O futuro chegou. E agora?

O futuro chegou. E agora?

É chegada a hora de falar em sustentabilidade da avicultura no mundo. Quem pagará a conta?

Com a palavra

June 10, 2012

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Estamos no século 21, a Rio + 20 foi realizada esses dias. O mundo inteiro despertou para as questões ambientais. A população mundial está preocupada com os rumos da vida no planeta. Na esteira dessas preocupações vêm à tona diversas questões: água, mudanças climáticas, energia, biodiversidade, agricultura, economia verde, produção sustentável e outras mais.

No âmbito da nossa atividade, a avicultura de postura, temos preocupações derivadas dessas questões globais, como a produção com métodos mais ecológicos para não poluir, sanidade, segurança alimentar, economia social (boas condições para os trabalhadores) e bem-estar animal. Nós, produtores de ovos, precisamos nos preparar para enfrentar essas novas exigências da população mundial, os consumidores de nossos produtos. Mas como a diversidade também está presente nesse tema, vou falar especificamente neste artigo sobre o bem-estar animal.

Se fôssemos falar em diferenças e em consumo de ovos, nossos críticos mais radicais seriam os veganos (os vegetarianos em suas diversas modalidades), que não consomem proteína animal. Em seguida, vêm aqueles que aceitam consumir a proteína animal, porém com sérias restrições quanto ao modo de produção.

Para a avicultura de postura, os militantes do bem-estar animal defendem a criação das aves no sistema free-range - as aves soltas em pasto - e combatem práticas como a debicagem e a muda-forçada. Esses consumidores consideram cruéis essas práticas para os animais. Na Europa e em algumas regiões dos Estados Unidos, a legislação obrigou os produtores a adotarem um meio termo paliativo (e provavelmente provisório): a criação em gaiolas enriquecidas, que têm 750 cm² por ave, fita abrasiva para controle do crescimento das unhas, caixas para banho de areia, poleiro, entre outras situações que simulariam a vida natural da ave. A filosofia deles é consumir alimentos produzidos por animais "felizes". Há uma confusão de conceitos entre o bem-estar de animais pets (animais de estimação) e dos animais silvestres e em extinção com os nossos animais de produção. É preciso esclarecer questões como a senciência desses animais, a dor, sofrimento, conforto e "felicidade".

Geralmente os povos mais evoluídos cultural e economicamente são mais exigentes e propensos a valorizar esse tipo de filosofia. Os povos subdesenvolvidos têm como prioridade e urgência simplesmente conseguir alimento. É uma questão social.

Nós, produtores, não podemos assistir a isso de braços cruzados e de cabeça baixa. Cabe a nós nos unir e nos mobilizar para trazer à tona outros temas para debate e combater o radicalismo de pessoas com pouco conhecimento da atividade. As regras e legislações têm que partir do segmento produtivo, de dentro para fora, e não o contrário.

Em 2011, o planeta atingiu oficialmente a marca de 7 bilhões de habitantes, sendo pelo menos 2 bilhões que vivem abaixo da linha da pobreza, na miséria e subalimentados. A estimativa dos especialistas é de que seremos 9 bilhões de habitantes em 2050. O mundo inteiro tem uma obrigação moral de prover o bem-estar social de toda essa população.

Nós, produtores de alimentos, teremos uma função muito importante nesses próximos 40 anos diante do desafio de alimentar tanta gente. A produção intensiva de alimentos será muito valorizada pois é preciso produzir mais e em menos espaço, tendo em conta a valorização do meio ambiente, detendo o desmatamento e reflorestando o planeta.

Sobre os animais que produzem a proteína que alimentará o “novo planeta”, é preciso ter em conta que a prática do confinamento proporciona mais segurança sanitária, a debicagem protege as aves do canibalismo e a prática de muda-forçada (na verdade, uma imitação do que ocorre na natureza) ajuda a prolongar suas vidas. A produtividade mais alta oferecida pelos sistemas intensivos de produção é um indicador desse fato. Além disso, os sistemas free-range e de gaiolas enriquecidas necessitam de mais mão-de-obra, o que, em muitas regiões, é um problema crítico. A necessidade de adaptar as empresas produtoras aos novos sistemas, com gaiolas enriquecidas, portanto, é quase impossível sem financiamento ou subsídio; nesses casos, o custo dos ovos se torna altíssimo.

Resumindo, isso é técnica e economicamente inviável. Na Europa, a maioria dos países não conseguiu se adaptar ao novo regulamento, a produção está diminuindo, os preços de ovos quase triplicaram, as indústrias de alimentos que usam ovos estão em sérias dificuldades. A importação de ovos impõe o mesmo regulamento para quem quiser exportar para eles. Os consumidores mais exigentes terão que aceitar pagar bem mais caro. A condição econômica da maioria dos países europeus (exceto a Alemanha e a Grã-Bretanha) é um grande complicador para essas mudanças. A situação caminha para o caos.

Concluindo, precisamos debater e levar essa discussão para um bom meio-termo entre produtores e consumidores, sem radicalismos para evitar que ocorra no resto do mundo o que está em vias de acontecer na Europa.

Christian Hideyuki Maki é avicultor em Bastos. É graduado em engenharia de produção pela Escola Politécnica da Universidade de São Paulo

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Christian Maki Autor

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