Biotecnologia para quê?

Biotecnologia para quê?

Em sua análise neste artigo, Ciro Antonio Rosolem, do CCAS, avalia o uso de transgênicos em diversas culturas no país, inclusive o milho.

Com a palavra

junho 19, 2014

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Biotecnologia na agricultura: a importância de entender esse processo

 

A questão dos transgênicos é recorrente. A cada suspiro do clima ou da economia o assunto volta à baila, toma conta da mídia, pulula no YouTube. Já foi dito que é muito fácil desenhar uma espiga de milho com cara de demônio, mas é muito mais difícil explicar, cientificamente, porque a soja, milho, algodão e outros transgênicos são seguros. A explicação é mais técnica, longa e não cabe em um cartaz. Vivemos a era do instantâneo. Vamos então olhar para um outro lado.

Do ponto de vista ambiental, evidências se acumulam mostrando a enorme contribuição dos grãos transgênicos. Recentemente foi divulgado que a biotecnologia evitou o desmatamento, no mundo, de uma área equivalente à do Pará, deixou-se de aplicar, quase 500 milhões de toneladas de defensivos e foi evitado o lançamento de quase 27 milhões de toneladas de CO2 à atmosfera, nos últimos 17 anos. Não é pouco.

O Brasil entrou atrasado neste clube, mas os benefícios são muito significativos, e o crescimento foi rápido. De acordo com a consultoria Céleres, o total da área cultivada com variedades geneticamente modificadas chegou, na safra 2012/2013, a 37,1 milhões de hectares, o que representou um aumento de 14% em relação ao ano anterior. Como a área cultivada estimada pelo IBGE é 67,7 milhões de hectares, os transgênicos responderam por quase 55 % da área cultivada no Brasil. Para esta safra está prevista extensão de lavouras transgênicas a vários pontos do país, principalmente em função do combate à lagarta Helicoverpa armigera, com grande expansão, principalmente, da área de algodão resistente a essa praga.

É certo que as áreas cultivadas com soja e milho são muito maiores que a cultivada com algodão. É certo também que há poucas variedades de soja resistentes a pragas e a tecnologia tende a perder seu efeito na cultura do milho. Mas vale prestar atenção no exemplo do algodão, na atual safra. A estimativa era que o algodão geneticamente modificado chegaria, na safra 2013/2014, a 710 mil hectares, ou 65% da área total destinada ao cultivo da pluma. Na safra anterior, foram 49,4% da área total. Razão invocada para a expansão: a tal da Helicoverpa. Em viagem pelos campos de algodão da Bahia e do Mato Grosso, pude constatar que o uso de cultivares de algodão transgênico resistente à Helicoverpa permitiu a redução das aplicações de inseticidas específicos de 12 para cinco ou menos de dois, dependendo da tecnologia empregada. Segundo os agricultores: sem transgênico não seria possível cultivar algodão. Ambiente melhor com economia. Isso é igual a sustentabilidade.

No entanto, é fundamental aprender a lição deixada pelo milho que vem perdendo tolerância. Só o uso correto da tecnologia, com refúgios e outras recomendações, poderá trazer benefícios no longo prazo. É uma ferramenta preciosa demais para se perder por mau uso. 

CIRO ANTONIO ROSOLEM é professor titular da Faculdade de Ciências Agrícolas da Universidade Estadual Paulista Júlio de Mesquita Filho (FCA/Unesp Botucatu) e membro do Conselho Científico para Agricultura Sustentável, o (CCAS).

 

O CCAS

O Conselho Científico para Agricultura Sustentável, O CCAS, é uma organização da Sociedade Civil, sem fins lucrativos, criada em 2011, em São Paulo (SP), com o objetivo de debater temas relacionados à sustentabilidade da agricultura e se posicionar, de maneira clara, sobre o assunto.

Seus associados profissionais de diferentes formações e áreas de atuação, tanto na área pública quanto privada, que comungam o objetivo de debater a sustentabilidade da agricultura brasileira.

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