Qual a melhor vacina contra a bronquite infecciosa? Pergunte à galinha!

Qual a melhor vacina contra a bronquite infecciosa? Pergunte à galinha!

Como avaliar a proteção das aves de um modo mais amplo e satisfatório ao mercado é o que aponta Paulo Eduardo Brandão neste artigo.

Com a palavra

outubro 24, 2018

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A primeira pergunta que nos ocorre ao pensar em vacinas para BIG (bronquite infecciosa das galinhas) é: quão semelhante a cepa vacinal tem que ser das cepas de campo para dar proteção?

Esta pergunta leva-nos a enfocar a vacinação contra BIG de um modo muito simplista. Não há como garantir a eficiência de uma vacina contra BIG apenas com base em sequências de genes do vírus da BIG por diversas razões: a) a imunidade da galinha não é só dirigida às proteínas externas do vírus, normalmente alvos de estudos filogenéticos, mas também contra proteínas escondidas no interior do virion; b) a proteção contra a BIG não é só por anticorpos, mas também envolve imunidade celular, raramente estudada; c) cepas de vírus da BIG de pouca semelhança com as amostras de campo podem levar à proteção cruzada pelo fenômeno de protectotipo, ou seja, nem toda “nova” cepa de campo precisa de uma nova vacina sob medida se já há cepas vacinais protetoras e seguras.

Como então sair deste ponto de vista simplista e avaliar a proteção em um modo mais amplo e satisfatório ao mercado?

A escolha de cepas vacinais contra BIG deve ser baseada na demonstração de proteção, com estudos de desafio utilizando isolados de campo caracterizados e avaliando-se com ciliostase para proteção respiratória e imuno-histoquímica para proteção renal: este é um ponto fundamental, visto que a BIG não se manifesta apenas como um problema respiratório, mas, sobretudo no Brasil, é uma causa de problemas renais em aves, além de seu envolvimento em processos reprodutivos e entéricos.

É fundamental também avaliar se a cepa vacinal, no caso de vacinas vivas, está atenuada o suficiente para não causar problemas renais, respiratório etc após sua administração. Isto deve ser mesmo observado pelo próprio produtor ou médico veterinário que o auxilia, tanto do ponto de vista clínico quanto em necrópisa: Há lesões renais pós-vacinais? Houve dano respiratório? A formulação vacinal, como, por exemplo, a emulsão de uma vacina inativada, causa reação patológica por ser desuniforme ou de excessiva viscosidade? A segurança de uma cepa vacinal para BIG depende também de seu tempo de uso no mercado mundial, pois uma prolongada vigilância sob diferentes condições de campo e desafio é o que permite uma segura demonstração não só de eficiência, mas também de estabilidade virológica.

Em uma esfera superior, passando pelas características gênicas, imunológicas, protetoras e de atenuação de uma cepa vacinal contra BIG e da formulação vacinal em si, é necessário que se avalie o real impacto positivo ou negativo da vacina selecionada sobre o que de fato importa, que é a produtividade: como a vacina selecionada afeta parâmetros de performance como ganho de peso diário, postura, índice de eficiência e mortalidade, por exemplo? O quanto se ganha ou se perde com este ou aquele esquema vacinal?

Assim, o produtor deve sempre ter estas perguntas preparadas para as empresas de produção de vacinas, que devem ter estas respostas e não hesitar em mostrá-las. Mas ambos, produtores e indústrias de biológicos devem ter consciência de que a resposta está com as galinhas e estas não mentem.

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PAULO EDUARDO BRANDÃO Autor

PhD - Department of Preventive Veterinary Medicine and Animal Health School of Veterinary Medicine, University of São Paulo

tag: Vacina , Bronquite infecciosa da galinha , Paulo Eduardo Brandão , MSD Saúde Animal ,

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