Produtores de ovos já contabilizam perdas
Crise que tomou de assalto o setor avícola nos últimos meses também faz estragos nas granjas de postura. Na Capital do Ovo não é diferente.
Ovos em Bastos: custos altos e ganhos ameaçados |
Welington Koga, presidente do Sindicato Rural de Bastos, maior produtor de ovos do Brasil, também faz coro a Francisco Turra, presidente da Ubabef, União Brasileira de Avicultura (leia o texto sobre o manifesto da entidade no link Ubabef alerta: crise na avicultura já resultou em 5.750 demissões). Como representante dos avicultores da Capital do Ovo - responsável por 45% dos ovos produzidos em São Paulo e 15% da produção nacional -, Koga vê como seríssima a crise atual que também atinge a avicultura de postura. Gerada pelos mesmos motivos que assolam a produção avícola de corte, a crise tem levado o produtor de ovos a amargar um prejuízo de, pelo menos, R$ 5,00 por caixa de 30 dúzias de ovos. E mais: Koga acredita que a crise deva se acirrar com a chegada do verão, quando o calor costuma diminuir o consumo de proteínas em geral, o ovo incluído nessa lista. “Também enfrentamos, todos os anos, a concorrência, entre agosto e outubro, dos ovos de galinhas caipiras e coloniais, que produzem naturalmente mais nessa época do ano”, informou o presidente do Sindicato Rural da Capital do Ovo.
O mau prognóstico para o segmento de ovos não para aí, segundo Koga. Teme-se que se o segmento do frango de corte antever maior prejuízo nos próximos meses, os incubatórios podem desistir de parte da produção, distribuindo ovos galados na venda a varejo, ampliando a concorrência com o ovo comercial. Mas no momento presente, o que tem assustado mesmo os produtores de ovos é o prejuízo por caixa de ovos, o que tem pressionado enormemente as granjas de poedeiras, especialmente os produtores que não se preocuparam – ou não tiveram condições financeiras – de estocar milho suficiente para abastecer as fábricas de ração para esse momento de alta expressiva do grão.
Segundo Koga, os produtores de ovos vinham acompanhando desde o ano passado as previsões de safra recorde de milho e de expressivo aumento da colheita de soja e estavam otimistas, pois imaginava-se que a alta produção do grãos regularia o mercado. Pela lógica da oferta e procura é o que deveria ter acontecido, já que, usualmente, o alimento com alta produção tem um preço menor. “Muitos não se preocuparam em comprar para estocar, pois imaginava-se que nesse período do ano haveria milho e soja em abundância no mercado interno, o que não ocorreu devido à quebra da safra nos Estados Unidos, o aumento das compras para aquele país, e também para a China e Rússia, que têm sido grandes compradores”, analisa o representante dos avicultores de Bastos.
Com a nova realidade, agora, mesmo os grandes produtores de ovos têm sofrido com a falta de estoque. “Claro que existem aqueles que optaram por estocar milho em grande quantidade, ou mesmo têm sua própria produção do grão. Esses estão numa boa situação e livres desse prejuízo; todavia, na média, a crise gerada pela alta dos insumos é bastante preocupante”, alerta o presidente do Sindicato Rural de Bastos.
Segundo levantamento feito pela Ubabef, entre janeiro e agosto deste ano foram registradas altas de preços, em reais, de 90% nos preços do farelo de soja, de 58% na soja em grão e de 44% no milho em plena safra. Os grãos compõem a base da alimentação das aves e representam 60% dos custos de produção do setor avícola. A alta foi provocada pela estiagem que atinge a agricultura dos Estados Unidos, provocando a quebra das safras norte-americanas dos dois produtos, o aumento de preços no mercado internacional e, em consequência, em mercados como o do Brasil. Nas últimas semanas, a crise levou à redução ou mesmo paralisação da produção em diversos polos produtores avícolas.