Estresse calórico: importância da suplementação de fontes de Sódio e Potássio para o controle homeotérmico de aves de postura
Neste artigo da zootecnista Larissa Gomides, da Agroceres Multimix, os passos dados na direção do controle do estresse calórico.
O alto desenvolvimento genético dos frangos de corte e poedeiras comerciais repercutiu em um ganho de resultados zootécnicos muito expressivos nos últimos anos. Apesar disso, uma série de problemas metabólicos e de manejo têm surgido, entre os quais destaca-se o estresse calórico (Borges et. al 2003).
A ave sofre com o estresse calórico quando a umidade relativa e temperatura ambiente ultrapassam a zona de conforto térmico, dificultando a dissipação do calor pelas aves. (figura 1)
Os principais prejuízos causados pelo estresse calórico são:
Perda da qualidade da casca do ovo.
Redução de consumo de ração.
Queda no ganho de peso.
Piora na conversão alimentar.
Má formação dos ossos.
Canibalismo.
Além do aumento da mortalidade.
Todos esses prejuízos são causados devido ao desequilíbrio eletrolítico, caracterizado pela alcalose respiratória. (MONGIN, 1981).
Alcalose respiratória é a alteração do equilíbrio ácido-base e ocorre quando a ave procura restabelecer a sua temperatura interna com o aumento da frequência respiratória, que provoca perdas excessivas de dióxido de carbono (CO2).
Com isso, a pressão parcial de CO2 (pCO2) diminui, levando à queda na concentração de ácido carbônico (H2CO3), hidrogênio (H+) e aumento do pH. Em resposta, os rins aumentam a excreção de HCO3– (bicarbonato) e K+ (potássio), na tentativa de manter o equilíbrio na ave (Borges 2003 et. al) (figura 2)
CONTROLE DO ESTRESSE CALÓRICO
Existem várias estratégias para o controle do estresse calórico em aves de produção, como:
Instalação de ventiladores e nebulizadores.
Manipulação de proteína e energia da dieta.
Manejo de arraçoamento.
Temperatura da água de bebida.
Suplementação de eletrólitos na dieta.
A função principal dos eletrólitos é a manutenção do equilíbrio ácido-base corporal, sendo os íons sódio (Na+), potássio (K+) e cloro (Cl-) fundamentais para o controle da pressão osmótica e do balanço eletrolítico.
Sabemos que, à medida que há a elevação da temperatura ambiente, a concentração de K+ e Na+ diminui na corrente sanguínea, enquanto o Cl- aumenta (BORGES, 1997).
O sódio (Na) está presente na manutenção das funções vitais do organismo, sendo o principal cátion presente nos fluidos extracelulares. Ele atua:
No equilíbrio ácido-base.
Na pulsação do músculo cardíaco.
Na transmissão do impulso nas células nervosas.
Na permeabilidade celular.
Na absorção de monossacarídeos e aminoácidos.
A principal fonte de sódio e cloro nas dietas é o cloreto de sódio (NaCl). Geralmente, quando há necessidade de aumento dos níveis de Na nas dietas, esse não é um ingrediente tão interessante, pois aumenta os teores de Cl e pode provocar queda no desempenho das aves.
O potássio (K) é o cátion intracelular mais abundante e está envolvido em vários processos metabólicos, incluindo a condução nervosa e contração de células musculares. Mudanças na homeostase do K afetam profundamente as funções celulares.
O farelo de soja é um ingrediente rico em potássio (K). Alguns estudos demonstram uma concentração de 1,89 % a 2,07% de K em sua composição (Rieger et al 2008) e, em contrapartida, a farinha de carne e ossos possui uma concentração de 0,36% a 0,41% de K (Eyng et al 2011).
Devido aos impactos dos altos custos de fontes de fósforo nas dietas, principalmente do fosfato bicálcico, expandiu-se o uso de fontes alternativas de fósforo, como a farinha de carne e ossos nas rações de aves. As dietas que contém a farinha de carne e ossos, devido ao seu teor de proteína bruta, reduzem a quantidade de farelo de soja em sua composição.
Isso sugere uma redução dos níveis de K nas dietas compostas por farinha de carne e ossos.
Uma estratégia para manutenção do equilíbrio de sódio e potássio nas dietas de aves é a suplementação via ração, ou água de bebida, de produtos como:
Bicarbonato de sódio (NaHCO3).
Sulfato de sódio (Na2SO4).
Cloreto de potássio (KCl).
Carbonato de potássio (K2CO3).
Fatores externos sugerem diferenças na resposta da suplementação de Na e K nas dietas e dependem da temperatura ambiente, idade da ave e tempo de exposição a altas temperaturas.
Em relação às aves, o balanço eletrolítico da ração pode ser calculado segundo os níveis totais de Na, K e Cl dos ingredientes da ração, pela fórmula simplificada:
[Na+] + [K+] – [Cl-]
Sendo expresso em mEq/kg da dieta, ou ainda pelas relações:
([Na+] + [K+]) / [Cl-]
O equilíbrio eletrolítico da dieta muito alta (360 mEq/kg) e muito baixa (0 mEq/Kg) pode resultar em alcalose metabólica e acidose, respectivamente.
JOHNSON & KARUNAJEEWA (1985) concluíram que um balanço de eletrólitos na dieta menor que 180 mEq/kg e maior que 300 mEq/kg, deprimiu o peso das aves. Um ótimo balanço eletrolítico foi encontrado para rações contendo de 250 a 300 mEq/kg, mas esse valor pode variar conforme a temperatura ambiente, podendo recomendar até 350 mEq/kg em ambientes com temperatura de 25 a 35°C.
A formulação de rações com a adequada proporção de Na+, K+ e Cl- reduz os impactos do estresse calórico e pode ser uma alternativa viável para evitar perdas de desempenho e mortalidade das aves.
Confira, neste site também, as estratégias da Agroceres Multimix para "vencer" o estresse calórico das aves de postura. No link: Em tempos de calor extremo, como manter a saúde e a produção das poedeiras
(Foto no destaque: Aves de postura no Centro de Pesquisas da Agroceres Multimix/Divulgação da empresa)
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BIBLIOGRAFIA
BORGES, S. A.; MAIORKA, A.; FISHER DA SILVA, A. V. Fisiologia do estresse calórico e a utilização de eletrólitos em frangos de corte. Ciência Rural, v. 33, n. 5, p. 975-981, 2003.
MONGIN, P. Recent advances in dietary anion-cation balance: application in poultry. Proceedings of the Nutrition Society, Palmerston North, v. 40, p. 285-294, 1981.
BORGES, S.A. Suplementação de cloreto de potássio e bicarbonato de sódio para frangos de corte durante o verão. 1997. 84f. Dissertação (Mestrado em Zootecnia)-Curso de Pósgraduação em Zootecnia, Universidade Estadual Paulista.
EYNG, C., et al. Composição química, valores energéticos e digestibilidade verdadeira dos aminoácidos de farinhas de carne e ossos e de peixe para aves. Revista Brasileira de Zootecnia, v. 40, n. 3, p. 575-580, 2011.
RIEGER, C. et al. Características químicas e valores energéticos de farelos de soja do oeste e sudoeste do Paraná. Ciência Rural, v.38, n.1, p.266-269, 2008.
JOHNSON, R. J.; KARUNAJEEWA, H. The effects of dietary minerals and electrolytes on the growt and physiology of the young chick. Journal of Nutrition, v.115, p.1680-1690, 1985.
LARISSA GOMIDES Autor
Consultora técnica comercial na Agroceres Multimix, mestre em nutrição de monogástricos.
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