Influenza aviária no Brasil. O que pode ser feito? O especialista Luiz Sesti responde
“O trabalho de educação continuada nas granjas é muito importante, tão importante quanto revisar e aplicar todos os procedimentos em biosseguridade”, diz Sesti.
A afirmação categórica é do especialista Luiz Sesti – doutor com PhD em medicina veterinária -, e responsável pelos serviços veterinários da Ceva Saúde Animal para México, América Central e do Sul e Caribe. Ele tem acompanhado há bastante tempo as doenças incidentes na avicultura industrial, especialmente a Influenza Aviária (IA) em toda a América Latina.
“Sem educação continuada – feita por todos da empresa - nenhum plano de contingência contra a influenza aviária de alta patogenicidade (IAAP) vai funcionar. Pode-se fazer todos os procedimentos que se quiser para conter a entrada do vírus numa granja, mas a educação continuada é absolutamente fundamental no sucesso do trabalho de biosseguridade”, repetiu Sesti algumas vezes durante palestra que fez em Bastos (SP), no dia 14 de fevereiro, numa iniciativa da Ceva Brasil.
Falando a avicultores do município que é o maior produtor de ovos do Estado de São Paulo – e o segundo do país -, Sesti apresentou o roteiro da influenza aviária nos países da América do Sul, destacando a velocidade com que tem avançado o aparecimento de surtos da doença em aves silvestres, migratórias e também em aves de produção.
O alerta acendeu a preocupação dos avicultores e autoridades brasileiras, preocupados com a entrada da doença no Brasil, país que é livre de influenza aviária e, portanto, não tem experiência com seu enfrentamento. O vírus de alta patogenicidade H5N1 da IAAP já foi detectado no México, Venezuela, Colômbia, Equador, Peru, Bolívia, Chile e, agora, em aves selvagens e de fundo de quintal na Argentina e no Uruguai (neste só em selvagens por enquanto).
No Peru, Bolívia e Equador foi detectado também em aves de produção, especificamente, em poedeiras comerciais. Na Colômbia apenas em aves de fundo de quintal e selvagens.
E o mais grave: em todos os casos trata-se do H5N1, vírus de alta patogenicidade, que causa enormes perdas.
Nesta entrevista dada à jornalista Elenita Monteiro, com exclusividade para a A Hora do Ovo logo após a palestra em Bastos, o especialista Luiz Sesti explica, didaticamente, o que poderia ser feito, como agir, como agiram os países que convivem com a doença no cotidiano e qual a lição de casa que o Brasil precisa fazer para prevenir e criar barreiras à influenza.
A HORA DO OVO: Qual é o risco real do Brasil passar a ter influenza aviária?
LUIZ SESTI: Agora o risco é muito grande. Com essa notícia recente de que aves selvagens foram detectadas na Argentina, é muito preocupante (Nota: foi durante sua palestra em Bastos que surgiu a notícia de que a Argentina tinha detectado a IA em uma ave migratória. Igualmente, a IAAP foi detectada em aves selvagens no Uruguai, em uma lagoa que fica a aproximadamente 200 km do Brasil (Estado do Rio Grande do Sul). Importante comentar que a Argentina tem uma longa fronteira seca com o Paraná (estado que é o maior produtor de frangos no Brasil).
O vírus veio com aves migratórias que vieram desde o Norte da América do Norte. Elas podem contaminar outras aves locais, residentes no território argentino e que não migram. Então, essas aves podem passar o vírus da IA para a avicultura industrial, a depender do tipo de granja e, principalmente, de como é sua biosseguridade.
Cada empresa tem que fazer o seu dever de casa, revisar e melhorar suas práticas de biosseguridade. Lembrando que sempre se pode melhorar. Sempre!
E bloquear a entrada nas granjas de pessoas estranhas, porque as aves migratórias não baixam em granja. Pelo menos não no Brasil.
A HORA DO OVO: Você diria que essa medida de evitar a entrada de pessoas estranhas nas propriedades avícolas é o mais importante?
LUIZ SESTI: Não só isso, e sim, tornar muito mais estritas as regras de fluxo de pessoas, equipamentos, veículos e qualquer tipo de material. E, principalmente saber das pessoas que já trabalham na granja, por exemplo, se há funcionários que têm aves no fundo de quintal. Isso é extremamente importante. Assim como pesquisar se esses trabalhadores – ou visitantes - pescam ou têm contato com lagoas onde há aves migratórias. Tudo isso é um risco enorme.
