“Não podemos fazer mais do mesmo, hoje ou na pós-pandemia”, diz Mario Penz Júnior

“Não podemos fazer mais do mesmo, hoje ou na pós-pandemia”, diz Mario Penz Júnior

Em palestra no X Fórum Virtual da Asgav, o especialista diz que é preciso inovar, manter a sociedade informada sobre a proteína animal e acompanhar a produção em tempo real.

POLOS DO OVO

setembro 07, 2020

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“Se você está atravessando o inferno, siga em frente”. A frase lapidar de Winston Churchill, célebre Primeiro Ministro do Reino Unido, foi a primeira da série de boas indicações dadas na palestra de Antonio Mario Penz Júnior, ao encerrar a programação do X Fórum Virtual Asgav/Sipargs (veja matéria sobre o Fórum aqui: Asgav faz com sucesso X Fórum Virtual, comemora 55 anos e homenageia lideranças). Realizado no dia 21 de agosto pela Associação Gaúcha de Avicultura, com a presença de líderes do setor e autoridades em diversos níveis, o evento contou com a presença do doutor em zootecnia e diretor global de contas da Cargill falando sobre o momento em que vivemos e, especialmente, como sobreviveremos frente aos desafios do chamado “novo normal” no pós-covid 19.

Ir em frente enquanto se atravessa o inferno, segundo Mário Penz (foto no destaque), é enfrentar os desafios atuais da pandemia sem perder de vista os passos dados na direção do futuro. Experiente profissional do setor avícola, com 48 anos de estrada, Penz também lembrou Louis Pasteur, o cientista francês que considerou que a “sorte favorece a mente preparada”. E ainda, assinou embaixo do revolucionário empresário Steve Jobs, criador da Apple, que concluiu: “Não devemos fazer melhor que a concorrência e sim diferente.”

Com esses três pilares filosóficos, todos baseados na firme experiência do dia a dia de três mitos do sucesso universal, Mário Penz apresentou sua brilhante palestra calcada na máxima do consultor Steven Lerch, da área de produção animal, segundo a qual tudo muda rapidamente no mundo de hoje, quando negócios e setores inteiros podem se tornar irrelevantes da noite para o dia, não importando a qualidade do produto. Por isso, ressaltou o palestrante, não basta apenas a inovação; é preciso contar com um sistema que se reinvente permanentemente, tendo em vista as mudanças constantes.

“Atravessar o inferno é o que estamos fazendo e seguindo em frente”, indicou Penz. “Preparar-se para sermos favorecidos pela sorte é o que se deve fazer para realmente enfrentar o momento e fazer diferente diante dos desafios”. Essas três frases nos dizem que “não podemos ser iguais aos demais. Não podemos fazer mais do mesmo. O meu otimismo é muito grande pela avicultura brasileira e pela avicultura gaúcha”, disse ao dirigir-se aos participantes do fórum, em sua maioria, lideranças e autoridades do Rio Grande do Sul.

Em sua palestra virtual, o respeitado especialista em nutrição animal foi além. Para ele, é precisa estar atento às mudanças mas construir uma base sólida e estruturada na empresa para que não sejamos somente “degustadores” de tecnologias avançadas. O dia a dia deve ser pensado na ponta do lápis incorporando novidades que possam trazer conhecimento aos donos do negócio e também a sua equipe.

Penz destacou que é preciso analisar o cenário atual e entender o porquê das exigências da sociedade por mudanças, especialmente no segmento da alimentação, onde se encaixa a proteína animal brasileira que alimenta o consumidor interno e dezenas de outros povos para quem chegam os produtos brasileiros tão respeitados na atualidade.

Tudo precisa ser bem avaliado nos dias atuais, diz Penz. “Até mesmo as experiências passadas precisam ser questionadas num outro nível de entendimento”, assevera. “E o novo nível de entendimento é a inteligência artificial. Esse será e já está sendo o novo guru dos negócios. Por que nós, da avicultura, não devemos entrar nessa nova vida do conhecimento?”, questionou.

