Influenza aviária no México torna situação avícola desesperadora

Influenza aviária no México torna situação avícola desesperadora

É o que avalia o jornalista Chris Wrigh, de O Site Avícola, após cobrir um importante evento nacional no México, e ouvir técnicos e avicultores presentes.

Ovonews

maio 10, 2013

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Milhões de aves já foram abatidas no México

Preocupante na China, desesperadora no México. Essa é a situação causada pela influenza aviária. No país que mais consome ovos no mundo, o cenário é desolador, segundo avicultores mexicanos presentes à Convenção Anual da ANECA, a Associação Nacional de Especialistas em Ciências Avícolas do México. O relato é do jornalista Chris Wrigh, editor de O Site Avícola. Sua análise reflete o momento difícil por que passa o México convivendo com o vírus H7N3, que desde o ano passado vem provocando prejuízos aos avicultores, ao mercado e ao futuro do setor.

Wrigh mostra a situação, em seu editorial do dia 9 de maio, após a cobertura do evento que reuniu técnicos e avicultores durante a ANECA.  Segundo ele, os temas do programa não se relacionavam à influenza aviária, entretanto, a influenza foi o tema sobre o qual mais se falou no encontro. “Avicultores mexicanos expressaram seus muitos sentimentos, entre eles, preocupação, medo, angústia, desespero e frustração. Diziam coisas como chegou o demônio, é um evento histórico e fora de controle, acabará com o setor avícola, e outros comentários do gênero". Não é para menos, diz Wrigh, pois os danos causados pelo vírus da influenza aviária altamente patógena H7N3 na zona de Jalisco, em 2012, podem ser classificados como catastróficos. “Isso aconteceu numa região bastante restrita do país e afetou quase que exclusivamente as aves poedeiras. A região de Jalisco é a principal produtora de ovos do México e a perda de 23 milhões de aves, abatidas por conta da doença, só pode ser considerada como catastrófica”.

O surto em Jalisco, que se imaginava controlado pela vacinação em setembro de 2012 reapareceu em janeiro deste ano em novos estados: Aguascalientes e Guanajuato e, de novo, em Jalisco. Só que dessa vez o surto não se limitou às poedeiras; também atingiu as matrizes pesadas e os frangos, com milhões de aves mortas pela doença em si ou sacrificadas. Recente informação oficial confirmou que o vírus já está no Estado de Tlaxcala, distante tanto de Jalisco quanto de Guanajuato. “Durante a convenção de ANECA, Assad Heneidi, representante do Serviço Nacional de Sanidade e Qualidade Agroalimentar do México, anunciou que foi confirmada a presença da influenza aviária H7N3 no Estado de Puebla”, informou Wrigh.

A questão está se tornando mais séria do que parecia, segundo o jornalista do Site Avícola, expondo, ao que parece, a real situação da avicultura mexicana. Ele conta, em seu editorial, que a transmissão do vírus tem razões ainda mais preocupantes do que se imaginava. A distância de 770 km (oito horas de carro) entre Tepatitlán, Jalisco y Tehuacán, Puebla, importantes centros de produção avícola, demonstra que a transmissão do vírus entre esses pontos não pode ser explicada pela distância ou pelo transporte do vento. Algo mais sério parece ter ocorrido.

“Entre esses dois pontos estão as zonas de produção de frango e ovo mais importantes do México. Os avicultores crêem que toda a região central do país tenha sido infectada pelo vírus. Então, se considerarmos como catastrófico o que aconteceu em 2012 em Jalisco, que palavra pode descrever a situação atual, que envolve todo o tipo de ave produtora? Desastroso não parece ser uma palavra suficientemente forte”, avalia o jornalista, acrescentando que “a comercialização de aves de descarte e de esterco das aves de granjas infectadas podem ser a verdadeira causa da rápida disseminação do vírus no México. Esse é o fato com o qual todos parecem concordar. Todavia, mudar essas práticas parece extremamente difícil e levará muitos anos para que isso aconteça.” É o que Chris Wrigh vê na realidade mexicana. Segundo ele, a aparente falta de biossegurança em muitas granjas também recebe parte da culpa pelos problemas.

A frustração dos avicultores está direcionada em grande parte ao governo, embora haja muitas críticas também à própria indústria. As queixas contra o governo são três, basicamente, informa Wrigh. A primeira é a falta de informação, ao não alertar os avicultores o que está se passando, principalmente não informar oficialmente que existe o vírus em estados onde se crê que ele já esteja instalado. A segunda tem relação com a vacina: os avicultores avaliam que a vacina utilizada pelo governo está perdendo a eficácia, mas continua sendo aplicada como principal linha de defesa contra a doença. E, finalmente, a falta de uma política do governo para compensar os avicultores pelos problemas, algo como um seguro que indenize o produtor, como acontece em outros países, em caso de catástrofes como essa. Tudo isso mantém um ciclo de desconfiança dos avicultores em relação ao governo, avalia o jornalista do Site Avícola.

Na opinião de Wrigh, os avicultores mexicanos vêm convivendo com a influenza aviária H5N2 de baixa patogenicidade há, pelo menos, 20 anos; mas o vírus H7N3 é completamente diferente e muito mais perigoso, diz ele. “Não há soluções fáceis. Seguir vacinando, deixar de transportar aves e esterco e melhorar a biossegurança são soluções a curto prazo, mas nada parece apresentar grande expectativa de solução como um todo. A verdadeira solução – e isso foi o que disseram muitos dos participantes do evento no México – é a completa reestruturação da indústria avícola mexicana. As práticas de comercialização no México – que dependem muito dos mercados de frango vivo (33% do mercado nacional), têm que mudar. Se não mudarem, segundo os mesmos avicultores, em vez de ter uma das indústrias avícolas mais importantes do mundo, o México precisará depender das importações de frango e ovo de outros países.”

Infelizmente, conclui Chris Wrigh, parece provável que a situação mexicana piore antes que se encontre uma forma de deter esse `demônio` que tomou a forma do vírus da influenza aviária.”

(A Hora do Ovo, com informações e análise de Chris Wrigh, do Site Avícola)

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