Por que a formação esquelética é tão importante na cria e recria?

Por que a formação esquelética é tão importante na cria e recria?

O principal objetivo, ao final da cria e recria de frangas de postura, é ter a melhor uniformidade possível, e com reserva.

Com a palavra

junho 24, 2015

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Cria e recria: atenção à formação esquelética é fundamental

Não é tarefa fácil obter, com reserva, a melhor uniformidade na formação esquelética ao final da cria e recria, uma vez que reserva é diferente de peso e, em geral, é antagônica à uniformidade. A reserva de que as frangas necessitam para o início de produção é, principalmente, de gordura, o que não é fácil de se conseguir com as genéticas modernas de alta produção, baixo consumo e alta precocidade.

Apesar de não ser fácil obter reserva no final da recria, é possível pelo menos mensurá-la por inspeção visual das aves. Entretanto, de igual importância para uma boa uniformidade é uma ótima formação óssea, o que não é nada fácil de mensurar a olho nu. O diagnóstico mais correto seria através de uma densitometria óssea, o que não é muito acessível e nem barato para se fazer em aves de postura.

A figura 1 mostra as etapas fisiológicas de formação dos diferentes tipos de ossos. É importante observar que o osso estrutural é a forma mais conhecida e que começa desde o nascimento da ave, enquanto o osso medular começa a se desenvolver no momento em que ocorrem os primeiros sinais do hormônio estrógeno, que é o responsável pelo início da ovulação. Vale ressaltar que esse osso medular é o de maior importância, do ponto de vista da produção de ovos. Durante a formação da casca do ovo, praticamente 50% do cálcio necessário vem da dieta e 50% vem do osso medular.

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Na figura 2 aparecem os diferentes tipos de ossos segundo sua estrutura.

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É importante termos claro os diferentes tipos e função dos ossos, pois eles possuem diferentes papéis durante a vida da ave. Ao realizarmos necrópsias nas aves, é muito comum não considerarmos esses parâmetros ósseos, principalmente por desconhecimento e falta de treino para tal avaliação. Porém, à medida que percebemos a importância dessas avaliações, devemos incorporá-las à rotina do monitoramento preventivo, assim como fazemos, por exemplo, com avaliações de qualidade intestinal, de fígado, moela e lesões de micotoxina. Essas últimas, inclusive, são ainda mais difíceis de se fazer um diagnóstico preciso, embora tentemos muitas vezes fazer esse diagnóstico, mesmo que impreciso.

Uma vez que tenhamos a ave abatida, a avaliação óssea é bastante simples e rápida. Basta separarmos os diferentes ossos e fazer a avaliação correta.

A tíbia, por ser um osso estrutural, devemos avaliar sua conformação: se existe ou não discondroplasia e, se existir, qual o grau. Lembrar de fazer sempre nos dois ossos.

Já no fêmur, por ser um osso medular de reserva, devemos avaliar o status de mobilização que o osso está tendo, uma vez que esse tipo de osso está constantemente armazenando e retirando cálcio.

Para uma avaliação mais precisa, podemos medir a força de quebra, tanto da tíbia quanto do fêmur, através de um aparelho específico, e montarmos um padrão para a empresa em função da genética e da idade, principalmente.

Pontos importantes para uma ótima formação óssea durante a cria e recria

Para uma correta formação óssea, todos os nutrientes (cálcio, fósforo, energia, aminoácidos, minerais e vitaminas) precisam chegar ao mesmo tempo para absorção e metabolismo. Portanto, a qualidade de mistura da ração é fundamental. O ideal é fazer testes de mistura pelo menos duas vezes ao ano, ou sempre que o coeficiente de variação estiver acima de 10%, e tomar ações corretivas adequadas.

