Estiagem seguida de geadas provoca perdas no milho e alta nos alimentos
Segundo maior produtor de milho do país, o Paraná terá a maior perda da história do Estado na safrinha; São Paulo também faz as contas do frio intenso.
O que todo mundo temia já está acontecendo. Com a estiagem, seguida de frio intenso e geadas, as safrinhas de milho não estão resistindo. O resultado é mais prejuízo para os produtores, inclusive os avicultores - que têm no insumo a principal base para a ração das aves. A consequência das intempéries é a alta no preço dos alimentos atingidos.
Reportagem do UOL, no dia 30 de julho, mostra esses problemas para quem produz e para quem consome. Acompanhe trechos da matéria:
“O Departamento de Economia Rural (Deral) do Paraná anunciou que o Estado, o segundo maior produtor de milho do Brasil, vai colher a pior safrinha de milho (segunda safra ou safra de inverno) dos últimos anos.
Segundo estimativas do órgão, divulgadas nesta semana, devido à ocorrência das geadas, a projeção para a safrinha deverá ser de 6,1 milhões de toneladas, quase metade da safra do ano anterior, de 12,34 milhões de toneladas. Até o final do mês passado, a expectativa era de que o estado produziria 9,8 milhões de toneladas, considerando as perdas provocadas pela seca. O prejuízo estimado é de R$ 11,3 bilhões até agora.
Nas projeções apresentadas nesta semana, o órgão aponta que a quebra na safrinha de milho já representa a redução de 50% do volume colhido em relação à produção da safrinha do ano passado e a redução de 58% em relação às expectativas do início da temporada, quando a produção total era apontada em 14,6 milhões de toneladas.
Com isso, segundo o departamento, a perda nesta safra é a maior da história do Paraná, atingindo 8,5 milhões de toneladas. Segundo o órgão, esse volume equivale a três safras de milho de verão, que no Estado gira em torno de 3 milhões de toneladas. "Esta perda histórica foi em decorrência, primeiro, da estiagem que acompanhou boa parte da safra, da ocorrência de pragas [principalmente a cigarrinha e lagarta do cartucho] e com geadas de intensidade forte que ocorreram no final do mês de junho e, em menor grau, as geadas da segunda metade de julho", afirmou Edmar Gervásio, especialista em milho do Deral.
ALIMENTOS MAIS CAROS
A quebra na safra de milho implicará diretamente em alimentos mais caros no supermercado. Isso porque o milho é o principal item da indústria de rações voltadas para a alimentação de frangos, suínos e bovinos. O pico do impacto, segundo especialistas de mercado, deve afetar os resultados no próximo mês, já que a previsão é que o IPCA-15 (índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo) aumente em 1%. Em julho, o aumento foi de 0,47%.
Na última quinta-feira (29/7), a XP Investimentos divulgou uma nota apontando que as geadas ocorridas na semana podem aumentar 1% da inflação neste ano e que o clima pode elevar o IPCA em 7% este ano e a inflação de 6,7%. "Com uma possível nova onda de geada, assim como preços mais altos nas proteínas animais indicam que o cenário pode ter alta de 7,3% nos valores de alimentos", indicou a corretora.
Entre os produtos agrícolas que foram mais atingidos nesta semana, além do milho, estão o café, trigo, cana-de-açúcar (que pode impactar o preço do etanol nos próximos meses) e os hortifrútis. Nessa categoria, de acordo com os especialistas do Centro de Economia Avançada em Economia Aplicada (Cepea/Usp), os mais afetados foram alface, batata e tomate.
Em Mogi das Cruzes (SP), um dos maiores polos de produção hortifrúti, as geadas afetaram 40% das áreas plantadas com alface forçando o descarte de 25% da produção de alface crespa e 20% de alface americana, que tiveram as folhas e o miolo queimados por gelo. Em Ibiúna (SP), outro polo importante para a produção de folhosas, as perdas chegam a 45% das áreas produtivas.
PREÇOS DO MILHO SOBEM E IMPORTAÇÃO AUMENTA
Com as projeções de uma safrinha menor, os preços do milho devem sofrer novos reajustes no segundo semestre. Na semana passada, de acordo com o Deral, o preço recebido pelo produtor atingiu R$ 92,04 por saca (60 quilos), alta de 17% em relação ao final de junho e 124% acima dos preços praticados na mesma época do ano passado.
"Do ponto de vista de abastecimento do mercado doméstico não é possível dizer que faltará milho no mercado brasileiro, entretanto é crível especular que haverá uma redução significativa das exportações brasileiras", afirmou uma nota técnica do Deral, que indicou também que o Brasil deve registrar, ainda neste ano, as maiores importações de milho.
Apenas na última quarta-feira (28/7), chegaram ao país, pelo Porto de Paranaguá, 32 mil toneladas de milho importados da Argentina e, segundo Carlos Cogo, diretor da Cogo Inteligência em Agronegócio, o volume de importações pode chegar a 4 milhões de toneladas ou mais, à medida que os dados sobre a quebra de safra ou a ocorrência de novas geadas ocorram nas áreas produtoras. "Com esse cenário, o Brasil deve bater o maior volume de importação dos últimos 40 anos", disse.
Até o final do primeiro semestre, as importações de milho somaram pouco menos de 1 milhão de toneladas, mas segundo Cogo, o grosso das compras será refletido no próximo mês. Segundo ele, a Argentina já declarou importações superiores a 650 mil toneladas para o Brasil. Conforme a direção do Porto de Paranaguá (PR), desde janeiro, já foram desembarcadas 103 mil toneladas de milho argentino no porto. Além da Argentina, o milho deve ser importado do Paraguai e dos Estados Unidos.”
(A Hora do Ovo, com texto e informações do UOL)
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