Qualidade do ovo deve estar em todas as etapas

Muito se fala na mudança do ovo como produto, na sua imagem perante o consumidor e a comunidade em geral, e na capacidade que a cadeia avícola ganhou em produção e métodos, nos últimos anos. O ovo mudou, sim, e mudaram também os processos de produção, a consciência do avicultor e a preferência do consumidor. Todas essas questões estão interligadas e podem ser respondidas olhando para o passado e analisando o presente da produção do ovo, em busca da qualidade.

A evolução do setor é patente, concorda José Roberto Bottura, médico veterinário e diretor executivo do Instituto Ovos Brasil. Profissional que atua há anos no mercado avícola, sempre em pontos-chave da cadeia produtiva, Bottura acompanhou bem de perto as mudanças avícolas no Brasil.

Ele avalia que a qualidade do ovo cresceu porque os investimentos nesse processo também evoluíram. “Novas técnicas de nutrição, novos conceitos de ambiência e manejo, novos e aprimorados programas de evolução genética e sanidade têm contribuído sobremaneira para o crescimento da avicultura brasileira, na produção de carne e de ovos. Todas essa evolução e aprimoramento tem contribuído para o crescimento da qualidade interna e externa do ovo de consumo produzido no Brasil”, avalia Bottura. Ele diz, no entanto, que ainda há muito a fazer para alcançar um nível de excelência nesse setor. E uma dessas ações diz respeito à ponta final da cadeia avícola. É preciso, segundo Bottura, melhorar a apresentação do ovo nos pontos de venda, ou melhorar os meios de transporte de tal forma a diminuir a perda de qualidade. “Não podemos nos esquecer de que estamos produzindo e comercializando um alimento que nós mesmos vamos consumir”.

José Roberto Bottura: conscientização

“Ainda que o ovo seja a única proteína de origem animal que já sai embalada de sua origem - e com uma embalagem altamente resistente -, a falta de alguns cuidados só contribui para a perda de qualidade e de inocuidade do ovo”, avalia Bottura. Na sua opinião, qualidade é um processo que precisa ser buscado constantemente, de ponta a ponta. Nesse sentido, para o executivo da Ovos Brasil, ainda falta algo muito importante para que os avicultores alcancem a qualidade em sua produção: conscientização. “O produtor de ovos precisa se conscientizar de que produz a melhor e mais completa proteína animal para a nutrição humana”.

 Conscientização é também a palavra lembrada pelo consultor Rogério Belzer, presidente do Conselho Diretor do Instituto Ovos Brasil, para descrever o processo que ainda falta ser suprido para complementar os bons resultados de um produto de excelência. “Um produtor mais conscietizado dos benefícios do ovo percebe a importância de produzir  melhor, até como consumidor mesmo. Ele próprio passa a ser mais exigente”, analisa.

Belzer, que atuou durante 12 anos numa empresa de linhagens, e atualmente dedica-se à consultoria e representação de empresas, acredita que para o ovo se consolidar no mercado, é preciso olhar pela qualidade do começo ao fim, da produção ao ponto de venda. Ele acredita que, nesse sentido, os produtores que se dedicam ao varejo estejam mais próximos dessa realidade, pois eles mantêm um contato maior com o consumidor e suas exigências. Nesses casos, se houver um produto com qualidade questionável, o produtor recolhe o produto e o repõe, se não estiver bom. “Então, produzir com qualidade é quase que uma necessidade para esse produtor. Ele sente essa necessidade mais rapidamente”.

O consumidor e a informação

Embora ainda haja muito espaço para crescer em conscientização dos produtores de ovos, já há uma boa parcela investindo em qualidade. É o que se pode comprovar vendo a preocupação dos avicultores de Bastos que se reúnem todos os anos para promover o tradicional Concurso de Qualidade de Ovos.

A competição revela o respeito com que parte da nova geração de avicultores do município está colocando na rotina de suas granjas, procurando produzir, cada vez mais, um alimento que atenda às exigências do consumidor. “O concurso representa - em amostra - boa parte do que se está relizando em tecnologias e manejo nas granjas de Bastos, em busca de um produto melhor”, avalia Leonardo Sacramento Yoshikawa, jovem produtor de ovos que presidiu a comissão organizadora do concurso 2012.

Com a tecnologia disponível e usando toda a informação proposta pelas empresas fornecedoras e pesquisadores, esses avicultores que expõem seus ovos no concurso estão contribuindo para melhorar o caminho trilhado pela avicultura. Informação, portanto, também é uma ferramenta de conscientização. E ela precisa estar nos dois lados da cadeia: do produtor ao consumidor. Este, por sua vez, também precisa estar bem informado sobre o produto ovo, para não cair nos preconceitos, exigindo o produto de qualidade que ele quer e precisa.

Rogério Belzer: informação é uma riqueza

O trabalho do Instituto Ovos Brasil

A busca pela qualidade passa pela informação e, principalmente, pelo valor que a própria cadeia avícola dá ao alimento que produz. Rogério Belzer avalia que a informação é uma riqueza  na busca da qualidade de um produto. Se o consumidor estiver melhor informado, ele vai exigir mais qualidade. Se o produtor tiver acesso a essa exigência, a esse pedido por um produto melhor, ele pode, sim, empreender uma busca por melhor qualidade em sua granja. O consumidor passa a ter mais interesse em consumir o ovo se ele souber das qualidades desse produto; do mesmo modo, bem informado e consciente, ele também passa a não aceitar mais que aquele produto que ele “comprou” como bom, chegue com problemas.

A valorização do produto ovo  foi tarefa abraçada pelo Instituto Ovos Brasil desde 2007. A entidade foi criada justamente para promover ações que divulguem o ovo nos diversos nichos de mercado. Em países com alto índice de consumo de ovos foi de grande valia o papel de instituições de fomento à divulgação. É o caso da Colômbia, onde uma entidade mantida pelos próprios avicultores, unidos numa federação, incentivou - e conquistou - um aumento considerável do consumo de ovos.  No Brasil, o Instituto Ovos Brasil vem trabalhando firme para isso, obtendo importantes resultados com suas ações em prol da divulgação do ovo.

De olho na qualidade do produto e do marketing do ovo, o Instituto Ovos Brasil obteve diversas conquistas, entre elas, “o alto grau de credibilidade do nome e o trabalho do Instituto Ovos Brasil perante as classes formadoras de opinião - como nutricionistas e grande parte das mídias -, resultando num significativo aumento do consumo do alimento ovo pela população brasileira”. Entre 2007 e 2011, período de atuação da entidade, o consumo de ovos no Brasil aumentou, passando de 130 ovos per capita em 2007 para 163 ovos per capita em 2011. “O que falta ainda, segundo Bottura, é conquistar a categoria médica, “difícil de ser atingida pelo status em que se coloca”. “Mas, aos poucos, vamos conquistando a confiança de determinadas especialidades, como os médicos nutrólogos, por exemplo.”

A qualidade, portanto, é um caminho sempre em frente; de conquista em conquista, e com união de todos, é possível alcançá-la com sucesso. 

(Publicado em julho de 2012 no Jornal da Qualidade, veículo de divulgação do Concurso de Qualidade de Ovos de Bastos)