“Qualidade é sinônimo, sim, de lucratividade”

“Qualidade é sinônimo, sim, de lucratividade”

Diretora da Agroqualitá Consultoria, a médica veterinária Dione Francisco revela as melhorias conquistadas com o Projeto Ovos RS, no Rio Grande do Sul.

Ovonews

agosto 10, 2014

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Dione Francisco: trabalho de qualidade

Os méritos pelo sucesso do Projeto Ovos RS podem ser divididos igualmente entre os diversos profissionais que trabalharam para colocar em campo uma das mais bem-sucedidas ações em prol do ovo no Brasil. Criado em 2013 pela Associação Gaúcha de Avicultura para promover o consumo do ovo no Rio Grande do Sul, o Projeto Ovos RS não se limitou a promover um marketing do ovo tão somente; convidou os avicultores a melhorarem seus processos internos, investindo na capacitação da postura comercial, visando à obtenção do selo Ovos RS em suas embalagens.

Por trás desse selo - que gabarita os melhores produtos nas gôndolas - está o trabalho consistente da Agroqualitá, consultoria que norteou a pesquisa e o desenvolvimento das linhas de atuação pela qualidade dentro das granjas participantes do projeto. Na liderança, a médica veterinária Dione Francisco, diretora da Agroqualitá, acredita que os resultados positivos foram possíveis graças à integração de diversas áreas trabalhando sintonizadas para a consistência dessa busca pela qualidade. Segundo Dione, essa sintonia pode ser a chave, também, para que as granjas detectem os pontos críticos da produção e busquem soluções no seu dia a dia. “Quando pensamos em qualidade na área de postura, não temos como deixar de lado a produção; e tudo o que se refere à produção de ovos foi incorporada em nossa averiguação das granjas no Projeto Ovos RS. Levamos em consideração as boas práticas agropecuárias e também as Boas Práticas de Fabricação, tendo como base a legislação vigente do Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento”.

Convidada a participar do projeto pelo executivo José Eduardo dos Santos, da Asgav, Dione contou com sua experiência de 10 anos na área de consultoria em qualidade, pondo em prática uma força tarefa muito bem planejada e baseada nas pesquisas feitas a campo, no Rio Grande do Sul. Foram avaliados quase 110 quesitos dentro das propriedades, resultados que nortearam o trabalho de capacitação e melhoria na produção. Foram parceiros no projeto o Ministério da Agricultura - o Mapa - e a Secretaria de Agricultura, Pecuária e Agronegócio do Rio Grande do Sul, que tiveram participação, inclusive, na capacitação da equipe de trabalho do projeto. “Nas capacitações, foram elencados os principais pontos críticos averiguados pela fiscalização. Então, mesmo antes de irmos a campo, já sabíamos as maiores dificuldades que as granjas encontravam”, indica Dione.

DOCUMENTANDO TUDO

Ajudar o produtor de ovos a entender a legislação é um ponto importante nessa caminhada pela busca da qualidade, avalia a consultora. Esse é, segundo ela, um problema recorrente no setor produtivo. Transformando a dificuldade em caminho para as soluções, a equipe de Dione transformou os quesitos da legislação em perguntas da lista de questões a serem consultadas junto aos produtores de ovos, isso para facilitar tanto para a equipe quanto para os avicultores. “E foi a análise das inconformidades que deram origem às soluções de adequações”, aponta a consultora.

Um dos desafios na busca pela qualidade, segundo Dione, é a falta de documentação no processo. “Quando pensamos em qualidade, nos referimos não só às ações propriamente ditas, mas também aos documentos que devem ser descritos para que aquelas ações sejam realizadas sempre da mesma maneira, assim como o desenvolvimento de ações de monitoramento e verificação dessa qualidade.” O processo de documentar as práticas para repeti-las sempre é o caminho para transformar soluções em padrões do cotidiano na produção da granja. Um exemplo está na biossegurança. “Avaliamos, por exemplo, se as granjas possuíam controle de acesso de pessoas, de forma escrita, o que é algo muito fácil de ser implantado e ajuda a saber a procedência das pessoas, o que elas foram fazer na granja. São dados que ajudam na gestão da propriedade”, aponta Dione.

