A Salmonela sob controle com o uso de probiótico adicional à vacinação

A Salmonela sob controle com o uso de probiótico adicional à vacinação

A tecnologia é apresentada pelo médico veterinário Dino Garcez, da DSM, em seu artigo publicado na revista A Hora do Ovo, edição de maio de 2014.

Com a palavra

junho 09, 2014

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As salmonelas são bactérias gram negativas, intracelulares e pertencem à família das enterobactérias. Existem mais de 2.500 sorotipos conhecidos e distribuídos em animais e humanos. Nas aves, dois sorotipos altamente específicos (S. gallinarum y S.pullorum), produzem as enfermidades (tíficas) conhecidas como o tifo aviário e a pulorose, respectivamente (Soncini R.A, 2011). Por outro lado, vários sorotipos de salmonelas conhecidas como paratíficas (e.g. S. enteritidis, S. typhimurium e S. senftenberg) podem infectar as aves e outras espécies e se instalarem em seus órgãos internos sem provocarem sinais clínicos ou doença. Este grupo de salmonelas frequentemente está relacionado às toxi-infecções alimentares em humanos. 

Situação atual

Nos Estados Unidos, estima-se a ocorrência anual de 142 mil casos de salmoneloses devido ao consumo de ovos contaminados, representando um importante problema de saúde pública (FDA (2012) citado por Barancelli et al.).

Na União Europeia, a salmonelose é a segunda infecção alimentar mais frequente (26,4 por cada 100 mil habitantes) e a principal causa desses surtos está associada ao consumo de ovos e produtos feitos à base de ovos crus (EFSA, 2010 citado por Garcia, A.L.).

Os casos de salmoneloses produzidos em humanos causados por S. enteritidis estão geralmente associados ao consumo de ovos contaminados. Na Espanha (2010), esse sorotipo foi o que apresentou maior prevalência em galinhas poedeiras (27%), segundo Garcia, A.L., 2013.

No Brasil, 42,5% dos surtos alimentares confirmados laboratorialmente de 1999 a 2009 tiveram como agente etiológico bactérias do gênero Salmonella (Ministério da Saúde, 2012, artigo Barancelli et al.). Vale ressaltar aqui o fato de que, geralmente, a causa principal desses surtos está relacionada à contaminação da casca por falhas de higiene e conservação dos ovos visto que a transmissão transovariana da salmonela é relativamente baixa.

Outra via importante de contaminação dos alimentos é a utilização de ovos crus ou mal cozidos e seus derivados.

Prevenção e controle

Devido à complexidade da epidemiologia da salmonela, a prevenção e o controle exigem uma abordagem sistêmica, o que implica em uma série de medidas que envolvem aspectos de biosseguridade, tais como isolamento de outros criatórios de aves e espécies hospedeiras, barreiras sanitárias, boas práticas de produção, boas práticas de fabricação da ração, limpeza e desinfecção das instalações, controle de vetores (principalmente moscas e roedores), uso de vacinas, ácidos orgânicos,  probióticos, entre outros.

Uma nova alternativa surge com a utilização de bacteriófagos para prevenir e até controlar as infecções intestinais causadas por salmonela (Marieto, Gonçalves G.A. et al. 2010; Fiorentin L et al. 2002, citados por Soncini R.A., 2011).

De acordo com a recente regulamentação brasileira (Instrução Normativa SDA - 10, de 11 de abril de 2013), os estabelecimentos de postura comercial com galpões do tipo californiano, clássico ou modificado, devem ser submetidos à vigilância epidemiológica dos seus plantéis para S. enteritidis e S. typhimurium, com colheita de amostras para a realização do testes laboratoriais. Devem manter alojadas somente vacinadas com vacinas vivas para S. enteritidis.

Em um programa vacinal para poedeiras comerciais, tanto as vacinas vivas como as inativadas podem ser empregadas. As vacinas vivas estimulam a produção de imunoglobulinas tipo IgA secretórias e promovem a imunidade celular, mediada pelos linfócitos T CD8, que são importantes na eliminação das salmonelas que se instalam dentro das células. Já as vacinas inativadas estão relacionadas à resposta imune humoral mediada, principalmente, por anticorpos circulantes do grupo IgG. Vale ressaltar aqui que alguns dos sorotipos utilizados nas vacinas vivas podem apresentar respostas cruzadas a outros não homólogos e pertencentes ao mesmo sorogrupo (S. enteritidis e S. gallinarum).

