Consumidores exigentes, ovos de qualidade
No Japão, a cadeia avícola se rende, com rigor, à qualidade exigida pelo consumidor
A cadeia produtiva do ovo no Japão está bastante evoluída. Um dos maiores consumidores de ovos do mundo, os japoneses atribuem muita importância aos quesitos biossegurança, segurança alimentar e meio ambiente. Esses fatores determinam a competitividade da cadeia produtiva do ovo no Japão, enquanto no Brasil os direcionadores de competitividade mais relevantes ainda são a gestão da empresa e a tecnologia.
Em visita a granjas daquele país – no mês de junho – vi que os barracões onde ficam as galinhas são totalmente vedados, com ambiente controlado. O depósito de ovo é comparada a uma indústria de alimentos, sendo o nível tecnológico e de limpeza do local mantida a um patamar extremo. Como exemplo, para entrarem no depósito de ovos, os funcionários precisam passar por uma sala de higienização, onde lavam as mãos e as secam em aparelhos equipados com ar quente. Após esses procedimentos, eles ainda põem as mãos em um dispositivo que ejeta álcool e, só então, automaticamente, a porta que acesso ao depósito é aberta para a passagem humana. Não sem antes haver outra etapa: uma espécie de antessala, onde é passada uma forte corrente de ar para retirar qualquer impureza que possa ainda ter permanecido nas roupas.
Os ovos pré-selecionadas no setor de produção são levados ao depósito por caminhões próprios. Esses ovos são lavados com água, em temperatura de 50 graus Celsius, contendo gás sanetizante, pois outros produtos como o cloro, podem deixar algum odor no ovo. Na sequência, o produto passa por inspeção computadorizada, para sujeira ou trincas. E só então são pasteurizados através de imersão em raios ultra-violeta. Depois, ovos são inspecionados para detectar, automaticamente, a presença de sangue ou ausência de gema. Os ovos com casca fina e com leve trinca são levados para a fábrica de ovo líquido. Porém, todos os ovos que não passam pela inspeção são descartados; vão para o lixo.
Os resíduos, como ovos de descarte, galinhas mortas e estrume, são levados diariamente ao setor de tratamento de dejetos. No Brasil, seriam as nossas esterqueiras; no Japão, porém, há uma estrutura de fábrica de adubo orgânico acoplada. O esterco misturado aos demais dejetos são processados em um equipamento, uma espécie de copo gigante de capacidade de 86 m³ contendo um eixo central com pás que giram, introduzindo ar. O esterco é fermentado em quatro dias, produzindo adubo orgânico em forma de pó e seco. Nesse local não há odor forte e nem presença de moscas. O adubo ensacado é vendido em lojas. É obrigatório: toda a planta produtiva do ovo, além da produção e depósito de ovos, deve considerar o setor de tratamento de estrume. No entanto, o tratamento de esterco e a fábrica de ração são, em alguns casos, terceirizados.
Num país onde os clientes exigem qualidade, os atores da cadeia produtiva estão em constante aperfeiçoamento para melhor atendê-los. E o ovo de qualidade não pode faltar na mesa dos japoneses que consomem, em média, 350 ovos per capita ao ano.
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Sérgio Kakimoto é avicultor em Bastos
(SP), pesquisador e consultor avícola
Sérgio Kakimoto Autor