Probióticos na criação de aves de postura: futuro ou presente?
O uso de probióticos na postura é uma realidade que pode e deve auxiliar no bem-estar animal, na qualidade dos ovos e na produtividade na granja.
Frequentemente, escutamos que os probióticos vão fazer parte do futuro da avicultura. Mas será que isso é uma tendência para o futuro ou já estamos vivenciando essa nova fase? É muito importante que os avicultores e os profissionais que os atendem tenham a percepção de que o consumidor está cada vez mais preocupado com a origem do alimento que consome, em termos de bem-estar animal e sustentabilidade.
Vivemos em uma sociedade conectada à internet, na qual facilmente podemos ter acesso às diferentes informações, aproximando cada vez mais o consumidor da realidade do campo. Essa mudança no perfil do consumidor, além de impulsionar o mercado nacional e internacional a buscar inovações, pressiona também os governantes a desenvolverem políticas públicas para incentivar mudanças na criação dos animais, como por exemplo, a redução do uso de antimicrobianos químicos. Dessa forma, a adaptação deve ser realizada o quanto antes para que o impacto das mudanças não seja tão perceptível.
Como os antimicrobianos químicos podem afetar o bem-estar das aves e o desenvolvimento sustentável da granja?
Muitos avicultores e especialistas, quando ouvem o termo “bem-estar animal” já associam ao sistema de criação. É fato que o sistema de criação influencia de forma direta no bem-estar animal, mas existem outros fatores que também devem ser considerados. A utilização de antimicrobianos químicos, por exemplo, pode afetar o bem-estar animal de formas indiretas, como:
1. MODULAÇÃO DA MICROBIOTA INTESTINAL.
Os antimicrobianos químicos são fundamentais para o tratamento de algumas doenças. Contudo, quando usados de forma preventiva ou inadequada, podem causar prejuízos para a saúde das aves. Um exemplo é a eliminação de bactérias que podem ser benéficas para as aves. Além disso, a recolonização não controlada, ou seja, sem a utilização de probióticos, pode resultar em uma reinfecção ou até mesmo facilitar a entrada de um novo patógeno.
2. SELEÇÃO DE BACTÉRIAS RESISTENTES.
Uma das diretrizes do bem-estar animal inclui a liberdade sanitária, ou seja, “a ave deve estar livre de doença, injúrias ou dor”. Entretanto, os resquícios de químicos na cama da granja podem facilitar a seleção de microrganismos patogênicos resistentes que podem contaminar o meio ambiente, representando um risco para a saúde do ser humano e dos animais, uma vez que existe essa correção conhecida como Saúde Única.
Quais os impactos na redução dos antimicrobianos químicos e como reduzi-los?
Será que é possível reduzir o uso de antimicrobianos químicos, incluindo os promotores de crescimento, sem afetar o desempenho das aves de postura?
O sucesso na redução de antimicrobianos químicos depende de medidas integradas, o que muitas vezes pode exigir tempo, mudanças de comportamento, além de investimento em infraestrutura. Biosseguridade e instalações adequadas podem garantir que os impactos na redução dos antibióticos sejam reduzidos ou até mesmo não percebidos.
Além dessas medidas, algumas ferramentas, como probióticos e simbióticos, podem auxiliar na redução de doenças e, consequentemente, no uso de antibióticos.
As bactérias probióticas podem auxiliar na redução de enterobactérias patogênicas por diferentes mecanismos de ação, como: exclusão competitiva por sítios de ligação no intestino ou por nutrientes, acidificando o lúmen intestinal, estimulando a resposta imunológica e modulando a microbiota intestinal, como por exemplo, produzindo bacteriocinas que inibem diretamente outras bactérias patogênicas. Algumas bactérias probióticas contribuem também para a renovação da mucosa intestinal em casos de desafios, auxiliando não somente na manutenção da saúde das aves, como também na produção de serotonina, importante neurotransmissor envolvido com o bem-estar.
Ainda, a mucosa intestinal íntegra e desenvolvida proporcionará melhor aproveitamento dos nutrientes, aumentando a produção e a qualidade dos ovos.
Portanto, é importante iniciar a adaptação para as novas tendências do mercado enquanto esse processo ainda pode ser feito de forma gradual e, para tanto, os probióticos podem ser decisivos na redução dos impactos da mudança, principalmente em conjunto com a biosseguridade.
CAMILA ORO Autor
Médica veterinária e coordenadora técnico-comercial da Cinergis
tag: Cinergis , Camila Oro , probióticos , bem-estar animal , produtividade ,