Essas pessoas que trabalham nas empresas precisam ser educadas sobre a influenza aviária de maneira muito simples e objetiva. É preciso educá-los para o perigo que é a influenza aviária para o trabalho e para o emprego deles.
A HORA DO OVO. Na palestra você alertou sobre a velocidade de propagação do vírus da IA. Como é isso?
LUIZ SESTI: A velocidade de disseminação na França, por exemplo - feita por patos em granjas industriais - foi medida entre 3 a 7 km por semana. Esse é o caminho do vírus no país, excretado por patos industriais. Eles excretam muito vírus, mas a grande maioria não adoece.
Já na América Latina, essa corrida do vírus tem sido muito mais acelerada. Na Colômbia, Equador, Peru e Bolívia, entre o momento em que o vírus foi detectado no país e o último surto descoberto na região está sendo estimado em 200 km por semana. Isso é super-rápido!
A HORA DO OVO: E por quê?
LUIZ SESTI: Pela disseminação através das aves migratórias e, principalmente, por falhas de biosseguridade. Além disso, são países que têm muitas áreas de descanso de aves migratórias muito perto de granjas da avicultura industrial, onde humanos têm contato com a água ou com essas aves, diretamente, ou aves industriais têm contato com essas aves migratórias. É uma série de possíveis fontes de infecção.
É muito difícil determinar especificamente, a não ser que se faça um trabalho de rastreabilidade muito bem-feito, com a caracterização molecular de cada isolamento viral, o que exige muito trabalho e um investimento muito grande. Nada disso está sendo feito em nenhum país.
A HORA DO OVO: Os produtores de aves da América do Sul - e especialmente do Brasil - sentiam-se numa espécie de zona de conforto, pois acreditava-se que as aves migratórias de regiões infectadas pela IA não chegariam até o continente, principalmente devido à barreira da Cordilheira dos Andes e da Amazônia. O que mudou?
LUIZ SESTI: Essa é uma boa pergunta porque os biólogos investigadores na área de aves migratórias já estão falando em mudanças importantes no trajeto dessas aves e percebe-se que essas rotas migratórias estão diferentes.
Essas rotas podem ter mudado muitos quilômetros, tanto para a esquerda como para a direita. Talvez isso esteja envolvido com as fontes de alimento ou locais de descanso das aves migratórias.
Outro ponto que os biólogos que trabalham com migração de aves indicam é que, muitas aves que migram do Hemisfério Norte já não estão voltando para lá. Estão preferindo ficar nas zonas de descanso no extremo sul das Américas, onde permanecem como residentes ou ficam por vários anos antes de decidirem novamente migrar.
Há suspeitas de que isso se deva pelo efeito do aquecimento global. Como por aqui os invernos são menos severos, as aves não têm o instinto de voltar para o verão do Hemisfério Norte. Muitas aves que vêm, ficam e se tornam residentes podem estar contaminadas com os vírus da influenza.
A VACINAÇÃO
A HORA DO: Por que parte das autoridades brasileiras e de produtores temem vacinar contra a influenza aviária?
LUIZ SESTI: Neste momento, o início da vacinação contra a IAAP no Brasil poderia prejudicar fortemente o negócio de exportação do Brasil, e de maneira imediata. Seria como se o país estivesse confirmando que irá conviver com a IA em sua indústria avícola.
Obviamente há várias opções de plataformas de vacinas que poderiam prevenir de alguma maneira o impacto acima. Por exemplo, vacinas que permitam o DIVA (diferenciação entre animais vacinados e infectados).
Além disso, uma permissão geral para a vacinação poderia gerar muitos problemas a campo com diferentes planos vacinais e tipo de vacinas e causar muita confusão a campo.
É uma decisão complexa, a qual, antes de ser tomadas, necessita discussões técnicas detalhadas entre autoridades, especialistas das vacinas e a indústria como um todo.
A HORA DO OVO: O senhor considera que a vacina que a Ceva oferece contra influenza aviária é a mais apropriada?
LUIZ SESTI: A Ceva tem mais de uma vacina para essa doença. E não existe a vacina ‘mais apropriada’. Cada uma tem as suas características e as empresas avícolas precisam discutir com profissionais que conheçam bem essas vacinas e, se for permitido pelas autoridades, aplicar aquelas com as melhores características para a situação epidemiológica na empresa ou região onde será implementada a vacinação.
E aí entra uma série de questões. Não se pode, simplesmente, eleger: “Essa é a melhor vacina”. Todos os produtos têm vantagens e desvantagens e suas limitações.
