São Paulo reafirma compromisso com a prevenção da IA em Fórum que reuniu mais de 600 participantes
Profissionais de todos os elos da cadeia avícola participaram do II Fórum Estadual de Influenza Aviária (IA) com foco em “uma só saúde”.
O expressivo número de participantes no dia 3 de junho, no Memorial da América Latina, em São Paulo (SP), demonstra a importância do tema e o alto grau de comprometimento da cadeia avícola do Estado de São Paulo com a influenza aviária. O tema pôs o setor avícola paulista em alerta, como, aliás, estão todos os polos produtivos da avicultura brasileira hoje.
Estavam lá mais de 600 pessoas, entre avicultores, profissionais da indústria avícola e estudantes para participar do II Fórum Estadual de Influenza Aviária promovido pela Coordenadoria de Defesa Agropecuária (CDA) da Secretaria da Agricultura e Abastecimento do Estado de São Paulo. O evento contou com a parceria da Associação Paulista de Avicultura (APA) e da Câmara Setorial de Ovos e Derivados, levando ao auditório do Memorial uma extensa programação com palestrantes do Brasil e do exterior que apresentaram um painel rico e abrangente sobre a influenza aviária sob diversos aspectos.
O tema central, nessa segunda edição do Fórum, foi “Uma só saúde”, conceito que reuniu as palestras em torno da chamada saúde única (One Health em inglês). Trata-se de uma abordagem integrada entre a saúde humana, a saúde animal e a saúde ambiental. Esse conceito surgiu do entendimento de que as doenças podem ser transmitidas entre animais e seres humanos e que fatores ambientais, como as mudanças climáticas, podem afetar a saúde de todos.
A coordenação do Fórum, que integra o projeto de ações educativas da Defesa Agropecuária para a prevenção da influenza aviária, contou com o apoio da Secretaria da Cultura, Economia e Indústrias Criativas, Secretaria de Saúde (SES), Secretaria de Meio Ambiente, Infraestrutura e Logística (SEMIL) e também do Ministério da Agricultura e Pecuária (MAPA). Foi um dia inteiro de palestras e debates no qual foi possível sentir a força dessa cooperação entre entidades, órgãos governamentais e um público ávido por saber mais sobre esse novo tempo na avicultura brasileira, tempo em que, infelizmente, a influenza aviária deixou a ficção e se tornou realidade no setor produtivo. No dia 15 de maio, o Ministério da Agricultura e Pecuária confirmava a existência de um foco de H5N1, vírus de alta patogenicidade, em uma granja de matrizes de frango no município de Montenegro, no Rio Grande do Sul.
UM NOVO CICLO NA AVICULTURA
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Na primeira edição do Fórum, em junho de 2024, os organizadores do evento já chamavam a atenção para “quando” o vírus chegaria em propriedade comercial. E esse momento foi lembrado pela avicultora Cristina Nagano, presidente da Câmara Setorial de Ovos e Derivados do Estado de São Paulo, ao falar para os avicultores e profissionais presentes nesse dia 3 de junho, no Memorial. “Em 2024, falávamos que não se tratava da influenza vir ou não, mas, sim, de quando ela chegaria”, relembrou Cristina, se solidarizando com os avicultores gaúchos pela dura realidade da doença em área comercial. “Não consigo imaginar o tamanho da dor que eles passaram para poder tomar uma decisão tão difícil e poder ver todo um sonho de trabalho exposto da maneira que ficou na mídia e na sociedade.”
Falando sobre a grande responsabilidade que é representar os produtores de ovos paulistas, a líder também destacou a força da união de entidades e órgãos reunidos para realizar a segunda edição do Fórum que ultrapassou o número de inscrições de 2024. “Este evento não seria possível se não fosse feito a muitos nomes”, reconheceu Cristina Nagano e destacou o trabalho de todos os membros da Defesa Agropecuária Paulista, em especial o de Maria Carolina Guido, organizadora do fórum.

