Qualidade do ovo em três faces: produtor, consumidor e sanidade

Qualidade do ovo em três faces: produtor, consumidor e sanidade

Conhecimento técnico com experiência de campo, prevenção, planejamento e ação integram a busca pela qualidade, diz o zootecnista Diogo Ito, da Zoetis.

Com a palavra

julho 22, 2015

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Do ponto de vista do consumidor

O consumidor continua sua caminhada em busca de um produto que atenda às suas necessidades (qualidade, preço e segurança alimentar). E provavelmente está cada vez menos tolerante a problemas de qualidade, utilizando as mídias sociais para reclamar dos problemas ou difundir as experiências positivas.

Felizmente, possuímos condições climáticas favoráveis para a produção de ovos durante todo o ano, mas sofremos com fatores (como qualidade logística e de estradas) que podem resultar em perdas indesejáveis, como ovos quebrados durante o transporte, e toda a gama de ações que ocorrem em cadeia, como perda de embalagens, refugagem de uma bandeja inteira em virtude de um ovo quebrado, maior risco de contaminação microbiana.

Dessa maneira, quando a qualidade dos ovos é garantida no setor produtivo, é possível colocar em discussão a melhoria e integração dos elos que estão entre a empresa produtora de ovos e o consumidor final. Com isso, a redução de perdas ao longo da cadeia é benéfica para a redução de custos. Um alimento de qualidade, como o ovo, na mesa do consumidor  favorece a realização de ações de esclarecimento de dúvidas referentes às qualidades nutricionais dos ovos em dietas balanceadas.

Do ponto de vista do produtor

Diversos fatores têm feito com que os produtores ajustem, mudem e adaptem o modo de produção de ovos, tais como as exigências do mercado consumidor, a disponibilidade da mão de obra, a evolução do potencial genético das linhagens comerciais, as novas tecnologias relacionadas à ambiência das instalações e galpões, a revisão de conceitos nutricionais, a disponibilidade de matérias primas, entre outros.

Quando avaliamos a integração entre os galpões e as salas de classificação de ovos, a qualidade dos ovos é de suma importância para que o processo de classificação dos ovos possa ocorrer de modo constante e com poucas interrupções.

Com o aumento do tamanho e automação dos galpões de produção, surgiram oportunidades de otimização de custos fixos, porém, outras preocupações ganharam força. Numa condição de maior adensamento dos lotes, a mortalidade ganha importância porque pode reduzir os ganhos obtidos em termos de diluição dos custos com a amortização da instalação e mão de obra, bem como pode aumentar a necessidade de processamento das aves perdidas (mortalidade, refugagem) ao longo do ciclo produtivo.

Também acabamos nos lembrando dos problemas sanitários subclínicos e uma maior dificuldade na identificação destes, pois diminuímos o nosso tempo de contato visual com as aves, aumentando a nossa dependência em relação aos controles zootécnicos.

Do ponto de vista da saúde das aves

A qualidade do ovo, na granja, começa no primeiro dia de idade. Por que? Porque a produção de um ovo de qualidade é dependente do correto aproveitamento dos nutrientes para a produção dos ovos e isso está diretamente relacionado a uma ave plenamente desenvolvida. Nessa fase de formação da franga, o comprometimento da formação da estrutura esquelética da ave reduz a eficiência do processo de mobilização do cálcio ósseo, podendo causar problemas de qualidade de casca no longo prazo. Enquanto 2/3 do cálcio para a formação da casca são provenientes das fontes de cálcio contidas na ração, ainda 1/3 do cálcio é proveniente dessa mobilização dos ossos medulares.

Iniciando pelas doenças imunossupressoras, como Marek e Gumboro, o comprometimento do sistema imune das aves pode favorecer o aumento de mortalidade e/ou refugagem e o aparecimento de problemas respiratórios recorrentes. Vale lembrar a diferença entre aves leves e aves com peso abaixo do padrão.

Um sistema respiratório íntegro é necessário para que a ave consiga controlar os desafios respiratórios, suportar as variações ambientais, promover a termorregulação e contribuir para o correto funcionamento do processo de formação da casca do ovo. Quando consideramos um lote descartado às 80 semanas de idade, trata-se de um lote que precisou enfrentar dois verões e um inverno ou dois invernos e um verão, em geral. Voltamos a considerar laringotraqueíte, micoplasmose e complicações associadas à colibacilose como assuntos recorrentes. Doenças como a bronquite infecciosa e o pneumovírus podem interferir nas fases iniciais de desenvolvimento do oviduto da ave; nesses casos, a imunidade precoce dos lotes é fator crítico e importante.

O sistema digestório da ave também tem a sua contribuição. Por exemplo, a absorção de cálcio é dependente de proteínas carreadoras de cálcio para a corrente sanguínea e o processo de ativação da vitamina D é dependente da integridade de órgãos como o fígado e os rins. Portanto, é possível dizer que problemas relacionados à coccidiose, clostridiose e micotoxinas influenciam negativamente a qualidade dos ovos. As mudanças de ração ao longo da vida da ave, para atender as suas exigências nutricionais, podem causar oscilações na estabilidade da flora bacteriana. Uma flora bacteriana capaz de favorecer o maior aproveitamento de nutrientes é importante para não comprometer a qualidade dos ovos.

Não menos importante, o controle de bactérias sistêmicas causadoras de mortalidade, como a salmonella e a colibacilose, através de vacinações eficazes reduz as perdas no campo e os riscos de seleção de cepas resistentes ou de resíduo de medicamentos em ovos. Sinal de atenção quando as recomendações de uso não têm sido suficientes na resolução dos problemas e/ou quando há presença de outros desafios sanitários (como pneumoviroses e micoplasmoses).

Ao final, regularmente surgem novos produtos para reduzir o manejo ou para solucionar problemas recorrentes. Não existe ainda a “bala de prata” que soluciona todos os problemas. O conhecimento técnico aliado à experiência de campo nos auxilia na tomada de decisões. Mudanças ocorrem quando paradigmas e rotinas são questionados. Problemas podem ser evitados com prevenção. Soluções surgem com avaliação, planejamento e ação. Mercados exigentes em qualidade reduzem as aberturas para reduções bruscas de preços. Períodos de crise econômica reestruturam os agentes do mercado e a parceria com fornecedores estratégicos pode ser crucial.

DIOGO TSUYOSHI ITO é gerente de produtos biológicos Aves da Zoetis

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Diogo Tsuyoshi Ito Autor

Nutricionista Global Poedeiras – Hendrix Genetics Ltda.

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