A BUSCA PELA QUALIDADE

Para que o termo qualidade perca essa aura mítica e ganhe a importância devida dentro das granjas, a administração deve ser encarada com o devido olhar empresarial. E o produtor de ovos é um empresário, avalia Dione. “Ele é um empresário do setor de ovos, e deve pensar de forma estratégica, priorizando o aprimoramento de diversos pontos, como a biossegurança, por exemplo, que muitas vezes é vista como um investimento sem retorno, pensamento este completamente equivocado, já que é por meio da biossegurança que o produtor garantirá o futuro da sua granja”. Exemplos nesse sentido não faltam. É o caso da influenza no México e da PED na suinocultura norteamericana, ambos com um prejuízo econômico incalculável. Tudo, devido a falhas na biossegurança, indica Dione.

O cotidiano é o melhor professor, acredita a consultora, para quem a qualidade é um conceito extremamente amplo, “mas acho que o melhor significado para o termo qualidade é atendimento a requisitos, ou seja, ovo deve sempre ser um produto inócuo e para se alcançar isso é preciso investir em boas práticas agropecuárias ou de produção e também em boas práticas de fabricação.”

A EVOLUÇÃO DO MERCADO

Há 10 anos atuando como consultora, a médica veterinária vê o mercado evoluindo, sim, mas não tem dúvidas de que há uma barreira a ser enfrentada, que é a conscientização do empresário para que ele enxergue que qualidade é sinônimo, sim, de lucratividade e de melhorias significativas na gestão do seu negócio. “Tenho como clientes fábricas de ração que viam a qualidade apenas como um requisito cobrado pelo Ministério da Agricultura, e não como uma ferramenta para o seu negócio. Depois da implantação do projeto de qualidade em suas fábricas, o discurso mudou completamente. A maioria deles conseguiu não só gerir melhor o seu mercado, como também conquistou novos espaços, e nisso podemos traçar um paralelo com a postura comercial, que tem um potencial enorme de crescimento no mercado interno e também no mercado externo, mas que pode não alcançá-lo se não houver investimentos nessa área.”

O CONSUMIDOR BRASILEIRO

Entender a necessidade do consumidor é também outra forma do produtor de ovos buscar a qualidade, investindo de forma direcionada em sua granja.  “Creio que temos diversos tipos de consumidores e não somente um tipo. Temos várias classes sociais, diversos graus de instrução e de poder aquisitivo, enfim, dependendo dessas caraterísticas, temos a busca por diferentes produtos. Temos um consumidor que quer preço - geralmente aquele que não tem como alocar sua renda em produtos diferenciados ou certificados -, mas temos aquele outro consumidor que busca um produto especial e que não se preocupa com o preço, mas sim com o que o produto pode lhe oferecer”. Nesse sentido, Dione argumenta que o ovo é um produto versátil, que chega às mesas de familias de todas as faixas de renda, então é possível trabalhar esse produto de formas variadas.

No Projeto Ovos RS, a intenção foi ajudar o avicultor a seguir as regras para produzir um ovo diferenciado, que tem sua qualidade atestada por um selo de garantia. “No Projeto Ovos RS, comunicamos, por meio de um selo, que aquela granja certificada obteve uma classificação positiva nos quesitos que avaliamos.” E a escolha fica por conta do consumidor.

Acompanhe o Projeto Ovos RS em sua fanpage no facebook: www.facebook.com/ovosrs.

Leia mais sobre o projeto neste site no link Granjas gaúchas já têm selo do Ovos RS em seus produtos.

(A HORA DO OVO – Publicado originalmente na revista A Hora do Ovo Edição 70 – Especial da Festa do Ovo de Bastos 2014)

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