Luiz Henrique Barrochelo, médico veterinário e Coordenador da Defesa Agropecuária, ressaltou a importância de estarem reunidos para debater a influenza aviária, o que já estava programado mesmo antes da detecção do vírus no Sul do país. “Estamos aqui reunidos para trocar informações técnicas em um momento importante para a avicultura brasileira, após um caso recente da doença no Rio Grande do Sul que constatou que o serviço de defesa do país é muito eficiente, pois conseguiu conter a entrada da doença até o presente momento e também atingiu o seu objetivo, que foi o de conter rapidamente o foco”, destacou.

Para o presidente da Associação Paulista de Avicultura, Erico Pozzer, o trabalho de biosseguridade mantido pela avicultura paulista tem permitido manter a sanidade em alta no estado que é o maior produtor de ovos do Brasil e o quarto em produção de frango. Valorizando e pedindo atenção redobrada aos avicultores paulistas, Pozzer disse: “Por enquanto, nós estamos mantendo a influenza aviária na praia. Vamos fazer de tudo para mantê-la no litoral. Vamos fazer aquilo que aprendemos a fazer, e com muito mais rigor.”

Maria Carolina Guido, médica veterinária e diretora do Departamento de Capacitação e Educação em Saúde Única (DECESUN), considerou que o Fórum atingiu seu objetivo que foi o de propagar informações técnicas com credibilidade e segurança. A diretora do DECESUN foi responsável pela organização do Fórum junto com sua equipe, e comemorou o resultado de público e de qualidade dos conteúdos do evento. “Foram palestras que se complementaram, teve a participação do público e um auditório lotado para ouvir e falar de um assunto que diz respeito à saúde animal, ambiental e humana, ou seja, uma só saúde”, comemorou.
UMA PROGRAMAÇÃO VALORIZANDO A SAÚDE ÚNICA
Entre os temas abordados no dia 3 de junho, pautas relevantes que contextualizaram a incidência do vírus não só em aves, mas também em mamíferos, inclusive em humanos. A ideia da saúde única – ou uma só saúde – perpassou por todo o evento das 9h às 18h30, em uma sequência de apresentações recheadas de números e ações estabelecidas tanto no interior do Estado quanto no litoral, sempre monitoradas e conduzidas por equipes especializadas na defensoria sanitária e na sincronização de diversas áreas.

Wildo Navegantes, consultor técnico em Emergências de Saúde Pública da Organização Panamericana de Saúde (OPAS), abriu a programação apresentando uma linha do tempo da doença nas Américas e expôs números a respeito dos casos confirmados no continente. De acordo com o representante da OPAS, de 1º de janeiro a 12 de maio de 2025, cerca de 1022 aves, entre selvagens, de granjas ou domésticas, além de mamíferos domésticos, foram afetadas pela doença.
Em relação aos casos em humanos, Wildo mostrou números que revelam um quadro importante a ser considerado no mundo: entre 2023 e 2025 foram registrados 973 casos, sendo 470 mortes. “Em sua maioria, eram pessoas que estavam expostas ao trabalho em granjas avícolas ou, provavelmente, infectadas em ambientes de trabalho, como trabalhadores em fazendas de vacas leiteiras”, comentou.

Nesse sentido, a palestra da médica veterinária brasileira Luciana da Costa, professora da Universidade de Ohio, nos Estados Unidos, foi bastante esclarecedora. Ela e sua equipe trabalharam junto a fazendas norte-americanas nas quais foi detectado o vírus da influenza aviária em vacas leiteiras. A professora apresentou dados a respeito da primeira notificação em bovinos, que ocorreu em 25 de março de 2024, os prováveis modos de transmissão, sinais clínicos, além de orientações de controle. “Estamos falando de uma doença universal e todos temos que falar a mesma língua quando nos referirmos à prevenção”, disse a médica veterinária.
Pesquisas coordenadas por seu grupo de trabalho na Universidade de Ohio analisaram surtos registrados em nove fazendas no Texas, Novo México, Kansas e Ohio, entre fevereiro e março de 2024, com foco nas vacas leiteiras da fazenda de Ohio, que haviam sido transportadas do Texas. “As vacas apresentaram sinais como redução na ingestão de alimentos, menor produção de leite, secreções nasais, diarreia, letargia e mastite, além de leite amarelado ou viscoso”, enumerou a palestrante.
