Uma história ao lado da avicultura de postura brasileira

Uma história ao lado da avicultura de postura brasileira

Em discurso proferido na abertura do Congresso da APA 2019, em março de 2019, o professor Benedito Lemos de Oliveira (ao lado da filha Daniela, na foto do destaque) agradece o convite para ser presidente do evento e dá uma aula de história da avicultura, mostrando a evolução do setor.

Com a palavra

April 04, 2019

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Quero enfatizar que me  sinto  extremamente honrado com a incumbência a mim conferida, entendida, acima de tudo, como fruto da profunda amizade de todos os companheiros  que militam comigo na avicultura de postura, em especial à diretoria da APA e organizadores deste evento, aos quais já apresento meus primeiros agradecimentos.

Sinto-me em casa, por isso, permitam-me senhores, uma breve história.

Em 1969, no dia em que o homem chegava à Lua, fomos eu e granjeiros de Itanhandu (Sul de Minas Gerais), participar do I Congresso Brasileiro de Avicultura, e lá, ouvi, entusiasmado, o professor americano David Mellor afirmar na sua palestra:

“Temos nos Estados Unidos milhões de poedeiras, granjas com automação, máquinas  classificadoras, embalagens atraentes e plantas para industrializar ovos, gemas, claras na forma líquida e em pó. Consumimos 318 ovos/ano e  compramos 4 dúzias de ovos com uma hora de trabalho. Vocês estão muito distantes mas, diferente de outros países, têm um enorme potencial para crescer e se tornarem um dos líderes da avicultura mundial.”

Éramos o 10º ou o 11º produtor mundial. Em contas rápidas, consumíamos cerca de 62 ovos/ano e comprávamos apenas meia dúzia de ovos com a mesma hora de trabalho. Isso mexeu com meu idealismo pessoal e profissional. Confirmavam-se as  profecias de meus orientadores, os professores Egladson e Lamas e assim, como jovem e recém-formado médico veterinário, eu estava convicto da escolha certa, de abraçar a avicultura para trabalhar.

Os temas daquela época eram simples ao olhar de hoje mas, quanto era difícil ver a Doença de Marek dizimando nossos planteis, DCR, Coccidioses e verminoses reduzindo o lucro dos avicultores. Mas, a isso somavam-se naquele Congresso muitas palavras de confiança no futuro.

Em 1973 realizava-se o III Congresso Brasileiro de Avicultura, o primeiro aqui em São Paulo, de onde emanava toda a tecnologia de produção. Nosso consumo já atingia 78 ovos, embora com desafios novos como o surto de bronquite infecciosa.

Vivenciamos o milagre brasileiro com razoável crescimento, registramos o recorde de consumo de 109 ovos per capita em 1987 e 1988, após planos econômicos eficientes, principalmente para populações mais carentes. Decaímos depois, com a inflação alarmante nos anos seguintes. Contudo, chegamos à década de 1990, que mostrou avanços na mentalidade da avicultura, especialmente depois do Plano Real, que estimulou a confiança, expansões de granjas, projetos novos com grandes plantéis, nova logística priorizando a proximidade de grãos, automação,  indústrias de ovoprodutos  e a conquista de mercados externos.  

Muito ajudou a grande evolução nos hábitos e exigências dos consumidores quanto à qualidade dos ovos, embalagens e segurança alimentar e, claro, o incremento da comercialização direta dos ovos com supermercados, recuperando recordes de 104 ovos em 1996/7, pois nosso consumo havia declinado a apenas 88 ovos.

Nessa década, a APA idealizou o Simpósio Paulista de Produção e Comercialização de Ovos com imenso sucesso, o que motivou a transformação e promoção em 1999 do I Congresso de Produção e Comercialização de Ovos APA.

Lembro-me bem do presidente Célio Terra ao descrever a excelente programação desse Congresso voltada para o tema Ovo, a proteína do terceiro milênio. O entusiasmo era total prevendo-se novas tecnologias, o controle das principais doenças, a automação, a indústria de ovoprodutos e o incremento de exportações garantido para a década seguinte.

Desde então, consolidou-se esse Congresso como o maior evento técnico-científico da avicultura de postura no Brasil. Ao final da década, nos tornávamos o 7º produtor mundial consumindo já 150 ovos per capita e preparados para enfrentar desafios de crises do mercado interno e externo, controlando doenças da época, como a Gumboro e Laringotraqueite, e, aos poucos, afastando o fantasma da Influenza Aviária que assolava o mundo.

Chegamos a 2019 praticando uma avicultura adulta, ávida por equilíbrio na sustentabilidade ambiental, sim, esforçando-se no atendimento aos princípios de bem-estar das poedeiras também, e dos milhões de empregados que trabalham com nossas aves; mas, uma avicultura ávida também por uma eficiência zootécnica e econômica capaz de continuar levando muito mais ovos,  a proteína do nosso milênio, até a mesa dos brasileiros e de outros países.

Consumimos  já 212 ovos/ano e perseguimos o 6º e o 5º postos  como produtores mundiais, uma vitória, claro. Mas, podemos e devemos sonhar mais, muito mais, é nossa obrigação, principalmente em viabilizar menor custo dos nossos ovos que, associado aos esforços que sabemos, serão feitos pelo poder público para melhorar o poder de compra. Essa associação certamente nos levará  a um consumo per capita mais digno do valor nutricional do alimento que produzimos.

A fala de nossas autoridades e, principalmente os conhecimentos científicos contidos na excelente programação deste evento, como já começamos a sentir hoje, desde os estudos de salmoneloses, nutrição doenças respiratórias, panorama mundial, comercialização e marketing em outros paises e os recursos disponíveis até a avicultura 4.0, tudo nos faz acreditar nos propósitos mencionados. Atendem com certeza aos anseios dos participantes e antecipam o sucesso.

Com este relato quis demonstrar, embora em forma de história, o quanto é importante a participação em congressos como este que aproximam os produtores, empresários, o ensino, a pesquisa e os negócios, contribuindo para o crescimento profissional de cada participante, mas com foco principal no todo, em nossa  avicultura de postura.

 Enseja-nos, por isso, cumprimentar os organizadores, na pessoa do incansável Dr. Bottura,  e a  seus companheiros, agora, nossos parabéns!

Finalmente, após 53 anos de militância nas áreas de extensão, assistência técnica, ensino,  pesquisa e direção de empresa, quero mais uma vez agradecer a honraria desta presidência, para oficialmente, desejar sucesso a todos e declarar aberto o XVII Congresso de Produção e Comercialização de Ovos da APA.

Muito obrigado!

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Benedito Lemos de Oliveira Autor

Médico veterinário graduado pela UFMG, em 1966. Possui mestrado em Zootecnia pela mesma universidade, em 1975. Foi professor visitante da Universidade Federal de Lavras (MG). É avicultor e atua na avicultura há mais de 40 anos. 

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