Telagem: solução ou problema?

Telagem: solução ou problema?

O que dizer de uma medida que foi criada sem que fossem medidas a viabilidade e as consequências de sua imposição? Com a palavra, Elenita Monteiro.

Com a palavra

outubro 25, 2012

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Sim, sim... Viver é difícil, viver no Brasil talvez seja ainda mais. Digo talvez porque afinal é tão abençoada esta nossa terra, tão agradável nosso clima, tão rico nosso solo, tantas oportunidades pululando em todos os segmentos, tanta gente boa e alegre, que fica difícil falar de sofrimento na terra brasilis. Porém, ah! porém... Por aqui são tantas as improvisações, os sustos, os riscos e os impasses que fica difícil simplesmente gozar a delícia de ser brasileiro e, gostosamente, abraçar suas imensas possibilidades sem medo do amanhã.

Só para ficar num caso muito conhecido por nós que, de alguma forma, estamos trabalhando na avicultura, vejam o exemplo da polêmica Instrução Normativa do Ministério da Agricultura e Abastecimento, publicada em dezembro de 2007 e que exige que a partir de dezembro de 2012 todos os galpões de produção de ovos sejam telados. Ou seja, a IN obriga que todos os aviários sejam cercados por um telamento para evitar que, principalmente pássaros tenham acesso à comida e bebida das pintainhas, frangas e poedeiras, buscando, assim, evitar contágio de patógenos de aves silvestres para aves de criação extensiva. Obviamente o medo maior é da influenza aviária, moléstia que nãos nos acomete mas que devemos vigiar para que permaneça muito distante de nossas fronteiras. 

O telamento dos aviários é medida que assim, de pronto, para um leigo, pode até parecer uma solução, mas é, na prática de quem está em campo, um problema de gerar uma dor de cabeça lancinante. Telar com que tipo de tela? Com que trama de tela? Com que espessura de arame? E como se deve limpar a tela da poeira, penas, restos de ração e fezes? Como retirar, afinal, as fezes do chão dos aviários convencionais cercados? E os pequenos produtores, terão dinheiro para investir? E mesmo quem tem, deve investir num projeto que não sabe ao certo como aplicar porque só lhe foi imposta a medida, mas não lhe foi ensinado como fazer e sequer dado garantias do sucesso da medida?

Essas e tantas outras perguntas estão sendo feitas desde dezembro de 2007 por produtores e técnicos, sem que se ache uma só resposta oficial por parte do Ministério da Agricultura, que é o órgão a impor o telamento. E agora, há pouco menos de 50 dias de entrar em vigor a obrigatoriedade do telamento, surge um respeitado estudo da Embrapa Suínos e Aves, com importante respaldo da cientista Masaio Mizuno Ishizuka, referência inconteste nas pesquisas brasileiras direcionadas à avicultura.

Ficou esclarecido, então, como seria o telamento? Não. Mas ficou claro que cercar com telas de arame os galpões de produção é praticamente inviável para quem tem aviários do tipo californiano, construção que é a mais adequada à criação de poedeiras para nosso clima. São esses galpões que, segundo dados do Censo Agropecuário 2006 do IBGE, estão presentes em mais de 90% das granjas brasileiras.

Ora, esse dado sempre esteve disponível para os estudos do Ministério da Agricultura. Precisamos passar pelo stress de cinco anos de expectativa, susto e risco para que finalmente essa informação fosse levada em conta? Se é que será, pois está todo o segmento na expectativa da apreciação por parte dos técnicos do Mapa que, espera-se, estejam debruçados sobre o relevante estudo da Embrapa Suínos e Aves, que foi entregue em Brasília pelo Instituto Ovos Brasil e Ubabef, entidades representativas da avicultura brasileira (leia os textos sobre o tema no link www.ahoradoovo.com.br/no-mundo-do-ovo/noticias/?id=187|avicultores-propoem-ao-mapa-alternativas-ao-telamento-de-aviarios e no link www.ahoradoovo.com.br/por-dentro-das-granjas/noticias/?id=188|telamento-de-aviarios-no-brasil).

Já muito se falou do Brasil deitado em seu berço esplêndido, qual um gigante adormecido. Eu, pessoalmente, amante de minha terra e de minha cultura, não nos acredito dormentes. Antes, nos vejo bem acordados, porém vacilantes em finalmente lançarmo-nos do berço esplêndido diretamente para o solo profícuo, caminhando firme sobre ele e sem medo do amanhã.

Sabemos que tão gigante quanto somos são os desafios que nos espiam.  As estradas a percorrer são longas e tortuosas. Estamos como que nos alongando – como faz todo atleta - antes de começar a correr pelas estradas da pátria amada, buscando ganhar equilíbrio para não derraparmos nas curvas, vencendo os perigos de ações a nós impostas antes de serem testadas, prontas a se tornarem, ao contrário do que apregoam, problemas e não soluções. 

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