A pesagem também é um fator de risco. Deve-se evitar incluir diretamente no misturador quantidades menores que 300 g/ton. Portanto, as balanças devem estar devidamente aferidas; além disso, deve ser utilizada a balança adequada para cada ingrediente. Por exemplo: balança grande para macro-ingredientes e balança pequena para micro-ingredientes, sempre respeitando os valores mínimos, máximos e a sensibilidade de pesagem. O menor componente que deve ser dosado numa balança - para que se possa ter uma precisão de 1% - é 4% da sua capacidade. Por exemplo, numa balança de 1.000 kg não deveriam ser pesados menos que 40 kg.

Do ponto de vista nutricional, é muito importante observar os níveis de cálcio, fósforo disponível e de vitamina D3, assim como suas fontes. A maior parte do cálcio vem do calcário, e este deve conter boa solubilidade e níveis baixos de magnésio (máximo 1%), que é antagônico à absorção do cálcio.

Em dietas brasileiras, a principal fonte de fósforo é a farinha de carne, caso não seja utilizado o fosfato. É preciso estar atento à variabilidade no conteúdo de cálcio e fósforo da farinha (quanto menor melhor); se possível, não mudar de fornecedor nem ter vários fornecedores ao mesmo tempo, pois isso favorece a variabilidade.

A granulometria da farinha de carne é muito importante para frangas em início de vida e, portanto, devemos utilizar a farinha mais fina possível, em torno de 500 micras. É bastante comum hoje o uso da fitase para substituir a farinha de carne. Entretanto, deve-se ter o cuidado de fazer uma boa mistura dessa enzima, já que, nesse caso, é substituída uma grande quantidade da farinha de carne (20 a 30 kg/ton) por uma pequena dose da enzima (em geral 10 a 50g/ton). Isso é ainda mais grave em aves jovens que apresentam baixo consumo de ração. Portanto, é recomendado utilizar a fitase via premix ou fazer uma diluição prévia. De nada adianta cálcio e fósforo na medida e qualidade certas, se o nível de vitamina D3 não estiver correto. Deve-se seguir as recomendações das casas genéticas para essa vitamina, bem como para as fontes utilizadas. A combinação de Vitamina D3 e 25-OH D3 parece ser a melhor opção. Entretanto, muito cuidado ao utilizar fontes de 25-OH D3 que não são reguladas pelo organismo, pois podem causar intoxicação e até a morte das aves. Confira na tabela 1 a diferença entre a Vitamina D3 e o 25-OH D3.

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Quanto aos microminerais, o ideal é utilizá-los na forma orgânica, pois apresentam melhor absorção e menor risco de reação com os demais componentes do premix.

Conclusões e recomendações

O objetivo de uma boa cria e recria é ter animais uniformes, com reserva, com boa imunidade e com boa formação óssea. A formação esquelética é de grande importância para uma ótima produção e longevidade de postura em poedeiras comerciais.

Alguns pontos não podem ser esquecidos:

1. Devemos incorporar nas necrópsias de rotina a avaliação óssea durante toda a vida da ave;

2. É difícil e/ou caro mensurar a qualidade esquelética de uma franga, antes de iniciar postura.

3. Devido ao baixo consumo de ração por ave/dia nessa fase, a qualidade de mistura da ração é fundamental.

4. Por causa de sua alta densidade, o calcário tende a se separar dos demais componentes.

5. A formação do esqueleto e das reservas de cálcio no osso medular ocorre durante toda a fase de cria e recria, até o início de postura.

6. Muito cuidado ao utilizar fitases, pois as baixas inclusões podem causar deficiência por má qualidade de mistura e/ou pelo baixos consumos.

7. Fique atento aos níveis de vitamina D3 bem como suas fontes. É melhor utilizar fontes mais biodisponíveis, como o 25-OH D3, porém, que não causem intoxicação.

A cria e recria representa um pequeno consumo de ração se comparado ao consumo total de ração da galinha, e com grande efeito no período de produção, portanto, vale a pena oferecer o que há de melhor nessa fase.

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Para maiores informações e referências utilizadas, entrar em contato com Jeffersson.lecznieski@dsm.com.

JEFFERSSON LECZNIESKI é gerente técnico DSM Produtos Nutricionais 

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