Estratégias eficazes de alimentação para poedeiras
Os fatores endógenos e exógenos que podem impedir as aves de utilizar ou consumir efetivamente os nutrientes fornecidos. Quem explica é o zootecnista Otávio Rech, da DSM.
Nutrição das aves: os fatores que influenciam |
Existem muitas situações nas quais uma boa fórmula não é suficiente para garantir uma produção eficaz, e quem planeja as dietas deve ter em conta que existem alguns fatores que podem impedir que as aves utilizem e/ou consumam efetivamente os nutrientes fornecidos. Poderíamos classificar esses fatores como endógenos e exógenos.
FATORES ENDÓGENOS são características provenientes das próprias aves, tais como comportamento alimentar referente a preferências de horário de consumo e granulometria e seletividade de partículas, conformação do aparelho digestivo, metabolismo de cálcio/fósforo e a presença de parasitas internos e/ou enfermidades entéricas.
Já os FATORES EXÓGENOS são aqueles que não provêm das aves e poderíamos correlacionar a presença de micotoxinas nos ingredientes, fatores ambientais (temperatura, ventilação, umidade), densidade de criação, água, disponibilidade regular de alimentos e a presença de fatores anti-nutricionais (fitato, polissacáridos não-amiláceos etc). Se estamos buscando os melhores resultados devemos estar atentos e considerar os aspectos fisiológicos e comportamentais das aves, bem como os aspectos restritivos dos ingredientes e do manejo alimentar.
Considerando o manejo alimentar, a compreensão do aspecto comportamental e fisiológico pode definir estratégias quanto à apresentação do alimento, horário de alimentação e a utilização de tecnologias que possibilitam melhor aproveitamento.
Uma das técnicas que podem ser utilizadas para aproveitar o comportamento natural de consumo das aves - especialmente nos períodos de estresse por calor - é a utilização de rações com granulometria mais adaptadas. As aves são anatomicamente preparadas para o consumo de grãos e têm apenas 12 papilas gustativas (Hill, 1971), no entanto, a falta de gosto é compensada por mecanorreceptores no bico (Gottschaldt e Lausmann, 1974) e o tamanho de partícula pode causar alteração no comportamento de consumo (Savory, 1979). Bons resultados em melhoria de consumo podem ser obtidos utilizando um alimento com partículas mais grossas (75% entre 0, 5 a 3,4 mm) a partir da 5ª semana de vida. Experimentos indicam um melhor desenvolvimento de moela apenas com a alteração da granulometria da ração.
Sabe-se também que as aves tendem a ter um consumo maior em 2 a 3 horas antes que as luzes se apaguem e antes de iniciar a ovoposição no período da manhã, sendo que o comportamento de consumo pela tarde é natural e similar também em outros animais. Nesse ponto, outro fator que devemos considerar é o horário de postura e sabe-se que até 85% ocorre no período matutino, fazendo com que as aves, também por isso, concentrem maior parte do seu consumo de alimento no período da tarde.
Conhecendo esse aspecto, o posicionamento da alimentação em maior proporção (2/3) no período da tarde pode ajudar a melhoria do consumo em situações de estresse por calor.
Outra técnica que pode ser empregada a partir da recria (5ª semana) é o esvaziamento de comedouros por cerca de 3-4 horas no meio do dia. Quando fornecemos os alimentos à vontade, “ad libitum”, o comportamento natural das aves é selecionar as partículas grosseiras, deixando as partículas mais finas acumuladas no fundo dos comedouros, além de aparentemente reduzir sua atividade de alimentação. No aspecto fisiológico a presença constante dos alimentos nos comedouros reduz a necessidade de armazenamento no papo, causando uma redução em seu tamanho. Com o esvaziamento de comedouros no meio do dia podemos reduzir o comportamento de seleção, aumentar a avidez das aves por alimentos e promover um melhor desenvolvimento de papo, consumo, peso, uniformidade e aumento de produção. Deve-se ter em conta que o vazio de comedouro não é uma restrição na quantidade de alimento fornecida, e sim, uma restrição de horário, sendo que a quantidade pode ser incrementada em até 3% e com benefício de ter um consumo integral da ração com o emprego dessa técnica.
Com relação ao manejo, outra técnica também pode ser empregada com o intuito de melhorar o consumo nos períodos de calor. Trata-se da luz no meio da noite, um flash de luz de 1h30 a 2h:00 posicionado estrategicamente no meio do período de escuro (16 horas/natural/artificial + 3 horas de escuro + 2 horas de luz no meio da noite + 3 horas de escuro).
O sucesso da técnica está condicionado a um intervalo de escuro de 3 horas entre apagar e acender as luzes e, logicamente, à presença de alimento nos comedouros. A técnica possibilita que as aves desloquem um pouco o seu consumo para uma hora mais fresca do dia, além de melhorar o consumo de cálcio no período de maior demanda, melhorando a qualidade de casca
Outro fator importante - e muitas vezes negligenciado - é a condição de fornecimento da Água nas granjas. Nesse aspecto, além da qualidade físico-química e microbiológica, dois pontos são importantíssimos: temperatura e posicionamento dos bebedouros. Precisamos entender que as aves bebem água por gravidade e, muitas vezes, o que vemos nas granjas são bebedouros mal posicionados, seja por projetos de gaiolas inadequados e/ou por problemas construtivos e de manejo.
Outro problema que impacta grandemente no verão é a elevação da temperatura, causando uma redução expressiva no consumo de alimento e, por consequência, aumentando a mortalidade e reduzindo a qualidade e a produção dos ovos.
A associação de bebedouros mal posicionados com temperatura de água inadequada pode impactar grandemente muitos outros fatores que às vezes o produtor não correlaciona. São eles o aumento da incidência de bicagem e redução da qualidade de empenamento. Uma boa dieta não vale nada se o principal problema na granja é a temperatura da água, pois devemos lembrar que a ave come também em relação ao consumo de água.
Considerando-se os ingredientes que são utilizados nas rações, eles também têm componentes que as aves não podem digerir, pois não possuem enzimas apropriadas. Nessa área, a evolução e o desenvolvimento de uma gama de enzimas adaptadas às dietas das aves mostra um cenário promissor para abordar esse viés nutricional, conforme mostrado na tabela abaixo (adaptada de Thorpe e Beal, 2001).
O uso de enzimas hoje é uma realidade e impacta grandemente não somente na redução de custos como também na melhoria das condições de ambiente devido às menores perdas de nutrientes através do esterco.
Sem dúvida, devemos ter em mente os conceitos acima quando estivermos projetando uma dieta, pois só assim estaremos mais perto das necessidades de nossos planteis e sendo capazes de aproveitar todo potencial genético desenvolvido por mais de 60 anos.
OTAVIO ANTONIO RECH
é zootecnista M.Sc.
e Gerente de Produtos
Poedeiras Latinoamerica DSM
Otavio Antonio Rech Autor
Zootecnista M.Sc. e Gerente de Produtos Poedeiras Latinoamerica DSM