A HORA DO OVO: Para vacinar, o Ministério tem que autorizar, fazer um estudo e ter um estoque de vacina. E isso faria parte do que você chama de “plano de contingência”. Já há discussões a respeito de utilização de vacinas contra a IA no Brasil?
LUIZ SESTI: No momento não, pelo menos não abertamente. As autoridades do Brasil ainda não estão discutindo a questão de vacinação contra influenza de maneira aberta, porém já començaram a discutir o tema internamente. Eventualmente, devem convocar profissionais com experiência para esclarecimentos sobre plataformas de vacinas. Mas propriamente com a indústria avícola ainda não há uma discussão oficial.
A HORA DO OVO: A vacina da Ceva é vetorizada? Ou seja, para fornecer proteção ao vírus da IA utiliza agentes não-patogênicos como vetores para transportar genes protetores que agem contra o vírus?
LUIZ SESTI: A Ceva tem uma vacina vetorizada, com o vírus HVT, com o gene da hemaglutinina H5 de um vírus de alta patogenicidade H5N1. E também tem vacinas inativadas convencionais. Mas não as produzimos no Brasil. Uma é feita nos Estados Unidos e a outra no México.
A HORA DO OVO: Em uma possível necessidade de vacinação no Brasil, a produção de vacinas, importação e logística seriam rápidas?
LUIZ SESTI: Não. Não é possível ligar nos laboratórios e pedir 15 milhões de doses, por exemplo. Isso não existe. Não existe porque na América Latina essa é uma vacina produzida praticamente para o uso no México, Guatemala e República Dominicana. As que são utilizadas na Guatemala e República Dominicana são provenientes do México. Praticamente todas elas são para o México e, de lá, podem ser enviadas para os outros dois países.
A HORA DO OVO: Por isso é tão fundamental um plano de contingência, não é?
LUIZ SESTI: Lógico.
A HORA DO OVO: Estaríamos atrasados, portanto?
LUIZ SESTI: Já seria o momento de iniciar-se uma discussão, antes de qualquer detecção do vírus no país. Precisaria haver uma discussão entre as empresas provedoras da vacina com as autoridades governamentais e os representantes da indústria avícola. Discutir quantidade e orçamento, as vacinas que seriam necessárias e, aí sim, os laboratórios de produção se encarregariam de ter um plano de produção e planejar o tempo necessário para isso.
Mas, antes de qualquer decisão operacional, o conceito de “vacinar” para controlar a IAAP deve ser muito bem discutido, em todos os detalhes. E ao final, tomar-se uma decisão regional ou nacional. Está longe de ser uma decisão simples, é muito complexa e abrange uma série de variáveis técnicas e econômicas de alto impacto.
Ou, ainda, haver a opção do governo de se ter um banco de vacinas para IA e os laboratórios se programarem para entregar. O banco de vacinas é para o caso de uma contingência, para ser utilizada como prevenção ou como ferramenta de um trabalho de erradicação de uma infecção contingencial.
A HORA DO OVO: Essa hipótese seria a mais adequada?
LUIZ SESTI: Tecnicamente, sim. Seria a mais adequada porque o país teria uma ferramenta à mão para, imediatamente, distribuir para a avicultura industrial, caso seja necessário. Mas isso exige um investimento bastante alto por parte do governo e/ou das empresas.
A HORA DO OVO: Seria possível pensar num plano em que as empresas avícolas que concordam com a vacinação - se necessário e autorizado - comprem as vacinas e as repassem para o governo montar o banco?
LUIZ SESTI: Em rápidas palavras: um plano como esse de se montar um “banco de vacinas” envolve um planejamento epidemiológico e logístico complexo. Num exemplo: vamos falar do Paraná, o maior produtor de frangos do Brasil. O volume e localização do banco de vacinas deveria ser desenhado epidemiologicamente em relação ao tipo e tamanho da avicultura industrial presente na região alvo do banco de vacinas. Profissionais da medicina aviária e epidemiologistas desenhariam um plano para usar um banco de vacinas como ferramenta de erradicação na contingência de uma infecção em alguma empresa no Paraná. O mesmo poderia ser feito com poedeiras em Bastos ou em qualquer outra zona de produção de ovos.
Obrigatoriamente, esse banco de vacinas dependeria desse plano epidemiológico. Sem ele não há como se fazer um trabalho efetivo.
