A qualidade na produção do ovo de Bastos

A qualidade na produção do ovo de Bastos

Como a maior produtora de ovos do Brasil está aplicando métodos e práticas empresariais para produzir quantidade com qualidade.

Ovonews

julho 30, 2012

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Avicultura é base da economia de Bastos

Pequena em dimensões geográficas e populacionais, a cidade de Bastos, no Oeste Paulista, é um bom exemplo do ditado segundo o qual “tamanho não é documento”. Por trás da cidade de perfil aparentemente acanhado está a gigante Capital do Ovo, um selo que caiu como luva para a maior produtora de ovos do Brasil.

Bastos é como um ovo, de fato, pequena e recheada de riquezas, o que lhe confere uma substancial importância, tal qual o produto que a tornou famosa no Brasil e na América Latina. Suas habitantes mais ilustres somam quase 20 milhões num município de pouco mais de 20 mil pessoas. As aves em produção são responsáveis pela substancial cifra de 14,5 milhões de ovos produzidos diariamente, um montante que abastece quase 50% do mercado paulista e 15% do mercado nacional. Quase 80% da economia do município depende da produção avícola de Bastos.

Aos números dessa produção, que costumam impressionar, vêm se somando, nos últimos anos, uma disposição para produzir de forma diferenciada. A vontade de produzir um ovo mais próximo do que exige o mercado chegou com as novas técnicas e modos de administrar da geração mais nova, ao assumir o comando das empresas locais. Parte desses conceitos mais modernos está nas mãos de jovens avicultores que se destacam, muitas vezes, num evento promovido anualmente na cidade. É o Concurso de Qualidade de Ovos, uma competição herdada dos pioneiros avicultores e incrementada, ano a ano, com tecnologia e muito respeito pelas regras rígidas e os resultados transparentes.

Não se pode dizer que seja exatamente o Concurso de Qualidade de Ovos o motor de novas tecnologias e da força qualitativa do produto-ovo. Por seu importante trabalho na cadeia avícola, Bastos, por si só, tornou-se um polo agregador de novas ideias na avicultura. As empresas que pensam em lançar um novo produto ou querem testar novas formas de manejo ou insumo costumam buscar o apoio do produtor bastense, tornando suas granjas um verdadeiro laboratório de experiências para o que vai ser utilizado em outras regiões do país.

Avicultores de outros estados brasileiros, presentes na Festa do Ovo de 2011, em depoimento para o vídeo do Concurso de Qualidade de Ovos, confirmaram que é obrigatória a visita à Capital do Ovo ao menos uma vez por ano, durante o maior evento da postura nacional. “Nenhuma grande empresa do setor de avicultura de postura pode tomar decisões sérias, em termos de planejamento, de novos projetos, sem passar por Bastos”, aponta o tradicional produtor de ovos de Minas Gerais, médico veterinário e expert em avicultura, o professor Benedito Lemos. Ele mesmo é um dos muitos produtores que tornam a ida a Bastos uma visita obrigatória. Professor Benedito diz, no vídeo, que frequenta a Capital do Ovo há 30 anos. Pode-se dizer, portanto que tanto a Festa do Ovo quanto o Concurso de Qualidade de Ovos são vitrines de tudo o que acontece na produção local. Realizado todos os anos, há mais de quatro décadas, o Concurso de Qualidade de Ovos de Bastos vem ganhando destaque maior a cada edição e, especialmente, tornando-se mais e mais competitivo, o que demonstra a vontade do avicultor em participar com ovos realmente qualitativos.

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Juízes atestam qualidade do ovo

Juízes do concurso e experientes pesquisadores têm atestado essa evolução, ao longo dos anos, demonstrando que a competição tem sido salutar e, consequentemente, alcançado o objetivo de levar os produtores a se empenharem na busca por um produto que realmente atende ao mercado de ovos do país. “Nós avaliamos os ovos sistematicamente na prática, e aqui, no concurso, conseguimos comprovar o que o produtor de ovos está fazendo”, aponta a pesquisadora Carla Pizzolante, da Agência de Pesquisa Paulista, a APTA Regional Oeste, de Brotas (SP).