Salientando a posição de destaque do Brasil no mundo global da proteína animal, Penz lembrou que tudo isso não veio de graça. O que fez o Brasil prosperar nesse setor foram vários pontos: primeiro as dimensões continentais do país, com solo e água abundantes; segundo, o investimento de governos militares com uma proposta clara de que seríamos exportadores do agronegócio. “Depois, esses mesmos líderes militares trataram de valorizar a Embrapa, uma instituição que precisa ser lembrada sempre”, relembrou o palestrante.

“Também nessa mesma época, as universidades foram tremendamente valorizadas. Eu particularmente vivi isso, quando o governo federal me autorizou a ir aos Estados Unidos em busca de meu doutorado e mais adiante meu pós-doutorado em nutrição animal. Mas nada disso funcionaria se nós não tivéssemos os produtores e esse grupo de entidades, pessoas e instituições que são absolutamente importantes na nossa sociedade e que são muitas vezes esquecidos”, ressaltou.

O BRASIL COMO DESTAQUE INTERNACIONAL

Alimentar o mundo e chegar a tantos países com sua proteína animal de qualidade tem sido uma tarefa ímpar dos produtores brasileiros, mas é preciso estar atento para manter essa responsabilidade em alta, avaliou Mario Penz. Em sua palestra durante o X Fórum Virtual da Asgav, o especialista lembrou que para atender mercados em expansão, como a China, é preciso cuidar de muitos fatores, em especial, aqueles que tornaram o Brasil o maior exportador de frango do mundo.

Penz lembrou que a China está expandindo suas fronteiras de produção agrícola, ou seja, está ocupando novas áreas de produção, quando, no Brasil, estamos aumentando nossa produtividade na área de que dispomos. Destacou os dados da ABPA, apresentados recentemente, demonstrando a força da produção animal no Brasil. “Mesmo com toda essa loucura que se estabeleceu em março, tivemos uma pequena queda de produção, mas continuamos iguais ao ano passado. Quando todos outros negócios (automóveis, transporte, manufaturados, serviços de consultoria) simplesmente deterioraram, nós conseguimos, através de uma indústria pungente e moderna, segurar as pontas e manter essa alimentação que cabe a nós, esses 35% da carne exportada para o mundo. Esse número, não se surpreendam, tem muita possibilidade de crescer.”

“Claro, temos que cuidar do nosso mercado interno! Um país que tem 210 milhões de habitantes, tem 210 milhões de indivíduos que merecem a nossa atenção e o tratamento para que tenham o alimento na mesa todos os dias. Este ano, estamos trabalhando com muito esforço!”, salientou o palestrante, parafraseando mais uma vez Churchill, ou seja, seguindo adiante em meio ao inferno.

Olhar para dentro do país e cuidar da produção e do produtor são conselhos que o experiente zootecnista deu durante sua palestra. “Nós não podemos ser entusiastas do nosso produto para exportação e não entender o lado do produtor que, por sua vez, agora está nadando num oceano azul”, disse, salientando, no entanto, que é preciso estar permanentemente atento neste mundo de tantas mudanças rápidas.

PRESTANDO ATENÇÃO ÀS MUDANÇAS

Prestar atenção às mudanças é pré-requisito fundamental para se manter saudável no mercado. Mario Penz destacou algumas dessas mudanças em sua palestra no X Fórum Virtual da Asgav. Um dos mais importantes acontecimentos está ligado às mudanças de comportamento alimentar, de comunicação e de relações sociais, associados à geração dos millenials. Também conhecidos como geração Y, os millennials são uma faixa demográfica da população mundial representada pelas pessoas nascidas entre o período da década de 1980 até o começo dos anos 2000.

Dados americanos de 2015 mostram que, até 2050, os millenials serão a população que mais cresce ou se mantém. Segundo Penz, essa geração está mandando em casa. “Porque os millenials não estão mais saindo de casa, como nós saímos, com 22, 23 anos. Eles ficam em casa, servem como ídolos para os irmãos mais jovens e dizem para os pais o que eles devem fazer”. E é através do pensamento dessa geração que muitas mudanças estão acontecendo, salientou o palestrante. “Eles exigem nessa nova sociedade coisas para as quais talvez nós não estivéssemos preparados. E essa pandemia reforçou essa condição.”

