Uma história ao lado da avicultura de postura brasileira
Em discurso proferido na abertura do Congresso da APA 2019, em março de 2019, o professor Benedito Lemos de Oliveira (ao lado da filha Daniela, na foto do destaque) agradece o convite para ser presidente do evento e dá uma aula de história da avicultura, mostrando a evolução do setor.
Quero enfatizar que me sinto extremamente honrado com a incumbência a mim conferida, entendida, acima de tudo, como fruto da profunda amizade de todos os companheiros que militam comigo na avicultura de postura, em especial à diretoria da APA e organizadores deste evento, aos quais já apresento meus primeiros agradecimentos.
Sinto-me em casa, por isso, permitam-me senhores, uma breve história.
Em 1969, no dia em que o homem chegava à Lua, fomos eu e granjeiros de Itanhandu (Sul de Minas Gerais), participar do I Congresso Brasileiro de Avicultura, e lá, ouvi, entusiasmado, o professor americano David Mellor afirmar na sua palestra:
“Temos nos Estados Unidos milhões de poedeiras, granjas com automação, máquinas classificadoras, embalagens atraentes e plantas para industrializar ovos, gemas, claras na forma líquida e em pó. Consumimos 318 ovos/ano e compramos 4 dúzias de ovos com uma hora de trabalho. Vocês estão muito distantes mas, diferente de outros países, têm um enorme potencial para crescer e se tornarem um dos líderes da avicultura mundial.”
Éramos o 10º ou o 11º produtor mundial. Em contas rápidas, consumíamos cerca de 62 ovos/ano e comprávamos apenas meia dúzia de ovos com a mesma hora de trabalho. Isso mexeu com meu idealismo pessoal e profissional. Confirmavam-se as profecias de meus orientadores, os professores Egladson e Lamas e assim, como jovem e recém-formado médico veterinário, eu estava convicto da escolha certa, de abraçar a avicultura para trabalhar.
Os temas daquela época eram simples ao olhar de hoje mas, quanto era difícil ver a Doença de Marek dizimando nossos planteis, DCR, Coccidioses e verminoses reduzindo o lucro dos avicultores. Mas, a isso somavam-se naquele Congresso muitas palavras de confiança no futuro.
Em 1973 realizava-se o III Congresso Brasileiro de Avicultura, o primeiro aqui em São Paulo, de onde emanava toda a tecnologia de produção. Nosso consumo já atingia 78 ovos, embora com desafios novos como o surto de bronquite infecciosa.
Vivenciamos o milagre brasileiro com razoável crescimento, registramos o recorde de consumo de 109 ovos per capita em 1987 e 1988, após planos econômicos eficientes, principalmente para populações mais carentes. Decaímos depois, com a inflação alarmante nos anos seguintes. Contudo, chegamos à década de 1990, que mostrou avanços na mentalidade da avicultura, especialmente depois do Plano Real, que estimulou a confiança, expansões de granjas, projetos novos com grandes plantéis, nova logística priorizando a proximidade de grãos, automação, indústrias de ovoprodutos e a conquista de mercados externos.
Muito ajudou a grande evolução nos hábitos e exigências dos consumidores quanto à qualidade dos ovos, embalagens e segurança alimentar e, claro, o incremento da comercialização direta dos ovos com supermercados, recuperando recordes de 104 ovos em 1996/7, pois nosso consumo havia declinado a apenas 88 ovos.
Nessa década, a APA idealizou o Simpósio Paulista de Produção e Comercialização de Ovos com imenso sucesso, o que motivou a transformação e promoção em 1999 do I Congresso de Produção e Comercialização de Ovos APA.
Lembro-me bem do presidente Célio Terra ao descrever a excelente programação desse Congresso voltada para o tema Ovo, a proteína do terceiro milênio. O entusiasmo era total prevendo-se novas tecnologias, o controle das principais doenças, a automação, a indústria de ovoprodutos e o incremento de exportações garantido para a década seguinte.
Desde então, consolidou-se esse Congresso como o maior evento técnico-científico da avicultura de postura no Brasil. Ao final da década, nos tornávamos o 7º produtor mundial consumindo já 150 ovos per capita e preparados para enfrentar desafios de crises do mercado interno e externo, controlando doenças da época, como a Gumboro e Laringotraqueite, e, aos poucos, afastando o fantasma da Influenza Aviária que assolava o mundo.
Chegamos a 2019 praticando uma avicultura adulta, ávida por equilíbrio na sustentabilidade ambiental, sim, esforçando-se no atendimento aos princípios de bem-estar das poedeiras também, e dos milhões de empregados que trabalham com nossas aves; mas, uma avicultura ávida também por uma eficiência zootécnica e econômica capaz de continuar levando muito mais ovos, a proteína do nosso milênio, até a mesa dos brasileiros e de outros países.
Consumimos já 212 ovos/ano e perseguimos o 6º e o 5º postos como produtores mundiais, uma vitória, claro. Mas, podemos e devemos sonhar mais, muito mais, é nossa obrigação, principalmente em viabilizar menor custo dos nossos ovos que, associado aos esforços que sabemos, serão feitos pelo poder público para melhorar o poder de compra. Essa associação certamente nos levará a um consumo per capita mais digno do valor nutricional do alimento que produzimos.
A fala de nossas autoridades e, principalmente os conhecimentos científicos contidos na excelente programação deste evento, como já começamos a sentir hoje, desde os estudos de salmoneloses, nutrição doenças respiratórias, panorama mundial, comercialização e marketing em outros paises e os recursos disponíveis até a avicultura 4.0, tudo nos faz acreditar nos propósitos mencionados. Atendem com certeza aos anseios dos participantes e antecipam o sucesso.
Com este relato quis demonstrar, embora em forma de história, o quanto é importante a participação em congressos como este que aproximam os produtores, empresários, o ensino, a pesquisa e os negócios, contribuindo para o crescimento profissional de cada participante, mas com foco principal no todo, em nossa avicultura de postura.
Enseja-nos, por isso, cumprimentar os organizadores, na pessoa do incansável Dr. Bottura, e a seus companheiros, agora, nossos parabéns!
Finalmente, após 53 anos de militância nas áreas de extensão, assistência técnica, ensino, pesquisa e direção de empresa, quero mais uma vez agradecer a honraria desta presidência, para oficialmente, desejar sucesso a todos e declarar aberto o XVII Congresso de Produção e Comercialização de Ovos da APA.
Muito obrigado!
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Benedito Lemos de Oliveira Autor
Médico veterinário graduado pela UFMG, em 1966. Possui mestrado em Zootecnia pela mesma universidade, em 1975. Foi professor visitante da Universidade Federal de Lavras (MG). É avicultor e atua na avicultura há mais de 40 anos.
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