O cálcio e a ave de postura

O cálcio e a ave de postura

O cálcio é essencial na formação e manutenção óssea. E na casca do ovo.

Com a palavra

julho 06, 2012

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Cálcio é essencial para as aves

O cálcio é essencial na formação e manutenção óssea. Quantitativamente, essa é a função mais importante do cálcio, considerando-se que 99% desse elemento está localizado nos ossos. Quando as aves estão em postura, uma parte considerável do cálcio da dieta é utilizada para a formação da casca dos ovos. 

Outras funções do cálcio incluem as participações nos processos de coagulação sanguínea, ativador e estabilizador de enzimas, contração dos músculos, permeabilidade de membranas, excitabilidade neuro- muscular, segundo mensageiro em comunicações intracelulares, determinando o desempenho normal das aves.

A casca dos ovos apresenta em sua composição cerca de 2,30 g de cálcio. A utilização, tanto do cálcio como do fósforo, depende da presença da vitamina D e a deficiência de ambos os minerais resulta em sintomas similares àqueles encontrados na deficiência da Vitamina D. O raquitismo é uma das formas clássicas de debilidade das pernas e os sinais característicos são ossos e bicos moles e flexíveis. Verifica-se em galinhas de postura a presença de nódulos nas costelas na porção que se articula com as vértebras (rosário raquítico). Às vezes, se apresentam com ataxia e claudicação progressiva com tendência de permanecerem agachadas. Lotes com deficiência de cálcio podem apresentar até 50% de mortalidade.

Com o intenso melhoramento genético das galinhas poedeiras nos últimos 20 anos, houve a necessidade de uma adequação das exigências nutricionais dessas aves. Até pouco tempo atrás, as galinhas poedeiras eram descartadas com apenas 62 semanas de idade. Hoje, não raro o descarte ocorre após as 80 semanas e essas aves apresentam uma persistência de pico de postura ao redor de 94%, por mais de 16 semanas. Sem dúvida, para uma produção tão intensa, os níveis nutricionais passaram a ser mais elevados. Com relação ao cálcio, que é o principal macromineral, do ponto de vista quantitativo, as tabelas de recomendações eram de aproximadamente 2,8% a 3,5%. Na atualidade, os nutricionistas não formulam uma ração para as aves, em período de postura, com menos de 3,8% de cálcio, estimando-se um consumo médio diário por ave de 3,8g, o que resulta em uma adição de mais de 9% de calcário na ração. Daí a importância de se avaliar com precisão a percentagem de cálcio e a fonte de calcário que se administra à ração.

É óbvio que todas as rações são formuladas com o calcário calcítico como fonte principal de cálcio, pois o calcário dolomítico é usado apenas na agricultura, em virtude de seu elevado conteúdo de magnésio. Por outro lado, o teor de magnésio em certas fontes de cálcio pode até ser benéfico, uma vez que o magnésio presente nas fontes energéticas e proteicas de origem vegetal  apresentam baixa disponibilidade.

Em trabalho clássico da literatura, os autores Edwards e Nugara, em 1968, estudaram os efeitos de níveis de magnésio na ração de poedeiras comerciais, que variaram de 81 a 900 mg/kg de ração. Surpreendentemente, houve redução na percentagem de postura quando as aves receberam as rações com os menores níveis de magnésio e, por outro lado, os maiores índices de produção e conversão alimentar foram obtidos quando se utilizou as rações com 490 e 900 mg de magnésio por quilograma. Existe ainda um mito de que níveis moderados de magnésio podem resultar em aumento da umidade das excretas, que é uma grande preocupação em granjas cujas aves são criadas em gaiolas. No entanto, um experimento conduzido em nossa Instituição, a Unesp, Campus de Jaboticabal (SP), mostrou que a adição de calcário com 1,2% de magnésio em rações de poedeiras em pico de produção, com um consumo médio de 112mg de magnésio/ave/dia, não afetou os parâmetros de produção; e as menores percentagens de umidade das excretas foram aquelas obtidas pelas aves que se alimentaram com o calcário com maior percentagem de magnésio.

 É de suma importância também que o nutricionista esteja atento à granulometria do calcário, pois o tamanho de sua partícula assume um papel fundamental sobre a qualidade externa dos ovos. O uso de partículas maiores permite a liberação e absorção de cálcio durante todo o processo da formação da casca. Ao utilizar uma fonte de calcário com moagem grosseira, os gastos energéticos com a deposição óssea desse mineral são reduzidos, pois sua maior permanência na moela permitiria melhor fluxo deste mineral para a casca do ovo e economia de energia no metabolismo. As recomendações de tamanho das partículas de calcário são muito variadas, porém, uma recomendação prática é de se usar nas formulações 50% de calcário com 2,0 a 3,0 mm de DGM e o restante, na sua forma em pó, com aproximadamente 0,50 a 0,70 mm de DGM.

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OTTO MACK JUNQUEIRA é graduado em Medicina Veterinária pela Faculdade de Ciências Médicas e Biológicas (1973), mestrado em Zootecnia Concentração em Nutrição Animal pela Universidade Federal de Viçosa (1976) e doutorado em Animal Science - University of Florida (1982). Atualmente é professor titular da Universidade Estadual Paulista Júlio de Mesquita Filho. Tem experiência na área de Zootecnia, com ênfase em Exigências Nutricionais dos Animais, atuando principalmente nos seguintes temas: nutrição e alimentação de frangos de corte, poedeiras comerciais e suínos; determinação das exigências nutricionais e utilização de aminoácidos digestíveis, proteína ideal e aditivos para monogástricos. Foi Membro do Comitê de Assessoramento do CNPq. É membro da Diretoria do Colégio Brasileiro de Nutrição Animal (CBNA). É Assessor Científico da FAPESP desde 1997 e Pesquisador do CNPq Nível 1B.

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