Luciana Costa enfatizou a necessidade de monitoramento intensivo, biossegurança reforçada – como a higienização dos equipamentos de ordenha -, controle de movimentos de animais e pesquisa contínua sobre ciclos clínicos e possíveis rotas de transmissão. Destacou também a importância de coleta de dados sistemáticos para entender a duração da excreção viral no leite e os efeitos na produção leiteira.
UMA VACINA PARA ATENDER AOS HUMANOS
A chegada do vírus a mamíferos acendeu o alerta para o contágio em humanos, fazendo nascer a necessidade de pensar na proteção das pessoas. Pensando nisso, o Instituto Butantan já vem trabalhando no projeto de uma vacina contra influenza aviária para humanos.

O médico infectologista Esper Kallás, diretor técnico do Instituto Butantan, de São Paulo (SP), compareceu ao II Fórum Estadual de Influenza Aviária justamente para falar sobre esse projeto. Na ocasião, Kallás expôs o portfólio de produtos já desenvolvidos pelo instituto e um panorama desde 2021, momento em que o órgão conseguiu a pré-qualificação da Organização Mundial da Saúde (OMS) para o início do desenvolvimento da vacina. “Com a vacinação conseguimos prevenir a infecção, a doença, quadros graves, complicações, hospitalizações e, claro, mortes. Vacinas salvam vidas”, afirmou.
O surgimento de casos em humanos preocupa cientistas, como bem demonstrou o dirigente do Butantan, tanto pelo alto potencial de transmissibilidade do vírus como pela gravidade dos sintomas, que podem variar de uma conjuntivite com sintomas leves de gripe a uma doença respiratória aguda grave, levando à morte. Segundo a Organização Mundial de Saúde, a transmissão da influenza aviária em humanos pode ocorrer após contato com a ave infectada viva ou pela manipulação do animal morto, este último no caso de frigoríficos.
O Instituto Butantan analisou as sequências genéticas dos vírus circulantes na América do Sul para escolher qual vacina a ser desenvolvida; incluiu a cepa H5N1 por se tratar de uma variante altamente patogênica, permitindo uma mudança de cepa caso essa variante se espalhe, indicou o Instituto.
Ter uma vacina pronta, com uma plataforma já testada que mostra que produz anticorpos com segurança é o objetivo do Butantan, considerou o especialista. A ideia, enfim, é estar preparado, ter estoques estratégicos e respostas rápidas em caso de emergência. Para o infectologista, é preciso se preparar hoje para prevenir e mitigar crises de saúde pública no amanhã.
A ECONOMIA DO CONHECIMENTO
A preocupação com a saúde humana tendo em vista uma epidemia de influenza aviária H5N1 é permanente. Por isso, os sistemas de sanidade avícola e saúde humana estão integrados no Estado de São Paulo. O trabalho inclui, entre outras tarefas, a vigilância das síndromes respiratórias agudas, procurando identificar vírus circulantes.

Quem abordou o tema foi a médica Telma Carvalhanas, diretora Técnica de Divisão de Saúde na SES-SP. Representando a Secretaria de Saúde durante o II Fórum Estadual de Influenza Aviária, ela falou sobre o sistema de vigilância das síndromes respiratórias agudas que tem como objetivo identificar vírus circulantes, o acompanhamento de tendências de transmissão ao longo do tempo, a avaliação dos fatores de risco e os possíveis impactos na população.
Sob sua liderança, o DDTR/São Paulo opera um sistema sentinela que coleta dados em unidades de saúde e amostras de pacientes internados em hospitais e UTIs com sintomas graves. A médica explicou que esse sistema permite mapear quais vírus estão circulando e sua distribuição territorial, facilitando respostas rápidas e ajustadas às tendências epidemiológicas. “Em São Paulo, nós começamos com duas unidades sentinelas na capital. E hoje são 24 estrategicamente distribuídas”, indicou a médica.
O trabalho sob a liderança da Dra. Telma também inclui a difusão do conhecimento que pode orientar políticas públicas do estado e a formação e atualização técnica entre profissionais de saúde. Esse ciclo por buscas e difusão de informações tornam esse um trabalho fundamental no monitoramento, controle e respostas rápidas a surtos de doença respiratória de maneira integrada.