Associada a esse novo pensamento está a sociedade urbana, que polui mas grita dizendo que os produtores de proteína animal estão poluindo as águas, desmatando florestas, maltratando os animais. “Nesse novo normal, temos que ser mais corajosos para nos defender em relação ao que a sociedade urbana tem dito a nosso respeito, sem fundamento e sem nenhuma lógica, em qualquer sentido. Essa sociedade urbana grita contra nós, mas todos os dias está comendo, pelo menos, três refeições”, apontou Penz.

Tudo isso também está acontecendo no Brasil, disse ele. “Nós vamos atender os millenials mas também estaremos sempre preparados para outros mercados. Na exportação de aves, se compararmos o Brasil aos Estados Unidos e à Argentina, por exemplo, certamente somos os mais flexíveis. Isso nos deu e continua nos dando a soberania de sermos os maiores exportadores do mundo.”

Na análise do palestrante, o Brasil tem condições de atender a todo e qualquer mercado, desde aqueles que exigem produtos mais sofisticados como os que têm baixo poder aquisitivo e gastam, mais ou menos, 45% de sua renda para comer em casa. “São exigências diferentes, que podemos atender”, ressaltou Penz.

O VELHO NORMAL E NOVO NORMAL

Por conta da pandemia do novo coronavírus, sabe-se que muitas mudanças entraram para a vida das pessoas, seja no Brasil ou no mundo como um todo. Instaurou-se, então, a ideia de que viveremos um novo normal pós-pandemia, uma nova forma de viver com restrições e com os modos exigidos em busca de proteção contra esse novo vírus.

Penz explica que o velho normal é uma sociedade que está pedindo a substituição de antibióticos melhoradores de desempenho por eubióticos na alimentação animal. “Mas tem outras coisas que a sociedade exige já faz algum tempo e agora vem com força, que é a sustentabilidade, o bem-estar animal, a biosseguridade e a produção de proteínas alternativas à proteína animal.”

“ISSO É O VELHO NOVO. VELHO PORQUE JÁ ESTÁ AÍ E NOVO PORQUE A INSISTÊNCIA SERÁ MAIOR NESSES PROPÓSITOS.”

É na certeza de que não há como voltar atrás nesses requisitos que faz com que, especialistas como Mario Penz, indiquem que é preciso atender a esse novo formato de sociedade. Entretanto, tomando muito cuidado para não desvirtuar os requisitos necessários para se produzir com qualidade dentro de uma indústria avícola que precisa atender a milhares de famílias no Brasil e no mundo, alimentando pessoas de todos os tipos.

E é aí que a indústria avícola bate de frente com os ativistas e a sociedade urbana que, mal informada, exige mudanças na produção de alimentos sem sequer ter conhecimento de como esse alimento é produzido. “O mundo inteiro olha para essas reivindicações sem ter noção, mas, para eles, parece que o que fazemos não é bom. Então, nós da produção animal, temos que ser sempre proativos, demonstrando ao mundo que nós não viemos para produzir comida de má qualidade. Muito ao contrário.”

Analisando uma enquete feita em 2016 nos Estados Unidos, Penz mostrou as preocupações da sociedade com segurança alimentar, doenças, hormônios, antibióticos, rótulos e como os animais são criados. “Ou seja, a sociedade não entende o que nós fazemos. Por isso que, questionados por uma pesquisa, terminam por oferecer soluções questionáveis.”

Mario Penz, então, aponta o caminho: “Nos novos tempos, as empresas devem usar todos os mecanismos de comunicação para tranquilizar seus funcionários, parceiros e clientes sobre a importância do nosso trabalho. O trabalho que a Asgav está fazendo, por exemplo, mandando aqueles releases todos os dias, tem uma força tremenda na sociedade urbana”, destacou.