A HORA DO OVO: Por exemplo: se Bastos (SP) ou Santa Maria de Jetibá (ES), decidem ter um banco próprio de vacina, seria possível fazer uma negociação à parte, tendo em vista a importância econômica de cada um desses polos produtivos, maiores núcleos de produção de ovos do Brasil?
LUIZ SESTI: Empresas específicas podem compartimentalizar.
A HORA DO OVO: Mas, pensando na postura comercial de Bastos, por exemplo: não basta uma granja do município se “fechar” – ou compartimentalizar - porque ela está muito próxima às demais granjas, não é mesmo?
LUIZ SESTI: Olhando-se para uma área muito adensada com postura comercial, como Bastos, por exemplo, que envolve 90 por cento das granjas locais numa área pequena – com uma área ao redor de 100 km2 - é muito difícil compartimentalizar. Poderia ser tentado, mas a dificuldade é muito grande porque há muita diferença de infraestrutura entre as granjas, com algumas altamente tecnificadas e outras com estruturas bem mais antigas.
Claro que teoricamente tudo é possível. Mas operacionalizar é muitíssimo complexo. Todas as granjas teriam que entrar num acordo e haver um investimento forte porque seria necessário uma série de adaptações estruturais nas empresas avícolas, além do trabalho de monitoramento laboratorial, que também é bastante caro e que passará a ser por toda a vida. E mesmo sem vacinação,estar compartimentalizado exige um plano de monitoramento muito estrito, obrigatório.
Tudo ocorre sob o acompanhamento das autoridades governamentais.
A HORA DO OVO: Uma granja de grande porte poderia compartimentalizar dentro de Bastos?
LUIZ SESTI: Não creio, porque há muita proximidade entre a granjas. Mas com granjas bem isoladas, sim claro, poderia.
LUIZ SESTI: O segmento do corte tem uma vantagem: os frangos têm vida curta. Uma vez terminada a produção, se faz um trabalho de limpeza e desinfecção nos galpões, um vazio das instalações para garantir que aquele vírus que estava ali foi eliminado. É caro, mas se pode fazer. E as granjas de reprodução, no geral, estão bem isoladas e apresentam boa biosseguridade.
Em poedeiras é complicado. Elas podem produzir até 100 semanas de vida, quase dois anos inteiros. Terminando o ciclo de produção de ovos, é preciso lavar e desinfectar toda a estrutura de uma granja de poedeiras, muitos com galpões que têm até 200 mil aves, 250 mil aves... Esse é um trabalho hercúleo e com enormes possibilidades de falhas operacionais.
A HORA DO OVO: Em sua palestra, você pontuou que nos Estados Unidos muitos surtos da IAAP têm ocorrido. Quando há um foco na granja eles abatem, fazem todas as medidas de higienização, esperam passar o tempo exigido para alojar e pronto, a empresa está liberada para voltar a produzir. Como é isso?
LUIZ SESTI: Durante um foco de influenza, todos os lotes são abatidos, um forte trabalho de limpeza e desinfecção se segue e, ao final, um período de vazio das instalações e estrito monitoramento laboratorial para garantir que o vírus foi eliminado. Concomitantemente ocorre igualmente um monitoramento diagnóstico das aves e ambiente em um raio de 10 km desde o foco inicial. Mas isso depende de cada localidade nos Estados Unidos; o manejo pode variar em cada região do país.
A HORA DO OVO: É por causa desse manejo que os Estados Unidos mantêm o status de país livre de influenza, apesar de terem ocorrências da doença?
LUIZ SESTI: O status do país continua livre porque o país age rapidamente. É exigido o abate das aves, eliminam o plantel, monitoram por um tempo e, caso não seja encontrado nenhum vírus de IA após isso, podem voltar a alojar e a produzir. Tudo é feito pelas autoridades de saúde animal do país em permanente contato com a OMSA (Organização Mundial para Saúde Animal) na Europa.
A HORA DO OVO: Isso é um alento porque mostra que é possível se manter o status sanitário livre de IA.
LUIZ SESTI: Ah, sim, é possível. Se há infraestrutura operacional e investimento é possível. Nos Estados Unidos se faz tudo isso, ainda se paga o avicultor prejudicado, porque lá eles têm um fundo de compensação. Mas o governo americano também está quase desistindo desse fundo, porque é muito dinheiro envolvido. Provavelmente as autoridades americanas irão permitir a vacinação a curto ou médio prazo, seja de maneira preventiva e/ou como ferramenta a ser usada nos trabalhos de erradicação.