Todo esse trabalho faz parte do que a Dra. Telma chamou de “a economia do conhecimento”. “É um conceito que inclui dados para gerar informação e ação. Gerar conhecimento gera resultados, gera valor. E todos ganham”, explicou a médica. Para ela, gerar conhecimento nessa área da saúde pública é poder contar com dados epidemiológicos sérios e fundamentados para análise, consolidação de resultados, vacinação e tomada de decisões e intervenções estratégicas em tempos de surtos.
VENCER O DESAFIO COM INTELIGÊNCIA

Todas as palestras do II Fórum tiveram como fio condutor esse mesmo conceito: estar preparado para o que pode acontecer. E foi justamente esse preparo dos órgãos brasileiros de defesa agropecuária que garantiram uma rápida ação para debelar o foco detectado em granja comercial no Rio Grande do Sul. Ficou claro, durante o Fórum, que o Brasil e seus profissionais têm um serviço sanitário eficiente como bem destacou Marcelo de Andrade Mota, diretor do Departamento de Saúde Animal do Ministério da Agricultura e Pecuária. Em sua fala na abertura do evento, Mota considerou que vamos continuar convivendo com as aves migratórias, as aves selvagens, “mas temos que conduzir os processos de biosseguridade de forma muito eficiente para evitar que essa circulação do vírus chegue ao meio ambiente do sistema comercial”, indicou.
Segundo ele, somos capazes de reverter, em um período muito rápido, essa situação e retomar nosso status livre da influenza aviária. “É muito importante que o setor público, o setor privado e a sociedade em geral tenham informações suficientes e que estejamos todos nivelados no mesmo discurso para poder entender o desafio e atuar de forma prática nessa situação”, afirmou. “Temos um desafio muito grande e vamos combater esse desafio com inteligência e com todas as características de grande profissionalismo que vêm balizando a avicultura do Brasil, principalmente no Estado de São Paulo, cujos segmentos de ovos, genética e produção de carne têm grande importância para o país.”
A PREVENÇÃO E AÇÃO NAS GRANJAS COMERCIAIS PAULISTAS
Foi para falar das ações de sanidade avícola no Estado de São Paulo que o médico veterinário Paulo Blandino apresentou a palestra falando da prevenção e vigilância sobre a influenza aviária em São Paulo. Gerente do Programa Estadual de Sanidade Avícola (PESA) da Defesa Agropecuária, Blandino reforçou as ações de vigilância ativa realizadas no Estado que, desde 2024, já somam 3454 atividades.
O gerente do PESA também informou que passou a ser obrigatório e verificado em fiscalizações em granjas de produção, a implementação de um plano de contingência para IAAP e Doença de NewCastle, além de capacitação constante de colaboradores e funcionários acerca dos temas. “É necessário, mais do que nunca, que todos os envolvidos com o setor estejam cientes de todas as informações a respeito dessas doenças”, afirmou.

À frente de um robusto e bem articulado conjunto de ações que combinam vigilância, biosseguridade, capacitação, monitoramento operacional e coordenação institucional, o médico veterinário e sua equipe gerenciam um trabalho que fortalece a sanidade avícola paulista, mantendo o estado livre da influenza aviária em granjas comerciais e garantindo a continuidade das exportações e da segurança alimentar para o consumidor.
Blandino considerou que tanto a prevenção quanto o atendimento a um foco de influenza demandam várias atividades que, por sua vez, necessitam de uma comunicação precisa entre os diversos elos e setores do serviço de proteção sanitária. “Todos têm que falar o mesmo discurso”, indicou, e é o que propõe o Plano criado em 2024 que une as secretarias do Estado da Agricultura, Meio Ambiente e Saúde. “O Plano foi criado para facilitar o diálogo entre essas instituições governamentais. E esse fórum já é um resultado disso. É uma ação visando uma prevenção para a influenza”, destacou Blandino.
ATENÇÃO E SINAL VERMELHO PERMANENTES
Todo cuidado é pouco e o sinal vermelho deve estar no foco permanente da avicultura paulista, disseram os palestrantes, de uma forma ou de outra. Afinal, o Estado de São Paulo conta com mais de 2.300 estabelecimentos avícolas de corte, 500 de postura e 38 incubatórios de genética, entre outros centros produtivos da avicultura, sempre com a presença do estado nessa cruzada de manter a mesma linguagem de biosseguridade.
