A proteção de galinhas para a doença de Gumboro
Entre as medidas de controle para a doença de Gumboro estão a biosseguridade e a vacinação, processos fundamentais para que se assegure uma produção sem riscos.
Os vírus de Gumboro, ou IBDV, podem ser classificados em sete genogrupos conhecidos que pertencem às cepas clássicas presentes no mundo todo (genogrupo 1), variantes principalmente presentes nos EUA (genogrupo 2), cepas muito virulentas de distribuição mundial (genogrupo 3), variantes mais comuns na América Latina (genogrupo 4), cepas recombinantes especialmente identificadas no México (genogrupo 5), isolados semelhantes entre si de Arábia Saudita, Itália e Rússia (genogrupo 6) e vírus encontrados na Australia (genogrupo 7) (De Fraga et al, 2019; Dey et al, 2019).
A infecção por IBDV causa imunossupressão em aves jovens de 3 a 6 semanas de idade, destruindo linfócitos B, atraindo linfócitos T e ativando macrófagos (Yilmaz et al, 2019).
FIGURA 1
Figura 1. Distribuição das diferentes cepas
de IBDV isoladas no mundo nos sete
genogrupos (De Fraga et al, 2019).
A infecção com cepas clássicas do vírus de Gumboro aos 19 dias de idade, portanto, após a segunda semana crucial para desenvolvimento dos folículos linfoides da Bursa, provoca a redução do tamanho relativo da Bursa já com 24 horas após a infecção, mantendo-se a redução até 8 dias após a infecção. O impacto no sistema imune devido a infecção se dá logo às 12 horas após infecção com aumento da produção de citocinas e interleucinas como IL-6, IL-8, IL-1β, TNFα na fase aguda e TGFβe IL-7 na fase tardia (8 dias após infecção), o que demonstra o impacto que um vírus de cepa clássica de Gumboro exerce no sistema imunológico mesmo após a segunda semana de vida (Xu et al, 2019).
A infecção em aves com quatro semanas de idade também foi capaz de causar atrofia de Bursa após quatro dias de infecção, e mostrou que por contato direto com o lumen intestinal o vírus pode ser detectado em tonsila cecal, intestino e junção de proventrículo e moela. Por contato direto ou após viremia, a Bursa de Fabricius também é infectada em duas horas. O vírus então atinge baço, fígado e rim com 4 horas, seguido de timo com 6 horas pós infecção. O vírus ainda pode ser encontrado em tecido muscular em cerca de 24 horas (Hussein et al, 2019), o que demonstra o caráter sistêmico da infecção, inclusive causando alteração de microbiota intestinal (Abaidullah et al, 2019).
Dentre as medidas de controle para a doença de Gumboro, biosseguridade e vacinação são fundamentais. A atenção com o programa de vacina começa na formação das galinhas, durante o período de recria, que determinará o sucesso do estabelecimento da proteção durante a produção.
Figura 2. O efeito imunossupressor do IBDV não está
associado somente a depleção de linfócitos B, mas também
a comprometimento de respostas celulares (Ingrao et al, 2013).
Com o contínuo crescimento do mercado avícola, requer-se maior eficiência da produção, que são intensamente selecionadas para eficiência alimentar, rendimento e performance (Caldas et al, 2018). O ciclo produtivo deve ser altamente eficiente e as condições de criação das aves - não permitindo estresse - devem ser observadas para que o potencial genético possa exercer sua máxima expressão.
Um dos estresses aos quais as galinhas em formação são submetidas, ainda no período de recria, é o estresse imunológico conferido pelo uso extensivo de vacinas vivas de Gumboro que, além de causar efeitos imunossupressores conhecidos há bastante tempo (Mazariegos, Lukert e Brown, 1990), tem potencial de induzir o desenvolvimento de novas cepas virais ainda mais patogênicas (Pikuła et al, 2018; Dey et al, 2019).
