos no período de entressafra. "Não faz sentido um dos maiores produtores de milho e soja do mundo correr risco de desabastecimento interno desses produtos. Antes de fomentar as exportações, é preciso garantir que a demanda interna seja plenamente atendida. É uma questão de segurança alimentar da nação", destacou o diretor da Ubabef, Ariel Mendes.
No pedido formal entregue ao secretário Caio Rocha, a Ubabef solicita uma série de medidas emergenciais de estímulo ao abastecimento interno de milho e soja. No caso do milho, foi solicitada a realização urgente de Prêmio de Escoamento de Produção (PEP) para as regiões produtoras do setor avícola mais afetadas pelas altas do insumo, além de leilões dos estoques reguladores. Os representantes da entidade pleitearam ainda a ampliação da venda a balcão para produtores, estendendo a medida também para as agroindústrias, assim como o incremento dos mecanismos de manutenção do plantio da próxima safra do grão. Já para soja, a cadeia avícola pleiteou o monitoramento dos níveis de exportação, a facilitação da importação de soja para manutenção do consumo interno e a priorização do abastecimento interno. Também foi solicitado ao secretário Caio Rocha apoio na obtenção de crédito emergencial para custeio e capital de giro das agroindústrias, frente aos aumentos nos custos de produção.
O diretor de mercado da Ubabef, Ricardo Santin pareceu confiante nos resultados do encontro: "O secretário se mostrou bastante sensibilizado pela situação das empresas e se comprometeu a analisar os pleitos da cadeia produtiva. Temos certeza de que, em breve, contaremos com medidas efetivas do MAPA para amenizar os efeitos das elevações dos custos de produção.”
Consequências para o ovo
As reivindicações dos produtores de ovos, frango e suínos são parecidas de Norte a Sul do Brasil. Controlar a exportação dos insumos, priorizar a venda aos produtores, garantir o escoamento da produção aos polos que mantêm a produção da proteína animal, e até a criação de um programa de subsídio no frete para transporte de grãos importados dos outros Estados.
Antônio Carlos Vasconcelos, presidente da Associação dos Avicultores de Minas Gerais, a Avimig, disse, em entrevista ao jornal Estado de Minas que, se somado o frete, a saca de milho estava chegando na porta da fábrica por até R$ 21 no fim de junho. Na segunda-feira, o preço já atingia R$ 32, alta de 50%. Em Minas – considerado o segundo maior produtor de ovos do país -, a cadeia da avicultura – incluindo a produção de frango - é responsável por gerar 50 mil empregos diretos e o desaquecimento do setor não é boa notícia, já que pode levar a uma redução da oferta. “Além de alta nos preços, a queda da oferta pode provocar inflação e desemprego”, avaliou Vasconcelos.
Para o setor de ovos a dificuldade em repassar os custos pode criar dificuldades aos produtores. Por outro lado, o aumento no valor da caixa de ovos também pode propiciar a queda do consumo do produto, que desde 2011 vem crescendo de forma importante, depois de anos na mesma toada. O diretor executivo do Instituto Ovos Brasil, José Roberto Bottura, avaliou – em entrevista ao Canal Terra Brasil -, que o consumo já está travado em função do poder aquisitivo da população; com a dificuldade em obter insumos a preços razoáveis, a situação pode piorar. Assim, analisa Bottura, “o avicultor ou está empatando ou está com pequeno prejuízo. O setor de postura está sem lucro em função dessa situação que está se posicionando”. Bottura lembrou ainda que o produtor sempre comprou soja com prazo para pagamento; “hoje, além de o preço ter duplicado, você tem que fazer pagamento antecipado. Não prevendo uma situação dessas, o produtor fica descapitalizado”.