São mais de 700 revendas de aves vivas cadastradas no Estado de São Paulo, que também são fiscalizadas e têm importância epidemiológica muito grande no caso da influenza. “Grande parte das aves criadas em subsistência vêm daí. É a partir daí que nós conseguimos saber onde estão os criadores de subsistência e irmos até lá fazer fiscalização, levar educação sanitária e, principalmente, instruí-los sobre como e onde eles devem fazer notificação em casos de mortalidade ou de aparecimento de sintomatologia nervosa ou neurológica”, explicou Paulo Blandino, contextualizando: “Vocês estão lembrados como entrou a influenza viária na América do Sul? Começou pelas aves silvestres, pulou para a subsistência e foi para o setor comercial. Nós trabalhamos muito forte no setor comercial e estamos tentando levar isso para aquele produtor que tem as aves do fundo de quintal, para os nossos colegas que trabalham em parques zoológicos, enfim, para todos, no sentido da prevenção. Não é possível falar em vigilância epidemiológica sem ter uma educação sanitária. Por sua vez, você não consegue falar em biosseguridade completa se não tiver uma articulação institucional.”
Este ano, o Programa de Sanidade Avícola do Estado de São Paulo já conta com mais de 4 mil atividades desempenhadas em todas as regiões. No litoral, o trabalho também é intenso. São 880 km de praias. E ali estão as aves migratórias, com as quais será preciso conviver, conforme comentou Marcos Mota, do MAPA. Felizmente, São Paulo tem uma legislação própria que proíbe a instalação de granjas comerciais no litoral. “Nessa faixa litorânea podemos ter somente estabelecimentos de fundos de quintal ou de aves silvestres ou elementares”, indicou Paulo Blandino.
Outro ponto contado a favor do estado é a parceria estratégica da CBA com a Associação Paulista de Avicultura, cujo termo de colaboração provê a CBA de um corpo técnico especializado em avicultura. O termo de cooperação com a APA foi renovado em 2024, com investimento de R$ 5 milhões, permitindo a contratação de 14 veterinários regionais para reforçar a vigilância sobre a influenza aviária e outras doenças avícolas. “É um programa que funciona muito bem!”, orgulhou-se.
Enfim, são necessárias vigilâncias ativas e passivas, educação sanitária, biosseguridade - que é a base da pirâmide -, capacitação e mobilização permanentes dos principais atores envolvidos, alertou Blandino. A luz vermelha precisa estar sempre acesa, em alerta. “Temos que manter o estado de alerta permanentemente para a influenza e não somente quando houver detecção de casos da doença”, concluiu.
MONITORAMENTO NO LITORAL E FOCO EM ANIMAIS SILVESTRES

Seguindo a lógica e a expectativa do presidente da APA, Erico Pozzer, de que o vírus fique na praia, há fortes indícios de que isso realmente aconteça já que os serviços de monitoramento do Estado de São Paulo nessa região também são muito eficientes e dignos de nota. Foi o que demonstrou a palestra de Claudia Carvalho do Nascimento, sobre o Projeto de Monitoramento de Praias (PMPs) e a importância na prevenção e controle da influenza aviária de alta patogenicidade.
Claudia é médica veterinária, mestre em reprodução animal e doutoranda em biodiversidade em ambientes costeiros. Atua há mais de 20 anos com conservação da fauna, reabilitação de animais silvestres e resposta a emergências ambientais e petroquímicas. Atualmente, é a coordenadora de atendimento veterinário do projeto de monitoramento de praias da área de São Paulo, da Bacia de Santos e da Bacia Sergipe, Alagoas.
Em sua palestra, a especialista revelou dados que mostraram a abrangência dos programas, os quais monitoram, diariamente, 1.650 km de praias em todo o Estado. “De 2020 até o presente momento, nosso pessoal percorreu aproximadamente 485.000 km de praias, com 8030 acionamentos atendidos e 600 solturas realizadas”, revelou.
Claudia também abordou a questão do Sistema de Comando de Incidência, preparação das equipes e instalações e o trabalho conjunto que vem sendo desenvolvido junto às esferas federais e estaduais através do Serviço Veterinário Oficial (SVO).
