O agro chegou à avenida

O agro chegou à avenida

Mesmo que não tivesse vencido o Carnaval 2013, no Rio de Janeiro, a escola de samba Vila Isabel já teria feito muito pela agricultura brasileira e o homem do campo.

Com a palavra

fevereiro 14, 2013

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Vila Isabel na avenida com a agricultura e o homem do campo

O desenvolvimento industrial, tecnológico e urbano tem norteado a vida das pessoas e as decisões dos governos nos últimos séculos. De fato, a conquista da Lua, novas máquinas, aparelhos, controles-remotos, robôs e a terceira dimensão na TV são fascinantes. Em todo o mundo, por muito tempo, a produção de alimentos e fibras foi ofuscada pelos encantos urbano-tecno-industriais. Era como se a comida e a vestimenta aparecessem como que por mágica, uma dádiva da natureza. “Em se plantando tudo dá”, ou seja, não haveria necessidade de investimento, técnica ou trabalho duro.

O resultado é que a procura pelas profissões ligadas ao agro tem sido declinante em todo o mundo. Foi necessária uma crise do petróleo para que o Brasil descobrisse que o campo poderia fornecer combustível e melhorar a matriz energética do país. Foram necessárias uma crise do petróleo e uma suposta crise ambiental para que o mundo descobrisse isso. Até que foi aventada a possibilidade da energia competir com a comida. Até descobrirem que é necessário muito mais que a natureza para garantir alimentos, matérias primas e energia para o mundo. Até inventarem a dicotomia agricultura x ambiente. Agora, a discussão deve envolver os atores urbanos e rurais.

Enfim, estaria a sociedade urbana voltando a olhar com interesse sua fonte de vida? O sambista da Vila Isabel, escola de samba campeã do carnaval 2013, percebeu que “O galo cantou/Com os passarinhos no esplendor da manhã/Agradeço a Deus por ver o dia raiar/O sino da igrejinha vem anunciar/Preparo o café, Pego a viola, parceira de fé/Caminho da roça e semear o grão/Saciar a fome com a plantação/É a lida...Arar e cultivar o solo/Ver brotar o velho sonho/Alimentar o mundo, bem viver/A emoção vai florescer.”

A Vila Isabel está de parabéns. Seria o retorno ao reconhecimento público desse setor fundamental para o ser humano e essencial para a economia brasileira? Entretanto, mais que o reconhecimento público na avenida, o setor precisa de atenção dos governantes, dos legisladores que, a cada ano, atendendo a interesses mal explicados, vem colocando amarras legislativas e regulamentadoras que atrapalham o desenvolvimento no campo. Por mais que nossos institutos de pesquisa, universidades e empresas invistam no desenvolvimento de tecnologia, é necessária uma legislação atual, em passo com o que ocorre no restante do globo para que possamos competir.

Afinal, é “Preciso investir, conhecer/Progredir, partilhar, proteger...”, como diz o sambista, para que possamos, sempre “Ao som do fole, eu e você/A vila vem colher/Felicidade no amanhecer”.

Obrigado, Vila Isabel. 

Ciro Antonio Rosolem é membro do Conselho Científico para Agricultura Sustentável (CCAS) e professor titular da Faculdade de Ciências Agrícolas da Universidade Estadual Paulista Júlio de Mesquita Filho (FCA/Unesp Botucatu). 

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Ciro Antonio Rosolem Autor

Membro do Conselho Científico para Agricultura Sustentável (CCAS) e professor titular da Faculdade de Ciências Agrícolas da Universidade Estadual Paulista Júlio de Mesquita Filho (FCA/Unesp Botucatu). 

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