Ácaro que infesta granjas é descrito em revista científica

Ácaro que infesta granjas é descrito em revista científica

Descrição era fundamental para a continuidade do trabalho de pesquisadores brasileiros como Nilce Maria Soares e Edna Tucci, do Instituto Biológico.

Ovonews

julho 16, 2013

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Ácaro (fêmea e macho): perdas de até 30% na produção de ovos em granjas

Uma excelente notícia chega à comunidade científica brasileira ligada ao apoio à produção de ovos no Brasil. A respeitada revista científica Systematic Parasitology publicou em sua edição de julho um trabalho do parasitologista russo Sergey V. Mironov, com a descrição morfológica do ácaro que há alguns anos vem provocando surtos em aviários de poedeiras.

Grande nome da parasitologia mundial, Mironov - chefe do Laboratório de Parasitologia do Instituto de Zoologia da Academia Russa de Ciências – demonstrou, em sua análise, que o ácaro que tem provocado tantos prejuízos em aviários brasileiros é mesmo de um novo gênero e uma nova espécie, descrita pela primeira vez na literatura mundial: Allopsoroptoides galli n.g.,n.sp.

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Edna Tucci e Nilce Soares: pesquisadoras do Instituto Biológico
Essa descrição em publicação científica era fundamental para a continuidade do trabalho que as pesquisadoras Nilce Maria Soares, médica veterinária, e Edna Tucci, biomédica - ambas do Instituto Biológico - estão desenvolvendo há pelo menos três anos junto com o professor João Luiz Horácio Faccini, médico veterinário e parasitologista da Universidade Federal Rural do Rio de Janeiro, o professor e médico veterinário Dr. Ângelo Pires do Prado, da Unicamp, e o professor Davi Vilas Boas, doutorando da Unicamp.

Nilce Maria Soares, que conhece profundamente o problema dos surtos pelo ácaro devido a sua dinâmica atuação na Unidade de Bastos (SP) do Instituto Biológico, explica que somente agora, após a descrição morfológica do ácaro, será possível a publicação científica do trabalho da equipe brasileira com os relatos dos surtos ocorridos, os danos e prejuízos causados ao produtor, dados de histologia e patologia, danos à ave e discussão de outras espécies de aves que podem estar envolvidas na transmissão do ácaro às galinhas.

Edna Tucci, que estuda os surtos por ácaros em granja há muitos anos, junto com Nilce Soares, explica: “A identificação que havia sido feita até então pelo grupo de pesquisadores brasileiros não deixava claro se se tratava de um novo espécime, nunca descrito na literatura mundial, ou se era um parasita de outro grupo de aves - marrecos, por exemplo - e que só agora haviam sido encontrados em galinhas. Para responder a essas perguntas, foi necessário recorrer ao maior especialista nessa área no mundo, após serem consultadas todas as fontes de informação, representadas pelos pesquisadores brasileiros”.

O minucioso trabalho do Dr. Mironov comparou esse novo ácaro com todos os conhecidos até o presente momento e apontou as diferenças morfológicas - através de dados científicos ricamente aprofundados -  que caracterizam a nova espécie. “Esse fato é muito importante e requer um amplo conhecimento de todas as espécies de ácaros que ocorrem nas aves para que não haja o erro de descrever um espécime que já existia em outro grupo de hospedeiros”, explica Edna. Agora, após receber o nome e a descrição, o novo espécime de ácaro passa a existir à luz da ciência, facilitando todos os trabalhos dos pesquisadores.

TRABALHO MINUCIOSO

Nilce Maria Soares explica que o trabalho da equipe brasileira, que poderá ser publicado em revista científica a partir de agora, já está quase concluído  e descreve um caso clínico de infestação de ácaro em granja da região de Bastos (SP). “Trata-se de um estudo bastante sério e minucioso, uma pesquisa detalhada, com descrição do surto e suas consequências”, adianta a pesquisadora Nilce, que já viu em campo casos de prejuízos sérios devido à ocorrência desse ácaro: “A infestação sem controle pode levar à queda de 30% no volume de produção de ovos”, cita.

Edna Tucci reforça a importância da pesquisa prosseguir para atender à necessidade do produtor por maiores esclarecimentos de controle do problema. “Como se trata de um problema novo, ainda não temos respostas para todas as perguntas, mas estamos caminhando com as pesquisas, com o objetivo de encontrar subsídios para o produtor controlar as infestações”.

A seguir, as principais orientações que vêm sendo dadas aos produtores de ovos desde o ano passado, quando o site A Hora do Ovo publicou, em primeira mão, em julho de 2012, a reportagem intitulada Identificado o ácaro que infestou poedeiras em aviários paulistas (leia no link por-dentro-das-granjas/noticias/?id=28|identificado-o-acaro-que-infestou-poedeiras-em-aviarios-paulistas). 

Medidas de prevenção e controle do surto do ácaro Allopsoroptoides galli n.g.,n.sp

O grupo de pesquisadores recomenda que, por se tratar de um problema novo na avicultura de postura, há ainda muitas informações a serem levantadas sobre a ocorrência, dispersão, biologia, epidemiologia e controle desse parasita. No entanto, algumas medidas de prevenção já podem ser aconselhadas e é muito importante que sejam adotadas para tentar evitar a introdução desse ácaro nas propriedades. São elas:

Realizar periodicamente uma inspeção minuciosa dos plantéis para o diagnóstico precoce da infestação. Aves com queda de produção, refugagem, irritação e prurido intenso devem ser cuidadosamente examinadas.

Quanto ao controle de trânsito de pessoas, veículos e utensílios em geral: limitar o acesso às granjas, controlando a entrada e a circulação de funcionários e visitantes. Quando houver a necessidade de entrada, recomendar o banho e a troca de roupas e calçados; utilização de equipamentos de proteção adequados.

Os veículos que entrarem nas granjas devem estar limpos e serem pulverizados com inseticidas/desinfetantes, dando-se especial atenção aos veículos que circulam entre as propriedades, como os caminhões de descarte de aves e esterco, sendo a medida mais correta realizar a entrega das aves e do esterco na entrada das granjas. O mesmo procedimento dever ser adotado para receber as aves de reposição.

As equipes de vacinadores, debicadores externos e vendedores devem ter acesso controlado.

O controle de moscas, roedores e pragas deve ser intensificado por serem potentes vetores na transmissão de ácaros.

O controle ambiental com a queima de penas com vassoura de fogo é uma medida auxiliar, tanto para as regiões de foco como uma medida preventiva em geral.

Todas as recomendações a respeito do tratamento de aves infestadas devem ficar a critério dos responsáveis técnicos de cada granja, que devem responsabilizar-se por suas prescrições. Estes devem estar atentos aos tipos de princípios ativos recomendados, modo de utilização, resíduos, manipulação, manuseio, carência de cada droga, assim como a indução de resistência. 

No descarte de lotes infestados, tratar as aves antes da saída da granja para o abatedouro, com produtos acaricidas. Envolver a carga com malhas de nylon para se evitar a distribuição e a dispersão de penas ao longo do percurso.

Para maiores informações, faça contato com as pesquisadoras.

Dra. Nilce Maria Soares. E-mail: nilcemarias@gmail.com

Dra. Edna Clara Tucci. E-mail: tucci@biologico.sp.gov.br.

(A Hora do Ovo)

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