Na Europa, a França e a Holanda devem começar a vacinar ainda no ano de 2023. Já há vacinas testadas e selecionadas. E outros países europeus devem segui- los, porque é muito oneroso para os governos o processo de erradicação das IAAP.
No Sul do Brasil (áreas de produção de frangos) já existe algum tipo de fundo de compensação gerado pela indústria local para eventos de sacrifício de aves em trabalhos de erradicação da IA. Um risco importante é que se a IAAP circular pela região, como nos Estados Unidos, causando muitos surtos, vai ser muito difícil manter essa compensação por um longo tempo. No mundo hoje, somente Canadá e Estados Unidos têm condições financeiras de manter uma situação dessas. Mas parece que os governos já estão fartos de tal situação.
Enfim, a indústria tem que começar a trabalhar já em sua biosseguridade e tentar prevenir efetivamente um cenário como o dos Estados Unidos.
A HORA DO OVO: No Brasil, então, não seria viável um plano de compensação como nos Estados Unidos?
LUIZ SESTI: Não creio. Para alguns poucos surtos, sim, o Brasil daria conta. Mas como nos Estados unidos, onde 47 dos 51 estados já foram atingidos com infecções em todos os tipos de aves industriais e não industriais, não acredito que tenhamos condições de compensar os produtores. É muito dinheiro envolvido.
A HORA DO OVO: Tendo isso em vista, como a indústria avícola brasileira pode se proteger?
LUIZ SESTI: Com o permanente trabalho de educação continuada nas granjas, que precisa ser realizado fortemente em todo o país. Educar em biosseguridade de maneira muito simples o pessoal que trabalha nas granjas, inclusive técnicos, médicos veterinários, porque a influenza aviária é algo novo, exótico no país.
Sem essa educação continuada nas granjas nada vai funcionar. E cada granja deve fazer a SUA lição de casa, imediatamente.
A HORA DO OVO: Que vai precisar ter um ordenamento, um alinhamento do estado ou governo federal?
LUIZ SESTI: Será preciso adaptar a conversa sobre a doença ao nível de cada um. Nada de governo nessa hora. Esse é um trabalho interno de cada empresa, com cada uma fazendo a “lição de casa”, com programa e procedimentos de biosseguridade implementados, ver o que falta implementar, melhorar as ações já implementadas, investir! E sabemos que não é fácil para a empresa investir em biosseguridade, que é um custo que sai direto do lucro da empresa. Mas precisamos mudar essa cultura no Brasil. Afinal, nós estamos sob uma ameaça que ninguém da industria brasileira conhece.
Trabalho com isso há muitos anos, sei o que pode acontecer.
Há muita informação no mercado avícola, mas vejo que o pessoal está confuso, pois há profissionais disseminando informações totalmente equivocadas e confundindo a indústria.
A HORA DO OVO: Cite um exemplo de informação equivocada, por favor.
LUIZ SESTI: Por exemplo, pessoas que anunciam treinamentos em programas de biosseguridade específicos para prevenir a IA. Isso é impossível porque não existe “programa de biosseguridade específico contra a influenza aviária”. O que existe são programas de biosseguridade e ponto. Ele é o mesmo para a enorme maioria das principais enfermidades de aves industriais. Só é preciso que as operações de biosseguridade básica sejam muito bem-feitas e que os procedimentos básicos estejam implementados e monitorados permanentemente.
Dizer que há um programa de biosseguridade específico para influenza aviária é uma mentira que só confunde o setor avícola.
Muitos dizem que fazem a biosseguridade em suas empresas, mas não fazem. Ou fazem um quinto das medidas necessárias, um terço talvez. É um investimento que as empresas não gostam de fazer ou não têm cultura de fazer, pelo menos permanentemente, além do que, como eu já disse, é um custo que sai direto do lucro da empresa.
Mas é preciso que toda a indústria se dê conta de que estamos perto de uma situação totalmente nova no país e, portanto, é a hora de ter disciplina para fazer bem-feito o que se deve fazer. Esse é o ponto. E igualmente, sob o ponto de vista operacional, esse é o máximo que podemos fazer neste momento.
E continuar discutindo outras opções que eventualmente possam ser implementadas no país, caso a situação epidemiológica exija.
LUIZ SESTI, DVM, MSc, PhD
Responsável pelos serviços veterinários da Ceva Saúde Animal para México, Américas Central e do Sul e Caribe.
E-mail: luiz.sesti@ceva.com
Fone (19) 993665551
tag: Luiz Sesti , Ceva , influenza aviaria , Bastos , biosseguridade ,