Do interior para o interior

Do interior para o interior

E há aqueles que acreditam que só existe vida inteligente nos grandes centros - coisa tão ultrapassada!

Com a palavra

junho 23, 2013

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Será esta a imagem que imaginam do meu escritório no interior? Talvez

Meu pai fará 85 anos em 31 de maio. Pesquiso na internet voos para lá. A ideia é ir num bate-volta, já que estou cheia de trabalho. Graças! Porém, recebo um “traço” em resposta às minhas solicitações. Não há mais companhia aérea que faça a rota de Presidente Prudente (aeroporto mais próximo de Bastos e onde havia um voo da Azul até bem pouco tempo) até Dourados. Sinto na pele – e na alma – a incompetência brasileira em dar suporte a quem precisa viajar do interior para o interior do Brasil. É como se o interior fosse coisa menor e sem importância... Num país que é feito de interior!
Ara, o que é isso? Me diz a caipira que sou.
Se meu pai morasse em Paris, e eu, em São Paulo - mais de 9.300 quilômetros de distância – seria mais fácil ir e apagar as 85 velinhas com ele do que atravessar de avião os 530 quilômetros que separam Bastos (SP) de Dourados (MS).
Nessas horas vejo o quanto é frágil minha condição de brasileira que insiste em morar no interior. A bem da verdade, percebo isso a todo momento. Pelo tom arrogante de algumas pessoas que fazem contato com A Hora do Ovo, minha empresa que insiste (oh, horror!) em estabelecer-se em Bastos, cidade pequena e próspera, mas que está a 560 km de São Paulo, a Oeste.
É como se, necessariamente, eu, Elenita Monteiro, jornalista experimentada com 30 anos de atividade intensa, fosse uma idiota que mal sabe escrever o próprio nome e, apesar dessa condição inferior(!), quisesse o contato com a criatura que insiste no preconceito.
É rotina - eu sei - enfrentar essa dificuldade com algumas pessoas que acreditam que só existe vida inteligente nos grandes centros - coisa tão ultrapassada! Mas nem por isso me conformo. Ainda bem! Nada tenho de menos. Muitas vezes, muito ao contrário. Entendo mais de jornalismo e de avicultura de postura, setor com o qual convivo há 20 anos, do que muitos que têm pós-graduação nessas duas áreas. Estou no contato permanente com a avicultura e o produtor de ovos, o técnico avícola, o funcionário da granja, o médico veterinário e o zootecnista que no dia a dia sujam as botas no campo sagrado das granjas brasileiras. Quer pós-graduação melhor que essa? Não conheço!
Mas sou do interior! Ah... vá!
Dona Dilma, me faz o favor: cuida logo deste país cujo recheio é o interior e exija das companhias aéreas que, ao menos onde há aeroportos (caso de Presidente Prudente e Dourados), existam voos! Gente boa dos grandes e afobados centros urbanos, calma! Vamos cuidar das pontes que nos ligam e obter resultados mais efetivos e eficientes nas trocas de informações.
A Hora do Ovo está de volta com sua circulação mensal. A primeira revista especializada em avicultura de produção de ovos, muito bem estabelecida na Capital do Ovo, interior paulista, está, orgulhosamente de volta todos os meses. É bom, é gostoso, ainda que talvez isso me leve a não estar com meu pai em 31 de maio para lhe dar o abraço apertado e quente que ele merece pelos seus muito bem-vividos 85 anos. Mas aprendi com ele – para o bem e para o mal – que “primeiro a obrigação, minha filha...”
Não sei, não, se o Seu Benevides está certo. Mas saberemos em breve...

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Elenita Monteiro Autor

Jornalista, fundadora e editora da revista A Hora do Ovo. 

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