“Quando terminar esse ciclo do novo coronavírus, precisamos criar outro ciclo para chegar nas escolas, nos jovens, para dizer quem nós somos. Porque senão os ativistas terão mais força do que nós na sociedade”. É preciso estar unido, disse Penz, para rebater falácias e falsidades como a tal amostra de frango brasileira que, supostamente, deu positivo para Covid-19 na China. “Nós, nesse período pós-pandemia, devemos nos unir para saber como proceder em relação a isso. Temos que ser cada vez mais incisivos nessas questões. E biosseguridade é a palavra-chave do nosso sucesso.”

A TECNOLOGIA E ATUALIZAÇÃO COMO ARMAS PODEROSAS

Para atender a essa “nova sociedade”, Mario Penz ressaltou em sua palestra que é preciso adotar medidas que ele chama de “velho normal” mas que já deveriam estar acontecendo nas granjas e empresas da avicultura industrial. “A equipe técnica precisa ser qualificada para atender com perfeição a toda a cadeia de produção. As empresas têm que ter treinamento. Nossos técnicos têm que falar todos a mesma língua.”

Ao mesmo tempo, é preciso exigir qualidade das matérias primas na formulação das dietas. “Nós ainda compramos alguns nutrientes como comodities. E como se sabe que 65% do custo do nosso negócio é a alimentação, nós precisamos cuidar mais das nossas matérias primas. Nós temos que estar mais atentos às tecnologias que estão chegando.”

Outro ponto importante, segundo Penz, é a disponibilidade e a qualidade de água na propriedade. “Nós, às vezes, sabemos com detalhes sobre a qualidade do alimento que está chegando a nossa propriedade mas desconhecemos a qualidade da água que os nossos animais estão bebendo.”

A equipe técnica qualificada é um fator primordial sempre, mas deverá ser ainda mais importante no novo normal. “Estamos saindo de uma era de produtividade para a era da resiliência. Nós temos que ter técnicos resilientes. Os novos colaboradores têm que ter metas, objetivos claros, para que, sabendo fazer de uma maneira resiliente, ele consiga contribuir com a empresa”, aponta.

E para entender o que é preciso ser feito, os funcionários precisam ter uma comunicação com clareza. “A relação entre líder e liderado precisa ser absolutamente clara. O liderado precisa ser uma pessoa que, entendendo as metas com clareza, possa assumir parte da liderança. Assumindo a liderança, ele faz com que os processos sejam mais ágeis. Isso dá ao liderado um sentido de comprometimento”, indica Penz. “A partir de agora, a empresa precisa ter líderes com uma cabeça nova para interprestar esse novo futuro.”

A PRODUÇÃO EM TEMPO REAL

Outra questão importante nos novos tempos é a capacidade de estar adiante dos processos produtivos, acompanhando tudo em tempo real. Para isso é necessário investir em tecnologia mas, sobretudo, em treinamento, em educação continuada. “É preciso estar à frente do processo, sabendo como ele está andando. O produtor no campo precisa ser bem informado porque é ele, no final das contas, quem cuida do nosso produto final.”

Nesse acompanhamento, diz Penz, é preciso estar atento às granjas de todos os portes, ao desempenho de todos os produtores. É preciso pensar sempre acima da média para atingir patamares maiores e melhores. “É preciso melhorar os que estão produzindo menos para que eles também atinjam a melhor produtividade e não se focar somente nos maiores. É preciso alavancar os que produzem menos para dentro de uma média melhor. O que vale é conhecer a variabilidade e, em cima dela, melhorar a produtividade.”

“A tecnologia chega para ajudar o nosso processo de produção. Não podemos nos dar ao luxo de trabalhar numa área tão complexa como a nossa sem previsibilidade”, indicou o palestrante. Para ele, a experiência continuará sendo importante sempre mas deve estar associada ao pragmatismo da interpretação dos números.

“Você precisa descobrir as oportunidades dentro de casa, na sua propriedade”, indica o especialista, concluindo: “Quem conseguir produzir o mais próximo possível do tempo real conseguirá fazer as modificações devidas e a qualquer momento, seja em que tempo for.”

(Teresa Godoy – A HORA DO OVO – em cobertura do X Fórum Virtual Asgav)

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