Todos os protocolos rígidos e padrões seguidos à risca no monitoramento das atividades garantem uma uniformização das informações dentro de um banco de dados que é público. Claudia explicou que o atendimento aos animais se restringe apenas às aves marinhas. “Em 10 anos, nós tivemos 51.614 registros, sendo que majoritariamente são aves e tartarugas. As necrópsias majoritariamente são de aves, com as quais é possível entender as causas de morte desses animais.”
A ideia do plano de ação da equipe é ser o mais eficiente possível, agindo com rapidez pois, como diz a coordenadora do programa, é preciso vencer a inteligência do vírus. “Quando eu montei o plano, a minha decisão foi: não vou dar pernas para o vírus. E até agora estamos conseguindo ser eficientes”, considerou, lembrando que também é importante prestar atenção às aves de rapina, que vêm dos Estados Unidos, do Canadá, aves migrantes que vão para dentro do continente e não vêm para a costa.”
Claudia explicou que há uma preocupação extrema com a saúde dos profissionais que executam o trabalho junto aos animais, mantendo sempre as atividades executadas com proteção máxima conforme os protocolos exigidos. Assim como, também, a sintonia de comunicação é feita de forma bem rápida e exata com outros pontos da defesa agropecuária paulista. “Nós seguimos o fluxo do plano nacional de contingência. O serviço veterinário oficial é o nosso balizador com relação às atividades de comunicação oficial dos casos suspeitos e nós, junto com as instituições, executamos atividades do PNP.”
Todo esse trabalho é feito sempre pensando no bem-estar, na saúde das pessoas e na legislação. “Se usarmos a inteligência, vamos somar com o colega da produção que está focado nas suas áreas de produção, que consegue somar com o colega da saúde, que está somado com seus esforços da saúde. É assim que eu entendo que a saúde única é feita”, destacou.
PROTOCOLOS DE VIGILÂNCIA, REABILITAÇÃO E PREVENÇÃO

Outra ponta do trabalho desenvolvido em caráter de meio ambiente e que complementou o tema da saúde única durante o II Fórum de Influenza Aviária foi a palestra apresentada por Liliane Milanelo, médica veterinária e mestre em Ciências da Saúde. Representando a SEMIL, a Secretaria de Meio Ambiente, Infraestrutura e Logística do Estado de São Paulo, Liliane falou sobre o trabalho realizado no Centro de Triagem e Reabilitação de Animais Silvestres (CETRAS). Integram esse trabalho, entre outros, medidas emergenciais adotadas, grupos suscetíveis para a doença e os desafios enfrentados na prevenção da doença, que incluem o monitoramento de animais terrestres, a ausência de quarentenários e o fluxo de diagnóstico para animais no centro.
O CETRAS‑SP faz parte de uma rede estadual com 26 unidades e atuou de forma expressiva em 2023, registrando quase 5.770 animais silvestres atendidos. A rede fortalece a proteção da fauna silvestre paulista, ampliando capacidade do Centro com protocolos de vigilância, reabilitação e prevenção. Liliane explicou que o Centro de Triagem tem relação muito próxima com as pessoas e com o ambiente, porque grande parte desses animais são suprimidos da natureza através do tráfico. “As pessoas compram filhotes, suprimem ovos e, consequentemente, estamos muito expostos a esses agentes zoonóticos”, explicou Liliane.
Há também esse contato próximo das pessoas no resgate de animais, tanto pelos agentes fiscalizadores, agentes ambientais, quanto pelos cidadãos comuns. Tem aumentado grandemente a comoção das pessoas por animais doentes, animais feridos, animais órfãos vulneráveis e que são levados para casa ou para o centro de triagem. “O Cetra São Paulo recebe mais de 8 mil animais por ano: 75% desses animais são aves. O Cetras Registro no Vale do Ribeira, que iniciou suas atividades em setembro, já recebeu 530 animais, 70% deles são aves, inclusive alguns oriundos do IPEC no litoral”, enumera.
