Controle de laringotraqueíte: pontos de atenção na definição de um programa vacinal

Controle de laringotraqueíte: pontos de atenção na definição de um programa vacinal

Jorge Augusto do Amaral Werlich, da MSD Saúde Animal, demonstra neste artigo a importância de escolher a vacina correta para o sucesso no controle da doença.

Com a palavra

abril 08, 2019

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Em dezembro de 2018, por meio do Memorando Circular no 72/2018 do Departamento de Saúde Animal (DSA), houve a liberação para utilização de vacinas recombinantes contra laringotraqueíte em território nacional. Anteriormente, as vacinas recombinantes contra laringotraqueíte tinham seu uso restrito apenas aos bolsões de Bastos (SP), Guatapará (SP) e Terras Altas da Mantiqueira (MG).

Com a emissão desse parecer favorável, muitos produtores que estão fora desses bolsões têm buscado essas ferramentas como medida de controle, cientes da importância de manter seus plantéis de aves em um status controlado da doença.

A laringotraqueíte é uma doença aguda, altamente contagiosa, que infecta aves em qualquer idade, causando problemas respiratórios, perdas produtivas e mortalidade das aves. Os sinais e a severidade da doença variam conforme a estirpe envolvida no surto. O vírus pode permanecer ativo nas instalações e latente nas aves por um período prolongado, por esse motivo, o tempo de resposta e a duração de imunidades conferidas por uma vacina são pontos-chave quando buscamos o controle efetivo da laringotraqueíte.

As vacinas recombinantes contra ILT são desenvolvidas por meio da inserção de genes do vírus em vetores que replicarão nas aves, induzindo uma resposta imune contra as glicoproteínas estruturais do vírus da laringotraqueíte. As vacinas recombinantes disponíveis possuem atualmente apresentação com o vetor HVT (sorotipo 3 do vírus de Marek) e o vetor Pox (vírus da bouba aviária).

E quais são as diferenças entre essas diferentes vacinas?

Vacinas produzidas com vetor Pox são aplicadas na granja por meio da punção na membrana da asa, a partir da 4ª semana de idade até 4 semanas antes do início da produção. Essa janela desde o 1º dia até a 4ª semana é um ponto importante a ser observado. Caso haja desafio precoce, a ave estará desprotegida, podendo desenvolver a doença.

A presença de anticorpos contra o Pox vírus também pode interferir na resposta à vacinação, portanto as aves não podem ter contato com o vírus da bouba aviária antes da aplicação da vacina. Além desses fatores, a aplicação via punção da membrana da asa é um procedimento que pode conter inúmeras falhas operacionais, prejudicando a resposta à vacinação.

Vacinas com vetor HVT são aplicadas no incubatório por via subcutânea no primeiro dia, ou in ovo aos 18 dias de incubação. Os pontos de atenção para as vacinas de vetor HVT são a qualidade de preparo e aplicação bem como a incompatibilidade com outras vacinas HVT.

Devido à praticidade de aplicação e menores riscos de interferências externas, as vacinas recombinantes com vetor HVT tornam-se a opção mais viável quando se busca a eficácia de proteção contra a laringotraqueíte.

A construção da vacina recombinante possui um fator determinante na sua potência de reposta imune. A escolha dos genes e dos locais de sua inserção altera os resultados, mesmo que o vetor seja o mesmo.

Estudos realizados comparando as diferentes vacinas com vetor HVT disponíveis no mercado mostram que existem diferenças entre os produtos.

Trabalhos independentes avaliaram o percentual de proteção contra ILT ao longo da vida das aves, com duas diferentes vacinas (rHVT-ILT) e desafiadas pela via intratraqueal com a cepa USDA-NVSL ILT aos 30, 40 e 60 semanas (Gráfico 01). Nessa avaliação, a vacina rHVT-ILT (i,d) apresentou maior longevidade de proteção.

GRÁFICO 1

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Já outro estudo avaliou o grau de sinais clínicos (Gráfico 02) e a carga viral na traqueia 5 dias após o desafio (Gráfico 03), entre aves vacinadas e desafiadas com a cepa 63140 ILTV. 


GRÁFICO 2

 ARTIGO 2     


GRÁFICO 3

GRAFICO 3  

* Nesse estudo, observamos que há diferenças significativas entre as vacinas quando comparamos a classificação de sinais clínicos e carga viral na traqueia após o desafio. A vacina rHVT-ILT (i,d) demonstra uma menor carga viral em traqueia quando comparada com as demais vacinas avaliadas no estudo. Essa maior eficácia pode ser explicada pelo diferencial do vetor (HVT x Pox) aliado à expressão de duas glicoproteínas do vírus da laringotraqueíte.


As diferentes vacinas recombinantes disponíveis apresentam respostas distintas, tornando a decisão da escolha do programa vacinal algo fundamental para o sucesso no controle da laringotraqueíte.

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Jorge Augusto do Amaral Werlich Autor

Médico-veterinário e gerente técnico da MSD Saúde Animal

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