Produtores oferecem produção histórica, mostrando competência
Governo continua sem fazer sua parte, oferecendo incompetência histórica, ao não providenciar infraestrutura para o setor agropecuário.
Enquanto os produtores de ovos da República Dominicana convivem com a superpopulação de galinhas e consequente excesso de produção de ovos, no Brasil se mantém a absurda situação de competência agropecuária x incompetência governamental, para falar pouco. Nunca se produziu tanto e tão bem no campo, e no entanto, nunca se viu tamanha falta de infraestrutura para escoar, comportar e permitir a franca evolução de uma produção agropecuária com tudo para vencer os mais evoluídos países do mundo.
Quem produz faz a sua parte. Quem tem a obrigação de oferecer o arcabouço para que essa produção chegue com qualidade ao consumidor – seja ele do mercado interno ou externo - não oferece, ou não quer cumprir o mínimo que lhe cabe. É o que aponta o especialista Celso Ming, no texto O gargalo do agro, publicado no jornal O Estado de S. Paulo da terça-feira, dia 12 de fevereiro. Segundo aponta Ming, “a nova projeção para o ano, divulgada quinta-feira pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), aponta para a produção de 183 milhões de toneladas de grãos, 13,1% maior do que a anterior. Os números da Companhia Nacional de Abastecimento (Conab) levantados com metodologia diferente, são igualmente otimistas: colheita de 185 milhões de toneladas de grãos, neste período 2012/2013 - 11,3% a mais do que na safra 2011/2012.”
Ming prossegue em sua análise, assinalando que o problema é a infraestrutura. “Faltam condições de armazenamento e de transporte. O analista Paulo Molinari, da consultoria Safras & Mercado, vê grande descompasso entre os ritmos de produção e o de investimento nas últimas décadas: ´Produzimos como uma China e investimos como um Paraguai. Para ele, a disparada dos custos para o produtor come boa parte do retorno proporcionado pelo aumento de produção e pelos bons preços.
Para acolher toda a safra estimada, faltam R$ 10 bilhões em investimentos em aumento de capacidade de armazenamento. O ideal é que o setor possa estocar até 120% da produção. No entanto, neste ano, conta com só 75%. Perto de 45 milhões de toneladas de grãos não têm onde ser guardadas. Ou ficarão dias e dias sob a lona dos caminhões, o que implica custos adicionais, ou em abrigos improvisados, sujeitas a perdas de todo tipo.
A falta de armazéns nas zonas de produção criou novos gargalos, desta vez nos portos. Molinari calcula que, hoje, mais de 60 navios graneleiros estão parados apenas no Porto de Paranaguá (PR), dada a falta dos chamados "pulmões" para estocagem. Cada navio parado custa mais de US$ 40 mil por dia, ou seja, somente aí as perdas diárias sobem a US$ 2,5 milhões.
Daniel Latorraca, gestor do Instituto Mato Grossense de Economia Agropecuária está otimista: ´A redução dos juros básicos para 7,25% ao ano e o maior acesso ao crédito devem levar o produtor a construir mais armazéns´. E André Debastiani, sócio da Agroconsult, concorda: ´O faturamento dos últimos anos, enfim, pode garantir esse salto de qualidade´.”
Celso Ming arremata: “Mas há um pedaço enorme do problema que não pode ser resolvido pelo agricultor. Faltam estradas em boas condições e ferrovias para escoar a safra. Os custos com transporte não param de subir. A saca de milho de 60 quilos, por exemplo, só tem comprador por R$14,00 no Mato Grosso. Mas apenas o frete por caminhão ao Porto de Santos sai por R$17,00. Ou seja, cabe ao governo prover melhores condições de transporte.”
“Os produtores rurais de Mato Grosso estão preocupados com o fantasma do apagão logístico que se aproxima, tão logo se inicie a escoação da produção local de grãos destinada a exportação”, informa reportagem do Olhar Direto, notícias do agronegócio de Mato Grosso. No informativo está o alerta de Luiz Nery Ribas, diretor técnico da Associação de Produtores de Soja e Milho de Mato Grosso: “O apagão logístico está programado; as rodovias, hidrovias e ferrovias existentes no estado são insuficientes para escoar a produção agrícola do estado.” A falta de planejamento é uma das questões que mais preocupam produtores e entidades ligadas ao setor, indica a reportagem. “A inércia do governo no que diz respeito a ampliação de área de escoamento da produção de soja, milho, algodão - para citar apenas as três principais culturas cultivadas em MT -, tem prejudicado não somente a economia local, mas a brasileira como um todo.”
Em suma, embora seja o setor mais próspero do Brasil, o agronegócio continua sendo considerado apenas na hora de divulgar os números grandiosos, como se tivesse sido o poder público a produzi-los. E quem paga o pato serão todos aqueles que dependem dos resultados do agronegócio. Estão nesse rol os avicultores, clientes que são do milho e da soja produzidos com competência mas armazenados (quando há condições para isso), escoados e vendidos após vencerem os percalços da falta de infraesturutra, a altos preços, por conta da incompetência reinante do “outro lado”.