Nós e a Festa do Ovo
As lembranças do avicultor Sérgio Kakimoto, de Bastos (SP), sobre a importância da avicultura para os bastenses.
Portal da Festa do Ovo de Bastos: símbolo da tradição na Capital do Ovo |
Iniciei minha participação na Festa do Ovo de Bastos quando tinha 7 anos, no inverno de 1973. Lembro-me de uma pequena exposição que acontecia no antigo pátio do almoxarifado, onde hoje é o fórum distrital, ao lado da Sabesp e em frente à Praça do Ovo. Vêm à lembrança os kinguios (peixes ornamentais japoneses) e pintinhos tingidos de diversas cores que eram distribuídos às crianças em sacos de papel. Levei esses mimos para casa.
Aos sete anos de idade, lembro-me da minha mãe criando as 300 galinhas na granja, meu pai fazia ração misturando os ingredientes com enxada. Os ovos eram classificados manualmente, a produção era de 1 caixa por semana. A caixa era de madeira e tinha arames de aço que sustentavam os ovos em uma ripa. Cresci neste ambiente comendo muitos ovos. A primeira fábrica de ração era bem simples, construção de madeira com um misturador vertical, moinho, balança de peso, que foi motivo de festa e inauguração com convidados para almoço dentro da fábrica nova.
Os jovens daquela época - hoje muitos deles são avôs - incentivavam a minha participação aos 9 anos de idade como ajudante na montagem de barracões metálicos, de estandes que eram de madeira, das bancadas onde eram expostos as verduras, ovos, frutas e produtos oriundos da agricultura. Eu observava atentamente as pessoas que avaliavam os produtos com uma prancheta, no concurso em que eram premiados os melhores.
Como todos os jovens de Bastos que passaram pela organização da Festa do Ovo, já estive diversas vezes, também, na montagem do famoso arco da entrada e na montagem do Monte Fuji, ambos feitos com ovos. A Barraca da Omelete - sensação todos os anos na Festa do Ovo - também nasceu com um grupo de jovens avicultores. O Concurso de Qualidade de Ovos, tradicional competição pioneira, ganhou novidades na avaliação, com as ideias que trouxemos do exterior para incrementá-lo.
Vi a Festa do Ovo crescer e me orgulho por fazer parte dela. Hoje é uma feira comercial reconhecida internacionalmente, mas ainda realizada como antes, por voluntários que homenageiam o ovo com muito orgulho. O evento sempre foi a vitrine de um cenário avícola dinâmico, mudando a cada ano. Se havia momentos bons ou ruins, a Festa do Ovo refletia esse “humor” do setor produtivo, mostrando todo o dinamismo da avicultura, atividade que exige conhecimento técnico, perspicácia, coragem, garra, decisão e, acima de tudo, dedicação. Da criação artesanal ao sistema californiano, dos barracões elevados ao sistema de baterias totalmente automatizados... tudo isso a Festa do Ovo mostrou ao longo dos anos.
O evento, conhecido como uma feira de inovações tecnológicas no setor de postura, continua preponderantemente com base familiar, sendo a vitrine em que as empresas fornecedoras mostram sua tecnologia e lançam seus produtos. Aqui a tradição convive com o novo, tudo se mistura, a força da avicultura se mostra, o setor se apresenta. Em julho, Bastos é uma festa, é a Festa do Ovo, feita por todos nós.
Sérgio Kakimoto é avicultor, pesquisador e consultor em Bastos (SP).
Sérgio Kakimoto Autor