 O DIA A DIA

Quem trabalha todos os dias ao lado dos produtores de ovos de Bastos também atesta uma importante mudança do avicultor no modo de enxergar a granja, nos últimos anos. A consultora Estelamara Moreira Ferreira é uma dessas profissionais que acompanham a evolução do setor, notadamente na área de gestão e busca de qualidade.

Oriunda do Sebrae, na região de Marília (SP), foi através da entidade que Estelamara tomou contato com a avicultura de Bastos, num momento, aliás, em que um grupo de avicultores buscava, através do Sebrae, um novo caminho para a gestão de suas granjas. Tempos depois, já uma consultora independente, Estelamara passou a atender empresas da região e, entre elas, granjas de Bastos.

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Estelamara: movimento qualitativo

De 2004 - quando começou esse trabalho mais específico  - até hoje, a consultora vê uma trajetória ascendente na gestão das empresas avícolas. Paulatinamente, as mudanças têm se acentuado e permanecido nesse cenário, diz Estelamara, e essas novas posições - ainda que tímidas - têm marcado pela força com que se impõem. Do lado de dentro das granjas, os empresários de Bastos vêm trabalhando firme para implantar seguidos ítens de orientação para a gestão de qualidade. Se a área tecnológica vem ganhando pontos nos últimos anos, com automação dos aviários e tecnificação das salas de ovos, a gestão das boas práticas de fabricação tem acompanhado um fluxo bem mais satisfatório do que em décadas anteriores.

Estelamara não tem dúvidas de que há um movimento no sentido de se pensar a avicultura com os olhos voltados para a biossegurança e outros pontos importantes da produção com mais qualidade. “É um movimento tímido ainda, com poucos avicultores neste nível, mas já começam a se destacar e tenho esperança que poderão, com seus exemplos e, com o tempo, incentivar outros a buscarem o mesmo caminho, ou seja, gestão é uma arma estratégica que empresário algum pode ter o luxo de dispensar”, preconiza Estelamara.

 O PROFISSIONALISMO

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Lisane: orientação para a qualidade

O movimento em torno de melhores práticas de produção, encarando o ovo como alimento, está exemplificado na contratação de profissionais da área de nutrição, exemplo adotado por algumas granjas de Bastos. A nutricionista Lisane Motta Garcia, de Tupã (região de Bastos) tem investido no conhecimento do alimento ovo nos últimos anos buscando atender a esse novo segmento em sua carreira. Alguns avicultores de Bastos têm contratado engenheiros de alimento ou nutricionistas para atender a essa nova demanda por melhores práticas de produção em suas granjas.

Há três anos, Lisane atende a Granja Katsuhide Maki, onde desenvolve um trabalho de implantação dos processos de biossegurança. Embora a granja já tivesse um trabalho há alguns anos, por conta de atender à legislação sanitária, com a chegada da nutricionista houve uma nova força-tarefa no sentido de se implantar algo mais sistematizado. Aliás, quem tem sabido aproveitar essa oportunidade de seguir à risca o que manda a lei, aproveitando para evoluir com as mudanças que ela exige, está preparando sua empresa para enfrentar um mercado mais exigente.

Lisane concorda que as regras chegam para impôr higiene e método na produção do ovo, tratando a granja como uma indústria, e vê nesse rigor uma chance a mais para os avicultores que enxergarem mais do que o cumprimento da lei sanitária. Os que souberem aproveitar a oportunidade para adequar a produção a métodos mais modernos de produção, só têm a ganhar, diz ela. “São regras que a gente tem que seguir pensando na qualidade do ovo e na saúde do consumidor; então, por que não utilizá-las como orientação para uma qualidade melhor do produto? Além do avicultor estar produzindo um ovo melhor, ele estará sempre se preparando para as mudanças contínuas que o mercado vai exigindo, cada vez mais.”

