Pensar a longo prazo e com desenvolvimento

Pensar a longo prazo e com desenvolvimento

A gestão é uma arma estratégica que empresário algum pode ter o luxo de dispensar. Gestão na avicultura significa gerenciamento da granja, administração.

Ovonews

outubro 29, 2012

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A granja deve ser pensada como uma indústria de alimentos

Em gestão, o objetivo é sempre o crescimento, estabelecido pela empresa através do esforço humano organizado, pelos líderes e suas equipes, com focos bem claros: planejamento, estabelecimento de metas, redução de desperdícios e custos, controles, padronização de processos, trabalhar com procedimentos, melhorar a qualidade dos serviços e do produto final, conhecer o que o cliente quer e a sua satisfação, aumentar a produtividade e os lucros.

Na prática, tudo isso já vem acontecendo em algumas granjas avícolas. Vejamos:

1 - O foco da gestão foi ampliado. O que antes era trabalhado apenas para analisar o resultado final da empresa como um todo, atualmente vejo algumas granjas já buscando a gestão, setor a setor, com apuração dos resultados como unidades independentes de negócio. Como está a fábrica de ração, seus custos, resultados e padrões de qualidade, como está a postura, além da mortalidade e números de produção. E a sala de classificação de ovos, quanto teve de perda de ovo nas máquinas? E a produção de caixas/dia/máquina/hora? Qual a porcentagem de casca fina, quantas paradas das máquinas, custos e melhorias nos processos, e os resultados?

Tudo é acompanhado em detalhes; antes, o foco era só saber, no final do mês, se a granja deu lucro ou prejuízo.

2 - A falta de pessoas com perfil e experiência necessárias, homens em especial, para preencher as vagas vem sendo minimizada pela gestão de pessoas: com mais comunicação, tratamento justo e humano, caixa de sugestões, treinamento e responsabilidade para as pessoas, como oportunidades para mostrarem o potencial que possuem. Isso vem fazendo a diferença para que os colaboradores não queiram sair da granja.

3 - Formação de gerentes: aos poucos, encarregados de setores recebendo treinamento de gerentes, para melhor desempenharem suas funções e não ficar só no operacional e na produção. Aprendendo o que é gestão, aprendendo a ver os indicadores – números da produção, a qualidade dos serviços, a trabalhar com check-list (ferramenta gerencial que ajuda na verificação das tarefas e níveis de não-conformidades em relação ao padrão).

4 - Mais comunicação e cobrança. Encarregados de setores e patrão sentam-se em reuniões mensais discutem planejamento e assuntos mais estratégicos, como mudanças na granja, mercado e prestação de contas: como vai cada setor e as metas... juntos debatem a solução para o problema do outro. E as pendências autorizadas – todas resolvidas? O que faltou?  O resultado obtido é mais união, menos conflito e a granja mais em dia – um setor ajudando o outro na sobrecarga que passam. Cresceu a colaboração e a organização.

5 - Gestão de pessoas: educação aos colaboradores que antes eram cobrados mais da execução das tarefas, sem muito conhecer os motivos de suas tarefas. Hoje são chamados, em horário de expediente, para aprender sobre a saúde das aves, fatores de qualidade para casca, gema e clara, comunicação, trabalho em equipe. Por que é importante não deixar faltar ração, água etc. A diferença entre esse e daquele manejo.

Os treinamentos evoluíram, são feitos a partir de fotos tiradas horas antes, passadas em slides em projetor multimídia. O aprendizado é mais rápido e consistente, afinal, o processo certo que produzirá os resultados certos começa com o conhecimento.

6 - Desenvolvimento de pessoas: colaboradores sendo incentivados a voltar a estudar. Quem foi até o ensino fundamental, fazer o ensino médio, curso técnico, e quem concluiu o ensino médio e quer prestar vestibular para a faculdade.

Hoje, algumas granjas, como muitas empresas, passam dificuldades quando funcionários antigos, que ocupam funções-chave na empresa ou encarregados, não evoluíram nos seus estudos e carreira mostram limitações, dificuldades com mudanças e novos conhecimentos.

Eis um dos maiores desafios do avicultor – o desenvolvimento profissional de seus colaboradores. Por serem pessoas que tiveram poucas oportunidades de estudo, isso não lhes era exigido antes. Ainda hoje, acontece em algumas granjas, do aumento salarial ser dado apenas pelo tempo de casa acumulado, trabalho bem feito, quando na empresa competitiva a conversa é outra – o critério para aumentar salário também é o crescimento profissional, que acompanha a filosofia da empresa e suas necessidades de modernização. Nesse sentido, penso que no futuro haverá a definição de uma política salarial baseada em critérios mais apropriados aos novos tempos.

 O pensar e o saber estão sendo tão exigidos, ou até mais, do que apenas fazer algo bem feito.

7 - Investimento em líderes. Cada vez mais são valorizados os líderes que sabem ensinar, comandar, motivar, inspirar, escutar, no lugar de gritar, irritar, impor, deprimir e controlar.

8 - Uso cada vez maior da tecnologia da informática, câmeras filmadoras, internet e aperfeiçoamento nos sistemas de gerenciamento, o que, em pouco tempo, permitirá ao avicultor conhecer o resultado da produção do dia, ver os estoques, fluxo de caixa. Nos intervalos de reuniões e viagens, nos hotéis, não precisarão mais ficar dentro da granja para tomar conta e saber o que está acontecendo, de forma segura. Pode tomar decisões e orientar seus gerentes à distância. E, assim, ter tempo para ir atrás das parcerias, visitar outros centros produtores, buscar novos conhecimentos e tecnologia, trabalho que só ele pode fazer e é fora da granja.

Conclusão:

• Cada vez mais, em minha mente, fica forte a imagem da indústria de alimentos e os processos da indústria no lugar do empreendimento rural. A granja é uma indústria, recebe matéria-prima diariamente, processa e entrega todos os dias seu produto final ao mercado e, portanto, deveria ser tratada como tal, sob pena de perder contato com a realidade, pela cegueira das mudanças que são necessárias hoje.

A granja já possui a estrutura física similar à indústria; falta a estrutura organizacional para o desenvolvimento gerencial e, assim, poder funcionar como uma indústria de produção de alimentos.

• A palavra de ordem é fazer bem feito com desenvolvimento, seja na produção ou na administração. Chegamos ao novo século, nova era – e as perguntas que sugiro que os avicultores de postura façam são: “Devemos continuar administrando e produzindo ovos como temos feito até aqui?” E mais: “Nosso negócio poderá sobreviver no século XXI com o tipo de gestão que estamos fazendo?” Recomendo pensarem a longo prazo e a colocar desenvolvimento em tudo que fizerem.  

Estelamara Moreira Ferreira é consultora empresarial na região da Alta Paulista. Atende desde 2002 granjas no município de Bastos, conhecido como a Capital do Ovo. Para entrar em contato com Estelamara escreva para o e-mail estelamaramf@terra.com.br ou ligue (14) 9602-0008.

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Estelamara Moreira Ferreira Autor

Encarar a realidade do presente é uma boa forma de estar preparado para os desafios do futuro, indica a consultora empresarial Estelamara Moreira Ferreira.

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