Escassez na Venezuela torna o ovo uma raridade
Um dos alimentos mais consumidos pelos venezuelanos sumiu da mesa das famílias, informa reportagem do jornal O Estado de S. Paulo.
E a ditadura chegou ao ovo, um dos alimentos mais democráticos do mundo. Na Venezuela, cujo povo adora ovos, o produto desapareceu da mesa das famílias e ganhou uma elevação de preço nunca antes vista no país. E, claro, a crise se instalou, também, nas granjas avícolas.
Agora, além de todos os problemas, o país convive com mais essa dificuldade.
Confira na reportagem do jornal O Estado de S. Paulo.
OVO, A SÍNTESE DA CRISE ALIMENTAR NA VENEZUELA
(de Pablo Pereira, enviado especial a Maracay, Venezuela)
Cobiçado, alimento que é consumido diariamente na dieta tradicional do país se valorizou nos mercados e, mesmo com aumento do salário mínimo, permanece inacessível para a maior parte da população.
MARACAY, VENEZUELA - A crise econômica da Venezuela transformou a vida do consumidor de Caracas em uma verdadeira caçada diária a um dos alimentos mais cobiçados da mesa dos caraquenhos: os ovos. Base diária no consumo das famílias, em casas e restaurantes, os produtos avícolas andam escassos e o preço nas alturas.
Na sexta-feira, eram vendidos no mercado popular de Quinta Crespo, região central da capital, a 9 mil bolívares a embalagem com 15 ovos, o que, pelo câmbio praticado no dia (cerca de 6 mil bolívares por dólar), equivalia a R$ 5,91 por pacote.
“Um ovo custa US$ 0,10”, brincou um comprador, avaliando o produto no mercado. “Está muito caro”, emendou outro entre as gôndolas, logo no início da manhã. Dentro do mercado, a vendedora na banca de ovos explicou que o pacote com 30 unidades custava 23 mil bolívares (R$ 15,10).
Para se ter uma ideia do impacto do ovo na economia doméstica venezuelana, o salário mínimo local, pago em 15 de abril a uma funcionária pública na capital, que vive em apartamento de um quarto, com o marido e um bebê de cinco meses, foi de 18 mil bolívares.
“Praticamente duas caixas de 15 ovos por um mês de trabalho”, calculou o marido, Alexis Espinoza. Mas agora, segundo ele, há um alento. Desde 16 de abril o governo dobrou o mínimo nacional e a mulher dele passará a receber 40 mil bolívares por mês. Ou seja: usando o salário inteiro do mês poderá comprar duas caixas de 30 ovos. “Mas isso ainda varia porque os preços só aumentam”, argumentou Espinoza.
Granja
Segundo um produtor de aves e ovos da região de San Juan e Vila de Cura, no Estado de Aragua, a cerca de duas horas da capital, onde se concentram estufas de criação, aquele pacote de ovos que custa 9 mil bolívares ao consumidor em Caracas sai do produtor local por 7 mil bolívares (R$ 4,59).
Pedindo para não ser identificado, uma prática cada vez mais usual entre os venezuelanos nestes dias de complicações políticas e escaramuças militares de um país dividido, um gerente de produção de uma avícola contou que o custo para produzir é alto e, além disso, a empresa ainda tem de fazer “trocas” com o governo.
Por convênios, fornece cerca de 30% da produção de ovos e frangos ao setor público para poder obter créditos que lhes permitem retiradas de igual valor em ração e milho para a granja, insumos controlados pelo governo.
Segundo dados da ONU sobre a fome e a crise alimentar no país, cerca de 2 milhões de pessoas precisam de assistência de nutrição, cerca de 1,3 milhão crianças com menos de 5 anos. Na estrada que leva a Caracas, entre Maracay e San Juan, pelo menos três avícolas encontradas pelo Estado deixaram de produzir. Sem as penosas e seus cobiçados produtos, os galpões ficam às moscas.
(A Hora do Ovo, com reportagem do jornal O Estado de S. Paulo)
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