No trabalho que empreende junto à Granja Katsuhide Maki, Lisane tem podido incrementar sua prática com a pesquisa constante sobre o setor. Desde que dirigiu parte de sua orientação profissional para o setor avícola, não tem deixado de participar dos principais eventos promovidos na área, além de se manter atualizada com leituras especializadas. É dessa forma que a nutricionista acredita estar contribuindo para um ovo mais seguro como alimento, pois, obedecendo às regras impostas pela fiscalização, inevitavelmente o avicultor estará acompanhando a produção com mais rigor, que é o caminho do ovo rumo a novos mercados; à exportação, por exemplo.

As mudanças começam de dentro para fora, acreditam alguns; mas não há dúvida de que as exigências do mercado e, por consequência, as leis que orientam a produção ditam boa parte do que se deve seguir como prática empresarial para um alimento seguro.

Foi por conta dessa demanda que outra nutricionista da região, Aline Mirella Fernandes, também descobriu o mundo do ovo. Há pouco mais de cinco anos, soube que uma das maiores granjas do país, localizada em Bastos, precisava de alguém para dirigir seu “processo de qualidade”. Mandou seu currículo e foi aceita. Na empresa - que mantém quatro unidades na região -, Aline ajudou em diversas ações visando à qualidade, entre elas, a elaboração do Manual de Boas Prátcas (BPF), Procedimentos Padrões de Higiene Operacional (PPHO), Procedimentos Sanitário Operacional (PSO) e Análise de Perigos e Pontos Críticos de Controle (APPCC), além do treinamento para funcionários, realização de auditorias internas, acompanhamento de auditorias externas (fornecedores), elaboração, monitoramento e verificação de planilhas de autocontrole.

A avaliação de Aline, hoje atuando em uma indústria de Botucatu (SP), é que a ação conjunta do avicultor com profissionais de nutrição e gestão, ajuda a melhorar o Controle de Qualidade. “No início, foi um desafio, pois os funcionários não estavam acostumados com tais procedimentos e tiveram uma certa rejeição”, relembra Aline.

“Foi necessário um trabalho de treinamento com a equipe a fim de conscientizá-los da importância do programa de qualidade e, aos poucos, foram entendendo e aceitando que eram diretamente responsáveis pela segurança do produto”. 

A mudança de hábitos foi a principal lição ensinada nessa busca por qualidade e esse “ensinamento” é constante, pois há sempre o que melhorar. Lisane confirma: as palestras e orientações acontecem sempre, pois não se pode parar diante da dinâmica do mercado. O desafio seguinte, na Granja Maki, é a implantação do processo de rastreabilidade, algo exigido apenas pelas empresas que exportam; mas os primeiros passos já estão sendo dados na granja campeã de qualidade em ovos vermelhos no concurso de 2011. “Essa é uma garantia a mais para o consumidor”, conclui Lisane.

“A palavra de ordem é fazer bem feito sempre, mas fazer bem feito com desenvolvimento, seja na produção ou na administração”, orienta a consultora Estelamara.  Em suas experiências nas granjas de Bastos, ela tem podido confirmar que as práticas para uma produção cada vez mais profissional têm sido paulatinamente incorporadas ao cotidiano de funcionários e diretores das granjas de Bastos. Há ainda um longo caminho a trilhar e para que ele seja vencido, é preciso se perguntar, todos os dias, como chegar ao objetivo final com  a qualidade em alta. Para a consultora, é preciso estar atento para a resposta que se quer dar ao mercado de ovos. “O produtor precisa se perguntar sempre se o seu negócio sobreviverá no século XXI com o tipo de gestão que ele está fazendo. Recomendo pensarem a longo prazo e a colocar desenvolvimento em tudo”, resume Estelamara.

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