Cascudinho, seu inimigo silencioso*
Neste artigo, o experiente Edir Nepomuceno da Silva destaca a presença nociva do cascudinho nas granjas e a alternativa seu controle.
CASCUDINHO E A AVICULTURA
A presença do cascudinho (Alphitobius diaperinus) tem sido uma preocupação grande e constante para a avicultura em todo o mundo.
Esse artrópode provavelmente migrou para os aviários através de alimentos ou fazendas de estoque de alimentos e hoje é encontrado em todos os tipos de exploração avícola, particularmente nos galpões não cimentados, com cama alta e nos estercos.
Além do seu poder destrutivo para as estruturas dos galpões, ele está envolvido na retenção e transmissão de vários patógenos associados às aves, como as salmonelas, Escherichia coli patogênicas, Campylobacter sp., os vírus das doenças de Marek, Gumboro, Newcastle, Bouba, Influenza, parasitas como as Eimerias, vermes chatos e cecais. Eles carreiam esses agentes tanto externamente nos seus corpos, como internamente, funcionando como reservatórios e transmissores entre consecutivos lotes criados no mesmo galpão. As atuais práticas de manejo e reuso de cama têm contribuído para a presença maciça desse inseto nos galpões.
REPRODUÇÃO E HÁBITOS DO CASCUDINHO
A população de cascudinhos no solo de uma granja avícola é heterogênea, apresentando desde larvas até insetos adultos. As fêmeas botam seus ovos continuamente a cada 1-5 dias, por toda sua vida. As larvas eclodem entre 3 a 10 dias e completam seu desenvolvimento entre 30 e 100 dias, dependendo das condições de umidade e temperatura. Em condições naturais, os insetos adultos vivem de três meses a um ano.
Em condições de laboratório, eles sobrevivem por mais de dois anos. Preferem a noite e ambientes escuros, como debaixo das camas e dentro dos estercos. As larvas e insetos adultos consomem de tudo que podem encontrar num galpão, inclusive as carcaças de aves mortas. A umidade favorece em muito esse hábito e sua sobrevivência; por isso, são mais encontrados próximos dos bebedouros. Para se protegerem, escavam túneis nos galpões ou buscam frestas. As galinhas são grandes consumidoras das larvas e dos insetos adultos.
CONTROLE DO CASCUDINHO
O controle do cascudinho nas granjas é muito difícil e custoso. Geralmente, tem efeito apenas temporário. O método mais comum envolve o uso de inseticidas químicos, que não é o ideal em função dos resíduos que deixam na carcaça das aves e do aparecimento de resistência. O controle biológico através do uso do seu inimigo natural, como a Beauveria bassiana, tem apresentado resultados experimentais promissores.
Além de produtos biológicos, uma alternativa importante é o uso de dessecantes ambientais naturais, como a terra de diatomáceas. Ela exerce um papel importante na ação contra cascudinhos, além de atuar no controle de umidade do ambiente, criando um ambiente desfavorável a diferentes tipos de microrganismos.
A terra de diatomáceas é composta por algas diatomáceas fossilizadas com alto teor de óxido de silício. Não apresenta toxicidade e não deixa resíduos tóxicos onde é aplicada. Seu uso é vantajoso comparado aos inseticidas químicos. Estudos apontam que a terra de diatomáceas foi eficaz tanto para a morte de larvas quanto de insetos adultos e no desenvolvimento zootécnico de frangos de corte (Japp, 2008).
Na natureza as diatomáceas se apresentam com diferentes estruturas físicas na sua composição e apenas alguns tipos são funcionais. É o caso das diatomáceas cêntricas, que possuem estruturas finas e pontiagudas em toda a sua superfície, com auréolas (poros) de maior tamanho que, além de ação física contra os insetos, tem maior absorção de água e, consequentemente, maior ação de dessecação. Esta acontece pela abrasão da epicutícula, resultando na sua morte. Interessante notar que essa ação dessecante persiste por várias semanas e não leva à resistência do inseto, tornando o ambiente mais saudável e agradável, tanto para as aves quanto para os produtores.
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(*) Texto adaptado de: Smith, et al., World’s P. Sci. J., 78:197-214, 2022.
JAPP, A.K. Influência do Alphitobius diaperinus (Panzer, 1797) (Coleoptera, Tenebrionidae) no desempenho zootécnico de frangos de corte e avaliação da Terra Diatomácea como estratégia para o seu controle. Dissertação de Mestrado. UFPR, Curitiba. 2008.
EDIR NEPOMUCENO DA SILVA Autor
Médico veterinário, Mestre e doutor, Diretor Executivo na PGMT e Cinergis Saúde e Nutrição Animal.
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