Uso de Probióticos

Uma outra tecnologia que pode ser empregada no controle de salmonela em aves é o uso de probióticos que apresentem efeito de exclusão competitiva sobre as salmonelas. Este efeito já é bastante conhecido pela comunidade científica e foi primeiramente descrito por Nurmi e Rantala ainda em 1973.

A cepa de Enterococcus faecium NCIMB 10415 (Cylactin®) possui a capacidade de reduzir a colonização de diferentes sorotipos de salmonela nos cecos das aves.

Conforme descrito na Tabela 1, quando o mesmo foi utilizado de forma contínua na ração reduziu significativamente a prevalência de salmonela nos cecos dos frangos submetidos a um desafio oral inicial e que foram abatidos com cerca de 30 dias de idade.

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O mecanismo que explica este efeito está ligado à sua alta produção de ácido lático na luz intestinal o que, além de inibir o crescimento das salmonelas, estimula o aumento da população de Lactobacillus spp (flora benéfica).

Outro efeito importante observado por Lourenço et al. é a capacidade do Cylactin® em estimular o sistema imune das aves, aumentando a quantidade de linfócitos T CD4 e CD8 na luz intestinal dos frangos aos 7 dias de idade, o que representa uma barreira primária importante contra agentes patógenos e que pode potencializar o efeito do uso das vacinas vivas.

Considerações finais

A prevalência da salmonela (tanto as tíficas como paratíficas) continua sendo um fator limitante na otimização da rentabilidade na indústria produtora de ovos, os custos com o controle das doenças em geral são muito elevados e a repercussão sobre a mídia e os consumidores também o são, ao mesmo tempo em que as regulamentações brasileiras são cada vez menos tolerantes em relação aos sorotipos potencialmente mais danosos à saúde da população.

Devido à enorme diversidade de sorotipos de salmonela e à sua alta adaptabilidade às diferentes espécies animais, o controle de salmonela nos plantéis comerciais exige uma abordagem sistêmica envolvendo desde itens básicos de biosseguridade como a limpeza, desinfecção, controle de roedores, moscas, ração livre de salmonela etc.

O uso de ferramentas auxiliares, como as vacinas vivas e probióticos de exclusão competitiva, apresenta eficiência comprovada pela comunidade científica e, na prática, devem ser combinadas visando explorar o máximo de suas potencialidades individuais.

DINO GARCEZ é médico veterinário e gerente regional Eubióticos da DSM

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Referências Bibliográficas

Barancelli G.V. et al. Salmonella em ovos. Disponível em: http://www.unicamp.br/nepa/arquivo_san/volume_19_2_2012/19-2_artigo-6.pdf. Acesso em 29/03/2014.

Garcia A.L. Puntos de riesgo em el control de Salmonellas em granjas de puesta. Disponível em: http://www.bioseguridad.net/docs/pdf/salmonella-agustin-leon-nutrofar.pdf. Acesso em 29/03/2014.

Kuritza LN et al. Effects of Enterococcus faecium on Diet in the Dynamics of CD4+ and CD8+ Cell Infiltration in the Intestinal Mucosa of Broilers Challenged with Salmonella Minnesota, International Journal of Poultry Science, 2013.

Lourenço MC. Effect of an Enterococcus faecium - based probiotic on T cell activation and Salmonella Senftenberg control in broilers, Poultry Science 2013, San Diego (CA).

Soncini R. A. Alternativas para reducir riesgos de infección por salmonelas en planteles de aves. Congresso Latinoamericano de Avicultura, Buenos Aires, 2011.

Soncini R et al. Redução da carga de Salmonella enteritidis no papo e ceco de frangos alimentados com ração de retirada contendo Enterococcus Faecium, Apinco, Santos, 2011.

Soncini R et al. - Efeito do Enterococcus faecium na redução da contaminação do trato digestivo de frangos de corte desafiados com Salmonella enteritidis, Apinco, Santos, 2011.

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