O programa vacinal de galinhas comumente consiste da utilização de cepas vacinais vivas de Gumboro em múltiplas administrações iniciando-se já na primeira semana de vida com cepas clássicas e com cepas mais virulentas geralmente a partir da terceira semana de idade. Não é incomum encontrar empresas que lançam mão de doses dessas vacinas vivas por via ocular ou via oral em água de bebida, com mais de uma dose sendo aplicada antes das quatro semanas de idade, um período em que os sistemas imune, cardiovascular, digestivo e esquelético estão em desenvolvimento. O manejo necessário para a vacinação deve ser bem estruturado e planejado, pois fatores como virulência residual de algumas cepas, imunossupressão e o curto tempo entre preparação da vacina e sua aplicação podem vir a ser problemas (Gelb et al, 2016).
Embora o caráter imunossupressor provocado pelas vacinas (Tayade et al, 2006) seja influenciado pela idade a que os animais são vacinados (Rautenschlein, Samson-Himmelstjerna e Haase, 2007) e dos diferentes agentes envolvidos em respostas secundárias (Lucio e Hitchner, 1979), os efeitos deletérios do quadro infeccioso em diferentes tecidos, com envolvimento dos compartimentos celular e humoral da resposta imune, mesmo com vacinação após 14 dias de idade (Prandini et al, 2016), não podem ser ignorados.
O principal objetivo da adoção de um programa de vacinação é que as galinhas tenham proteção ativa. Comparando-se matrizes leves de um dia vacinadas com vacina recombinante Vaxxitek HVT+IBD no incubatório a matrizes leves vacinadas em um programa tradicional, com duas doses de vacinas com cepas intermediárias de IBDV em matrizes as 3 e 4 semanas de idade, respectivamente, observou-se melhor performance em ganho de peso, ovos vendáveis produzidos por ave, taxa de postura, peso médio por ovo e resistência de casca de ovo mesmo em ambiente com baixa pressão de patógenos e com instalações limpas e desinfetadas (Trotel et al, 2014).
Em matrizes pesadas, Parker e de Wit (2014) avaliaram a qualidade de produção de anticorpos neutralizantes contra o vírus de Gumboro de animais vacinados com Vaxxitek HVT+IBD no incubatório comparado aqueles vacinados com vacinas inativadas. Foi demonstrado que a aplicação única de Vaxxitek HVT+IBD no incubatório foi capaz de induzir níveis de anticorpos circulantes neutralizantes contra IBDV tanto em matrizes durante todo o ciclo produtivo (até 60 semanas) quanto a progênie oriunda de início, meio e final de postura (32, 46 e 61 semanas de idade de matrizes, respectivamente), semelhantes aos resultados induzidos por vacinas inativadas comumente utilizadas nos programas mais tradicionais.
TABELA 1. Parâmetros produtivos comparando-se diferentes
programas vacinais para IBDV em galinhas de postura
(Trotel et al, 2014).
Figura 3. Resistência da casca do ovo (esquerda) e evolução do título
de IBD (direita) em animais vacinados com Vaxxitek HVT+IBD ou
programa convencional (Trotel et al, 2014).
CONCLUSÃO
Portanto, a vacinação de galinhas com Vaxxitek HVT+IBD no incubatório, em ovo ou subcutânea ao primeiro dia, oferece vantagens na redução do manejo e utilização de vacinas vivas para Gumboro em sucessivas aplicações durante o período de recria, reduzindo assim tanto o potencial imunossupressivo das vacinas bem como os processos inflamatórios decorrentes da infecção sistêmica pela cepa viral, conferindo alto nível de proteção para as matrizes – leves e pesadas – durante todo o ciclo de produção. Além disso, o alto e constante título de anticorpos neutralizantes contra IBDV confere a toda a progênie, independentemente da idade da matriz de origem, um alto nível de proteção humoral nas idades precoces.
BOEHRINGER INGELHEIM
(Artigo publicado originalmente na revista A Hora do Ovo 102 - Edição web)
FILIPE FERNANDO Autor
Gerente de Produto – Boehringer Ingelheim Animal Health
TOBIAS FERNANDES FILHO Autor
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