Diante dos primeiros casos de influenza aviária em aves silvestres, medidas emergenciais foram tomadas, em 2023, como aquisição em aporte maior de EPI, máscaras e luvas para o sentido de triagem, porque havia a perspectiva de receber mais animais em condições suspeitas. “Em parceria com a Divisão de Mananciais da Prefeitura de São Paulo, somamos força para fazer uma quarentena específica. Todos os animais considerados suscetíveis para influenza seriam encaminhados para uma quarentena no Parque Anhanguera, no Centro de Manejo de Animais Silvestres (CEMACAS). Orientamos policiais, agentes e fiscalizadores de que todo animal dessas espécies encontrados deveria ser encaminhado para lá”, relembra.
De 2024 para cá, aparentemente, houve uma trégua e não há mais lugar para quarentena. Foi criado, então, um espaço dentro do Cetras São Paulo para atender animais das espécies suscetíveis, examinados por um médico veterinário antes da entrada no centro. O Cetras - São Paulo (Centro de Triagem e Recuperação de Animais Silvestres de São Paulo) está dentro do Parque Ecológico do Tietê, um dos maiores parques de São Paulo, com 14 milhões de metros quadrados. Cerca de 60% desse parque é formado por lagoas, com ambientes aquáticos visitados por diversas espécies, inclusive as espécies migratórias, tanto as migrações regionais, quanto as migrações intercontinentais.
“Então, além de todo o procedimento dos Cetras para que esses animais com suspeita não entrassem em contato com outras pessoas, passamos a fazer monitoramento nesses locais e, em períodos de maior incidência de casos como agora, um biólogo ou um veterinário faz monitoramento de todas essas lagoas, na busca por animais com sintomas ou animais mortos”, indicou Liliane. “Também foram instaladas placas de identificação para visitantes para que eles entrassem em contato ao encontrar animais mortos ou doentes e não mexessem com eles.”
Para as atividades mais suspeitas, com indicação para exames, está sendo utilizada uma parceria com universidade no ABC para essas pesquisas, explica Liliane. Não há, portanto, um local específico para casos mais complexos de doenças infecciosas. “Então, eu sinto um pouco de falta desse fluxo de diagnóstico desses animais. É claro que a SVO não tem, de fato, condições de analisar todos os nossos animais, mas eu acho que seria necessário algum tipo de um fio da meada para que gente pudesse, de fato, fechar esse ciclo e conseguir mapear, pois, como foi dito em palestra aqui, muitas dessas aves coabitam com granjas, com criações, e a gente sabe dessa proximidade.”
DEFENDENDO SÃO PAULO

A programação do II Fórum Estadual de Influenza Aviária, sem dúvida nenhuma, foi a grande estrela da segunda edição do evento, em São Paulo. Somada à grande participação do público nos debates, ficou claro o comprometimento de todos os elos da cadeia avícola paulista com a prevenção à influenza aviária. Ficou clara, também, que o estado conta com uma defesa agropecuária parceira do produtor, das instituições, das entidades representativas do avicultor e dos órgãos governamentais, todos comprometidos com a ciência, a base técnica, a informação transparente e o trabalho no campo, na cidade e no litoral, investigando, testando, trocando informações, numa união de ações sincronizadas e atentas, profissionais e competentes.
Como disse Guilherme Piai, Secretário da Agricultura e Abastecimento do Estado de São Paulo, na abertura do Fórum, todo esse trabalho em defesa da avicultura mostra o estado fazendo o seu papel como se deve, com a política a serviço dos paulistas, com a máquina funcionando para que o agronegócio se mantenha tal como é: uma das atividades mais importantes do Estado de São Paulo e também do Brasil.
“São Paulo hoje tem esse status sanitário, tem essa segurança alimentar para o agro brasileiro, somos o maior produtor de ovos com quase 30% da cadeia nacional, somos o quarto colocado em produção de frango. Nós devemos isso à defesa agropecuária”, exaltou Piai.
A ideia de ter “uma só saúde” como tema central do II Fórum Estadual de Influenza Aviária demonstrou a preocupação da CDA com os animais, com as pessoas e com o meio ambiente, e levou à conclusão de que somos um só “corpo”, cuja saúde depende de tudo e de todos.
(Teresa Godoy/A Hora do Ovo, em cobertura especial no II Fórum Estadual de Influenza Aviária, em São Paulo - SP)
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